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Uma história (quase esquecida) sobre o massacre do Carandiru

José Antônio Rosa*

Corredores banhados de sangue do presídio do Carandiru, após a invasão policial que deixou 111 mortos. Foto: reprodução

Fleury, o ex-governador de São Paulo, nasceu em São José do Rio Preto, mas se radicou em Sorocaba junto com a família.

Seus pais moravam no Jardim dos Estados, próximo à rua Abraham Lincoln, ou nesta mesmo. Foi lá que em 1992 estivemos enquanto repórter para acompanhar a visita à cidade do então governador.

Ele foi recebido e acompanhado pelo ex-prefeito Paulo Mendes. Até hoje me pergunto como exatamente a imprensa local foi autorizada a entrar no imóvel dos pais de Fleury e por lá circular livremente. A tal ponto que o fotógrafo Aldo Ikenaga, com quem cumpri a pauta, encontrou o álbum de fotos de Fleury ainda recém nascido.

E folheando as páginas deparou-se com a foto do bebê Luiz Antônio que, abaixo, tinha como legenda: “a primeira palavra dita pelo bebê: angu”.

Aldo fez um esforço para não cair na gargalhada, mas se conteve.

Não demora muito, e o telefone toca. Fleury logo corre para atender. Estávamos a poucos metros e, mesmo não pretendendo ouvir conversa alheia, foi difícil ficar indiferente.

Do outro lado da linha, o então secretário de Segurança Pública do Estado, Pedro Franco de Campos, transmitia notícias sobre a rebelião no complexo do Carandiru.

Fleury, expressão grave, sentenciou: “Podem invadir, então”. E desligou.

Partiu dali, portanto, a ordem que as forças policiais de então aguardavam. O saldo dessa investida todos conhecem. Fleury voltou à Capital sem falar com a imprensa, exceto sobre assuntos de outra ordem. A bem dizer, praticamente ninguém que ali estava estabeleceu relação entre o telefonema e a insurgencia no Carandiru.

O episódio, visita/ordem para entrada da tropa no Carandiru, caiu no esquecimento. Virou história para ser contada.

*José Antônio Rosa é jornalista e advogado.

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