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Show de preconceito do vereador Luis Santos com favelas repercute em todo o país

Fábio Jammal Makhoul (Portal Porque)

O discurso preconceituoso do vereador Luis Santos (Republicanos) contra os moradores das periferias e sua ação para impedir a criação do Dia da Favela em Sorocaba repercutiram em todo o país nesta quarta, 19. No dia anterior, o vereador, que também é pastor evangélico, apresentou um verdadeiro show de preconceitos no plenário da Câmara ao atacar o projeto da vereadora Iara Bernardi (PT), que acabou saindo da pauta por causa de uma emenda apresentada por Santos (leia mais). O vereador chegou a pedir para os colegas esquecerem as favelas e até ironizou, sugerindo que a vereadora troque o nome da data proposta por “Dia do Muquifo”.

O fundador da Central Única das Favelas (Cufa), maior organização não governamental focada nas favelas do Brasil e presente em mais de 17 países, Celso Athayde, classificou a ação do vereador Luis Santos de “truculenta” e, nas suas redes sociais, deu um puxão de orelha no pastor: “Seja um cristão que respeita as pessoas, por favor.” O fundador da Cufa ressaltou que faz trinta anos que luta para viver em um país sem favelas. “Porém, pior do que a existência das favelas nas cidades é o negacionismo. É negar que elas existem. É escondê-las. O dia 4 de novembro (Dia Nacional da Favela) não é para festejar a existência das favelas, é para refletir e ratificar sua resiliência, sua potência, sua força de trabalho e sua persistência em continuar vivendo apesar desse racismo e desse ódio contra seus moradores”, destacou.

Celso Athayde explicou que o Dia da Favela serve para mostrar aos prefeitos que as favelas existem em suas cidades e que precisam de soluções urgentes para que não se multipliquem. “Ninguém quer mais favelas, principalmente os favelados. Mas enquanto elas existem temos que levar alento para essas pessoas. A maneira mais eficaz de multiplicar um problema é negar sua existência”, avaliou o fundador da Cufa, convocando “todos os favelados da cidade para se apresentarem pacificamente na Câmara de Sorocaba no dia 4 de novembro, para que o vereador e seus colegas saibam que essas pessoas existem”.

Segundo a presidente da Cufa Sorocaba, Drika Martim, a repercussão do que ela classificou como “show de horrores” do vereador Luis Santos foi muito grande em todas as unidades da Cufa no Brasil e no exterior. “Foi uma repercussão internacional. Infelizmente, sofremos uma ampla ausência de letramento no Brasil, o que nos leva a eleger representantes incapazes de compreender e se sensibilizar com as pautas sociais. Esse debate é tão antigo que nem caberia mais nos anos 2000, mas há uma galera que estacionou. A favela não é carência e é lá onde micros e macros revoluções acontecem e garantem a sobrevivência da base da pirâmide desse país, em condições tão desiguais”, disse Drika.

Nas redes sociais, o cantor, compositor e vocalista do grupo Funk n’Lata, Ivo Meirelles, também comentou o episódio: “Que Sorocaba não se esqueça do nome desse vereador, para que nas próximas eleições possam mandá-lo de volta pra casa.” Ivo Meirelles foi presidente da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, bairro que foi uma das primeiras favelas do Brasil.

Outra famosa que comentou o caso foi Nega Gizza, rapper, ativista social, locutora, produtora cultural e apresentadora de TV e de eventos. “Sabemos que pra alguns é melhor não falar na favela, pra justamente não atender as pessoas que são de lá, pra deixar todos escondidos. Sabemos que estamos ao caminho do progresso humano dos moradores de favelas, pra vir conhecimentos, educação, dinheiro, cultura e muitos outros benefícios que ainda faltam e estão longe de se realizar.”

O vídeo em que o vereador Luis Santos destila ódio ao falar das favelas também viralizou nas redes sociais. Quem não conhece o pastor e o vê no vídeo, dificilmente associa Luis Santos a uma pessoa cristã.

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