
Na próxima sessão, as vereadoras devem ler o documento protocolado pelo movimento negro contra a violência autorizada pelo Estado. Foto: Paulo Andrade/Portal Porque
Lideranças da União de Negros pela Igualdade (Unegro) de Sorocaba estiveram na Câmara Municipal, nesta quinta, 24, para protocolar um manifesto contra o assassinato de pessoas pretas e periféricas. O ato faz parte de uma ação nacional, realizada simultaneamente pelo movimento negro em todo o pais, para exigir o fim da violência racial.
Em Sorocaba, o ato ocorre um dia depois de o Portal Porque divulgar que a Corregedoria do Ministério Público abriu sindicância para apurar a conduta do promotor no julgamento que culminou na absolvição do policial militar Romulo Corrêa, acusado de assassinar o radialista Milton Expedito do Nascimento, o Dinho (leia mais). A decisão da Corregedoria atende um pedido da Unegro, que trata, no manifesto entregue à Câmara, principalmente dos assassinatos de negros promovidos pela Polícia Militar.
O manifesto ganhou apoio das vereadoras Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (Psol), que acompanharam o protocolo e se comprometeram a ler o texto na próxima sessão da Câmara, na terça, 29.
O título do manifesto é “Pelo Fim da Violência Policial e de Estado – Nossas Crianças e o Povo Negro Querem Viver”. Ele é assinado por dezenas de entidades de todo o Brasil. Em Sorocaba, o presidente da Unegro é Jorge Henrique Sant’Ana, que foi à Câmara acompanhado de outros dois jovens integrantes do movimento.
O documento recebeu a assinatura do setor de protocolo da Casa e deve entrar em pauta na Câmara na próxima semana. As vereadoras Iara e Fernanda se comprometeram, ainda, a conversar com o presidente da Câmara, Cláudio do Sorocaba (PL), para que o movimento possa se manifestar na tribuna do Legislativo.
“Enfrentar o racismo e as diversas violências e desigualdades decorrentes dele não é uma tarefa exclusiva da população negra. É responsabilidade de toda a sociedade brasileira. Dentro das consequências do racismo, a face mais perversa se expressa nas políticas de segurança pública, que elegem o corpo negro como inimigo e alvo. E isso estimula outras em todas as dimensões da vida”, diz um trecho do manifesto.
Estatísticas
De acordo com estatísticas levantadas pelo movimento, a polícia mata uma pessoa negra a cada quatro horas em pelo menos seis estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Piauí, Bahia e Ceará. Entre 2017 e 2019, as polícias brasileiras mataram 2.215 crianças e adolescentes negros, incluindo bebês.
Segundo Jorge Sant’Ana, da Unegro Sorocaba, um dos casos emblemáticos de crime racial da polícia, seguido de impunidade do autor, foi o caso da morte o radialista e motorista Milton Expedito do Nascimento, o Dinho, morto em dezembro de 2018 pelo policial Rômulo Corrêa, que foi absolvido em júri popular de maioria branca em março deste ano.
A pedido da Unegro, a Corregedoria do Ministério Público abriu, esta semana, sindicância para apurar a conduta do promotor no julgamento que absolveu o policial Romulo Corrêa, que matou o radialista Milton sem motivo comprovado.
Jorge Sant’Ana vai manter contato com as vereadoras Fernanda e Iara para agendar uma data em que o movimento possa ir a uma sessão da Câmara manifestar seu pedido de fim do racismo, da violência sob omissão ou ordens de autoridades brasileiras.
Políticas públicas
Além de divulgar o movimento, “a gente quer promover ações que possam combater esse tipo de violência; o que é uma luta nossa já faz tempo. Hoje um pessoal do movimento está reunido com o Ministro da Justiça, Flávio Dino, para falar sobre o mesmo assunto. E esse debate está acontecendo em diversos estados e municípios. Sorocaba não pode ficar de fora”, disse o líder local da Unegro ao protocolar o documento.
“Sorocaba não vai ficar de fora e nem pode ficar de fora. Temos ocorrências policiais desse tipo de violência principalmente na periferia. Esse é um problema nacional, infelizmente e vocês podem contar com nosso apoio”, afirmou a vereadora Iara ao Jorge.
Iara Bernardi é presidente da Comissão dos Direitos da Comunidade Negra e Promoção da Igualdade Racial na Câmara Municipal e Fernanda Garcia (Psol) é membro, junto com Fausto Peres (Podemos).

Membros do Unegro, juntos com as vereadoras Iara Bernardi e Fernanda Garcia, logo após o protocolo do documento. Foto: Paulo Andrade/Porque