O programa Bolsa Trabalho, uma parceria entre município e governo do Estado, segue atrasando pagamentos das pessoas contratadas, apresentando problemas na comunicação, além de irregularidades como o cancelamento dos contratos, mesmo sem permissão do empregado. No início de junho, o PORQUE já havia denunciado a situação de quatros trabalhadoras, que estavam com salários atrasados. Passados dois meses e, em vias de iniciar uma nova turma do programa, agora em agosto, as reclamações sobre atrasos nos pagamentos continuam, e algumas trabalhadoras ouvidas desistiram de prosseguir no programa.
Todas as entrevistadas terão suas identidades preservadas para evitar retaliações. “Recebi abril e maio, mas junho e julho não recebi. Entrei em contato novamente por e-mail, enviei o formulário que eles pediram e mais uma documentação, mas até agora não obtive resposta desses meses devidos”, reclamou uma trabalhadora, que já teve problemas com pagamentos em meses anteriores. De acordo com ela, o seu contrato (01/2022), se encerra agora em agosto, como o das demais contratadas, porém, ela não deve prosseguir no programa. “Não compensa”.
Outra entrevistada, que recebeu julho, mas está apreensiva com o pagamento deste mês, também disse que não pretende continuar no programa, pois está passando mais raiva do que alegria com tudo o que envolve o trabalho, desde os atrasos, até as dificuldades que tem encontrado para ter informações ou solucionar problemas.

CANCELAMENTOS NÃO AUTORIZADOS
As reclamações são muitas, entre elas, uma manobra bastante questionável, que é de cancelar os contratos dos profissionais cuja vigência iria até este mês. As denúncias apontam que, mesmo sem a solicitação das trabalhadoras, os responsáveis pelo processo de contratação estariam cancelando os contratos, a fim de que elas pudessem concorrer nesta nova edição do programa. No entanto, além da falta de permissão, o medo dessas trabalhadoras é que o cancelamento implique no não pagamento agora em agosto do mês anterior trabalhado, além do ressarcimento dos atrasados.
Uma das denunciantes contou que vinha recebendo todo o dia 20, no entanto, ao conversar com uma das pessoas responsáveis pelos trâmites de contratação na Uniten, ouviu que havia vagas para essa nova edição, e que se ela quisesse participar era só cancelar o contrato vigente para concorrer a mais uma edição do programa, sem que isso acarretasse algum tipo de problema. Depois de ir ao banco e conferir que o pagamento do mês não tinha caído na conta, retornou ao local e ouviu que, o cancelamento implicaria no não pagamento de agosto (que paga julho), e que iria receber apenas em setembro, já como integrante da nova edição do programa. Ao saber disso e constatar o não recebimento do salário, ligou para os responsáveis do programa local e questionou se haviam cancelado. “Disseram que cancelaram o de todo mundo, para incluir as pessoas de novo, perguntei: vocês fazem o que dá na telha? Como cancelam se eu estava trabalhando? Quem vai pagar esses dois esses para mim? Estou sem dinheiro”, questionou ela, afirmando que conhece mais quatro pessoas que estão em situação similar a dela e que, provavelmente, devem ter tido o contrato cancelado e por isso não receberam o mês trabalhado.
Ela inda contou que ouviu de uma das responsáveis locais do programa, que as ligações de trabalhadores com reclamações sobre os atrasos dos pagamentos estão aumentando a cada dia mais. “O problema é que eles cancelaram nosso contrato para poder incluir a gente no projeto de novo, mas muita gente não autorizou esse cancelamento. Isso é errado”, apontou.
O PORQUE entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, questionando se as denúncias procedem e por quais motivos, mas até o fechamento desta edição não havia resposta.