
Evento é considerado o maior festival de música eletrônica do mundo e foi realizado em Itu; Prefeitura diz que festa movimentou R$ 700 milhões. Foto: Divulgação
Falta de pagamento, vale-transporte, horas trabalhadas a mais e problemas com a alimentação. Essas são algumas denúncias recebidas pelo Portal Porque de inúmeras pessoas que prestaram serviços no festival de música eletrônica Tomorrowland Brasil. O evento foi realizado, de 12 e 14 de outubro, em Itu.
As vagas foram anunciadas pela Prefeitura de Itu e o contrato dos trabalhadores para o serviço de limpeza do festival foi fechado com a 5 Zero, empresa que se apresenta como especializada na limpeza de grandes eventos, subsolos e fachadas.
Sem pagamento
Os relatos feitos ao Porque apontam que o pagamento estava previsto para ser efetuado até esta quarta-feira (25). No entanto, isso não ocorreu e não há resposta da empresa sobre a situação.
Um denunciante, inclusive, conta que, além de não ter recebido, teve de pagar o vale-transporte do próprio bolso. “Pagaram o passe somente uma semana, depois sumiram. Falaram que iam ressarcir no dia do pagamento final, mas isso não aconteceu, não teve esse retorno.”
Outro reclamante acrescenta que há algumas pessoas recebendo menos do que o acordado no contrato. “Está uma bagunça esses pagamentos. Estão descontando coisas que sequer haviam dito que iam descontar. Eu sou um dos que teve os descontos”, diz.
Muito trabalho
Ainda de acordo com os denunciantes, o contrato previa 12 horas diárias de trabalho e uma hora de descanso. No entanto, além de trabalhar horas a mais, o período para descansar não era respeitado. “Só que a gente não conseguiu tirar essa uma hora de janta porque já mandavam fazer outras coisas”, revela uma trabalhadora.
Ela completa que se machucou no evento e, ainda assim, teve de continuar trabalhando. “Eu machuquei o meu pé e continuei. Teve uma hora que tive de me sentar para descansar porque não estava aguentando de dor. No fim, fui demitida antes do término do evento e não recebi os dias trabalhados.”
Pouca comida
As pessoas que entraram em contato com o Porque também reclamaram sobre a alimentação. Um dos trabalhadores explica que a comida servida aos prestadores de serviço estava sem sal e também com a mistura crua.
Outro trabalhador revela ainda que o lanche oferecido pela empresa era apenas uma bolacha e um suco. “Como se isso enchesse a barriga.”
Além disso, havia dificuldade para ter acesso à alimentação. “Estava mal organizado mesmo. Tive de correr atrás da marmita.” Por outro lado, teve gente que nem mesmo conseguiu comer. “Foi prometido um lanche também e não ganhamos nada.”
Os trabalhadores reclamantes estão se organizando para buscar meios de conseguir receber o pagamento pelos serviços prestados.
Prefeitura tira o corpo fora
O Porque questionou a Prefeitura de Itu, a empresa 5 Zero e a organização do evento. Os dois últimos não deram retorno até a publicação desta matéria que pode ser atualizada se as partes resolverem se manifestar.
Já uma publicação de 22 de agosto do G1 Sorocaba aponta que o Festival Tomorrowland Brasil estava com 436 vagas de emprego abertas e que o processo seletivo seria realizado no PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador), administrado pela Prefeitura de Itu. A ação é descrita como uma parceria entre o Poder Público e a organização do evento.
A reportagem destaca ainda que, “a iniciativa faz parte de um projeto de longo prazo, envolvendo a colaboração entre as autoridades locais e a organização do Tomorrowland Brasil, e prevê uma série de ações, entre elas, fomentar a criação de vagas no mercado de trabalho da região”.
Em resposta ao Porque, a Prefeitura de Itu confirma que o processo seletivo foi realizado no PAT, mas tentou se isentar da responsabilidade pelas denúncias. No e-mail enviado, a assessoria diz que “a parceria da Prefeitura, por meio do PAT, se limita à divulgação das vagas, sendo a responsabilidade das mesmas de total caráter dos empregadores”.
No site oficial, a Prefeitura de Itu celebra o festival, descrito como maior evento de música eletrônica do mundo, e aponta que mais de R$ 700 milhões foram injetados na economia local com sua realização, desde “hospedagens, mobilidade, locomoção, alimentação e empregabilidade”.
A publicação nos canais oficiais de Itu também destaca uma fala do prefeito Guilherme Gazolla, que aponta para o legado festival. “Além de sua grandiosidade como evento, a importância do Tomorrowland reflete em ações voltadas à cidade e à comunidade local. Temos orgulho em recepcionar este evento de visibilidade mundial em Itu, uma cidade historicamente turística”, destaca.