A Câmara Municipal de Sorocaba votou, nesta quinta-feira, 15, a nova composição da Mesa Diretora da Casa, que, de nova, não tem nada. Para os próximos dois anos, o Legislativo sorocabano será conduzido, em sua maioria, pelos mesmos nomes, ou seja: permanece masculino, conservador e aliado ao prefeito Rodrigo Manga (Republicanos). Mais uma vez, nenhuma mulher e nenhum representante da oposição à frente de algum dos cargos em disputa: presidência, primeiro, segundo e terceiro vice-presidentes e secretários.
Apesar de algumas mudanças de cargos, apenas dois nomes constam nessa nova formação: o vereador Cristiano Passos (Republicanos) e Vinícius Aith (PRTB), ambos da base aliada. Já Cícero João (PSD), que era terceiro vice-presidente e vem fazendo forte oposição ao governo Manga, não se elegeu a nenhum dos cargos aos quais concorreu. Silvano Jr (Repubicanos), que era o terceiro secretário, desistiu do pleito.
Desse modo, a composição da Mesa para os anos de 2023/2024 terá Claudio Sorocaba (PL), reeleito com 15 votos, mais uma vez como presidente e Luís Santos (Republicanos) e Fausto Peres (Podemos), também reeleitos como primeiro e segundo vice-presidentes. Desta vez, o cargo de terceiro vice-presidente é do líder de Governo, João Donizeti (PSDB). O cargo de primeiro secretário segue com o vereador Fábio Simoa (Republicanos); já os segundo e terceiro secretários serão, respectivamente, Cristiano Passos (Republicanos) e Vinicius Aith (PRTB).
Para a presidência, além de Cláudio Sorocaba, concorreram Péricles Régis (Podemos), com dois votos, e Fernanda Garcia (PSOL), com três votos. Conforme prevê o Regimento Interno, a eleição se deu por votação nominal, com cédulas que foram lidas e assinadas pelos vereadores votantes.
Os eleitos assumem suas funções em 1º de janeiro do próximo ano, para o mandato de dois anos. Entre outras atribuições, cabe à Mesa Diretora tomar as providências necessárias à regularidade dos trabalhos legislativos.
Direita x esquerda
Apenas os vereadores Fernanda Garcia (Psol), Iara Bernardi e Francisco França (ambos do PT) votaram, para todos os cargos, em parlamentares da oposição, alternando em candidaturas de seus próprios nomes. Nas justificativas para defender o voto em nomes da oposição, os vereadores se ativeram no recente caso em que a Câmara rejeitou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) solicitada pela oposição, a fim de investigar a compra milionária do prédio da Secretaria da Educação (Sedu) pelo governo Manga. Para eles, essa manobra de blindar o Prefeito justifica a necessidade de uma Câmara independente do Executivo, o que, mais, uma vez, não ocorreu.
“Fizemos o nosso papel, mantendo o nosso compromisso com o projeto de representar a população”, falou Fernanda Garcia sobre a decisão da oposição de não participar da mobilização da maioria na indicação dos votos, e se manter fiel ao propósito de uma Câmara independente. A vereadora aproveitou e pediu ao presidente reeleito compromisso com a população, principalmente não cerceando a voz dos parlamentares e os projetos de fiscalização, como no caso da CPI. “Quando uma CPI é cerceada, a população é cerceada.”
Em determinados momentos da votação, os votantes fizeram referência à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como próximo presidente do Brasil. Vereadores de direita, que contaram com plateia aplaudindo os votos para os nomes apresentados pela base e vaiando as justificativas dos vereadores de oposição, aproveitaram o discurso para refutar o resultado das urnas e incitar a permanência dos atos golpistas. Em resposta, à oposição reiterava a vontade soberana da maioria da população pela mudança na condução do País.
Machismo
Mais do que o fato de não haver representatividade feminina na nova composição da Mesa, a vereadora Fernanda Garcia denunciou, após a votação, uma fala do vereador Vinícius Aith como machista. Ele, que concorria ao cargo de terceiro secretário com a vereadora Iara Bernardi, ao justificar sua candidatura, fez um comentário em que afirmava que a Mesa já contava com a secretária Jurídica para “embelezar”, e não precisaria da Iara em sua composição.
A fala do vereador bolsonarista passou despercebida em meio à votação. No entanto, após receber um áudio e tomar conhecimento do conteúdo do comentário, a vereadora Fernanda Garcia usou seu tempo para repudiar a postura do vereador. “Estou indignada! Nós representamos a população, não estamos aqui para embelezar a Câmara”, falou, pontuando como inadmissível que um vereador eleito não respeite as vereadoras eleitas, tampouco a funcionária que, do mesmo modo, não estava ali para embelezar o ambiente, mas para exercer sua função.
“É ridícula essa posição, desqualifica!. Ele (Aith) não aprendeu, ainda, qual a função dele aqui nessa Casa. Fomos eleitas e estamos aqui para representar a população e não para embelezar. Essa é uma posição machista e tem que ser combatida”, cobrou. De acordo com a vereadora, é extremamente importante que, diante de fatos como esses, o presidente e colegas tenham uma postura digna e sejam capazes de alguma reação.
Com a ausência do presidente eleito na hora da fala de Fernanda, o presidente em exercício, Péricles Régis, foi o único a manifestar apoio às vereadoras. Já os demais presentes ignoraram o repúdio da parlamentar. “Essa não é a postura dessa Casa de Leis, e peço desculpas em nome da Casa”, falou Péricles.