O atendimento da UPH Zona Norte entrou em colapso nesta segunda (20), três meses depois de o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) contratar, sem licitação, uma nova empresa terceirizada para administrar a unidade pré-hospitalar. Na ocasião, Manga gravou um vídeo prometendo melhorias imediatas no atendimento e na estrutura. “Vocês vão sentir a diferença desta unidade a partir deste final de semana”, garantiu Manga, no vídeo divulgado em 21 de dezembro em suas redes sociais.
Nesta segunda, o prefeito voltou para a UPH Zona Norte e encontrou a unidade “superlotada”, nas palavras dele próprio. “Já verifiquei aqui, está sem ventilador, água faltando… Mandei vir mais médico, o quadro está completo, mas não é suficiente pra atender a população”, constatou o prefeito, ressaltando que a unidade é terceirizada e o pagamento da Prefeitura com a empresa está em dia. “O sorocabano merece um atendimento digno”, discursou para a multidão de pacientes que aguardavam por atendimento.
Desde fevereiro, o Portal Porque vem apurando as deficiências daquela unidade. No mês passado, a reportagem visitou a UPH Zona Norte e constatou uma série de problemas, como a falta de medicamentos para população e atraso nos salários dos funcionários. “Quase entramos em greve, atrasaram em um mês o nosso salários, a Prefeitura veio e negociou o pagamento, mas existem outros problemas. A estrutura é horrível, nós dormimos no mofo, se você olhar para os médicos, todos apresentam quadro gripal, não por gripe e sim pelo fungo dos colchões em que dormimos na nossa hora de descanso, está tudo mofado”, disse uma médica para a reportagem, no dia 11 de fevereiro.
Uma técnica de enfermagem que também preferiu não se identificar denunciou que os salários da categoria foram baixados em cerca de R$ 600, o que, para ela, causou estranheza e indignação. “A empresa nova é tão ruim que esses dias não tinham agulha, não tinha algodão, não tinha o mínimo para dar dignidade ao paciente, chegou a faltar medicamentos para pressão, um erro terrível”, disse a técnica.
A reportagem do Porque apurou com o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de Sorocaba que os problemas salariais foram resolvidos no mês passado. O atendimento à população, no entanto, só piorou de lá para cá.
Sem transparência
No início do mês passado, a Prefeitura de Sorocaba suspendeu, pela quarta vez, a licitação para contratar a empresa responsável pela administração da unidade pré-hospitalar da zona norte. No final do ano, a Prefeitura já havia contratado em caráter emergencial, sem licitação, uma empresa para fazer a administração da UPH por quase R$ 18 milhões, por seis meses, valor 10% mais caro que o contrato com a empresa anterior.
O Portal Porque apurou que as sucessivas suspensões dos editais encontraram resistência dos servidores que trabalham no setor de licitação. Segundo relatos ouvidos pela reportagem, as licitações estavam regulares e as justificativas não convenceram os servidores.
A contratação emergencial do Instituto Avante Social, de Belo Horizonte, foi feita no dia 22 de dezembro, três dias depois da terceira derrubada do edital. No entanto, o Porque sabe que o Avante seria contratado desde o dia 7 de dezembro, quando recebeu a informação de um dos integrantes do Conselho Municipal da Saúde. O valor do contrato é de R$ 17.993.341,50, por seis meses.
Fake news
Embora a contratação tenha sido feita em caráter emergencial para que os serviços da unidade de saúde não fossem paralisados, o prefeito Rodrigo Manga publicou um vídeo no dia 21 de dezembro, em suas redes sociais, para enaltecer a nova empresa que assumia a UPH Zona Norte.
Segundo Manga, o atendimento à população, com o Instituto Avante, iria melhorar muito, já nos próximos dias. Manga também deu entrevistas para a imprensa enaltecendo a mudança de gestão, que foi tema até de uma matéria divulgada pela Prefeitura no dia 23 de dezembro, com o título: “Sob nova gestão, UPH Zona Norte recebe ampliação do atendimento e revitalização”.
No texto, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura afirma que “após o encerramento do contrato com a instituição anterior, uma ampla e minuciosa pesquisa de mercado foi realizada e a entidade contratada que passa a assumir a unidade é o Instituto Avante Social”. A nota também veicula um comentário do prefeito Rodrigo Manga: “Estamos acompanhando de perto essa mudança de modelo de gestão, para que a população possa ter um atendimento melhor, mais ágil e humanizado, garantido o respeito que todo sorocabano merece.”
Três meses depois, a realidade se impôs e o atendimento na UPH Zona Norte entrou em colapso. Desde janeiro, o Porque questiona a Secretaria de Comunicação da Prefeitura sobre o contrato com o Instituto Avante, mas não obtém respostas.
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