A Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe e Sarampo terminou oficialmente na sexta-feira, 24, com baixa adesão em Sorocaba e Votorantim. Ambas as cidades não atingiram nem a metade da população que deveria receber o imunizante contra o sarampo (cuja vacina também protege contra caxumba e rubéola). Sorocaba vacinou 36%, enquanto Votorantim chegou a 40% da população que deveria receber a vacina contra o sarampo – no caso, as crianças.
Este ano, a campanha se concentrou em crianças de seis meses a cinco anos incompletos, além de profissionais da Saúde. Conforme os números divulgados pelas prefeituras, 14.210 mil doses contra o sarampo foram aplicadas durante a campanha em Sorocaba; já em Votorantim, o total foi de 3.050 mil doses.
Para o médico Eduardo Vieira, presidente do Sindicato dos Médicos de Sorocaba e Região (Simesul) e da Sociedade Médica de Sorocaba, caso a situação de baixa imunização permaneça, não se pode descartar o risco de surtos de sarampo, que vitimou muitos brasileiros entre as décadas de 1970 e 1980.

Sorocaba vacinou 36%, enquanto Votorantim chegou a 40% da população que deveria receber a vacina contra o sarampo – no caso, as crianças. (Foto: banco de imagens)
Além dos baixos números da imunização contra sarampo, a vacinação contra a gripe também não atingiu toda a população estimada. Em Sorocaba, foram vacinadas até agora 132.540 pessoas, o que corresponde a 55,3% da meta; Votorantim imunizou um total de 24.146 pessoas, chegando a 57% do público estimado.
Embora a campanha tenha terminado oficialmente, segundo o Ministério da Saúde, a vacinação contra o sarampo prossegue durante todo o ano.
DESINFORMAÇÃO E ‘FAKE NEWS’
As mortes na pandemia, em decorrência da falta de imunizante contra a covid-19, levaram o mundo a uma corrida atrás das vacinas para conter os efeitos do vírus; no entanto, em meio a esse cenário que, no Brasil se tornou um imbróglio no campo da politicagem, muitas foram as informações falsas e de negação à ciência, em uma luta para encampar a falta de interesse e apatia do governo brasileiro na compra dos imunizantes.
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizava a letalidade do vírus, comparando-o a uma “gripezinha” e não negociava a compra das vacinas, optando por estimular o uso de um “kit-covid” sem eficácia comprovada pelas entidades médicas, milhares de brasileiros perdiam a luta para a covid-19.
Apesar de todo esse cenário, o legado das fake news em torno da eficácia dos imunizantes ainda tem reflexos no comportamento dos brasileiros, mesmo para casos cientificamente comprovados ao longo de várias décadas de uso da vacina, como ocorre com o sarampo.
O médico Eduardo Vieira não descarta a possibilidade de um surto de sarampo, ou mesmo a necessidade de vacinação em adultos, por conta de maior número de pessoas suscetíveis à doença. Para ele, a falta de campanhas e comunicação mais ativa sobre a necessidade da imunização, como ocorria em décadas passadas, também contribui para esse déficit na imunização.
“Está havendo menos campanhas de conscientização sobre a importância das vacinações, especialmente após a covid-19. Aquelas antigas campanhas, como a do Zé Gotinha, acabaram desaparecendo do noticiário. Muitas famílias, e especialmente as pessoas mais jovens, não se lembram dessas campanhas, por isso é importante uma comunicação mais ativa. Também as fake news sobre a vacina contra a covid-19 acabaram atingindo outras vacinas. Isso sem contar as teorias de conspiração que surgiram”, pontua o médico, lembrando de falsas informações divulgadas pelas redes sociais, como a de que seria implantado um chip em quem tomasse a vacina contra a covid, ou mesmo que surgiria alguma anomalia na pessoa imunizada.
“Nós, com médicos, temos a obrigação de defender a instituição que é a vacinação. As vacinas já salvaram milhões de vidas. Nenhuma ação foi tão eficaz na prevenção de doenças na humanidade, de forma verificável, como a vacinação”, defendeu.
SARAMPO
De acordo com informações da Fundação Oswaldo Cruz, o sarampo é uma doença infecciosa aguda, viral, transmissível, extremamente contagiosa e muito comum na infância. Os sintomas iniciais apresentados pelo doente são: febre acompanhada de tosse persistente, irritação ocular e corrimento do nariz. Após estes sintomas, geralmente há o aparecimento de manchas avermelhadas no rosto, que progridem em direção aos pés. A doença também pode causar infecção nos ouvidos, pneumonia, ataques (convulsões e olhar fixo), lesão cerebral e morte. O vírus atinge, mais gravemente, os desnutridos, os recém-nascidos, as gestantes e as pessoas portadoras de imunodeficiências.
O vírus é facilmente transmitido de pessoa a pessoa, geralmente por tosse, espirros, fala ou respiração. Daí a facilidade de contágio, e a única forma de prevenção é a vacinação. Embora mais rara, a doença ainda é diagnosticada de tempos em tempos.
Conforme o Boletim Epidemiológico número 3 – volume 53, de janeiro de 2022, publicado pelo Ministério da Saúde, o Brasil já chegou a zerar os casos de sarampo, mas o vírus hoje está ativo. “Após os últimos casos da doença no ano de 2015, o Brasil recebeu em 2016 a certificação da eliminação do vírus. Consequentemente, nos anos de 2016 e 2017 não foram confirmados casos de sarampo no País. Em 2018 foram confirmados 10.346 casos da doença. No ano de 2019, após um ano de franca circulação do vírus, o Brasil perdeu a certificação de ‘país livre do vírus do sarampo’, dando início a novos surtos, com a confirmação de 20.901 casos da doença. Em 2020 foram confirmados 8.448 casos e em 2021, até a Semana Epidemiológica (SE) 52, 668 casos de sarampo foram confirmados.”