A maioria dos pacientes que procurou a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Éden nesta quinta-feira (1º) voltou para casa sem receber qualquer cuidado. Os médicos estavam atendendo apenas casos de emergência, como forma de protestar contra a falta de pagamento de salários pela gestora terceirizada da Prefeitura nessa unidade de saúde, a INCS. No final da tarde, representantes da empresa e do governo municipal se reuniram para discutir a crise.
O protesto de médicos, chamado de operação tartaruga, começou de manhã. Eles estariam sem receber salários há três meses, segundo apurou o Portal Porque, que esteve na UPA do Éden por volta de 16h para falar com pacientes, funcionários, responsáveis pela INCS e Prefeitura.
“A gente veio aqui umas 11h [mais 4h30 de espera] e estou com três crianças, dois netos e minha filha. Ela, a criança, está com garganta inflamada, com febre, está com o olho cheio [de secreção], o ouvido está infeccionado. Eles demoraram horas para explicar o atraso. E não quiseram passar por médico, disseram que era só pulseira vermelha e amarela [para] casos graves. Mas achei estranho porque tinha aqui várias pessoas em estado grave, pessoas com picada de carrapato, e eles colocaram só pulseiras azul e verde” [que não estavam sendo atendidas devido ao protesto], contou Joselaine V. de Souza Frioli à reportagem.
Outra paciente, Michele Miranda Golçalves, relatou: “Cheguei aqui meio-dia com meu filho porque ele não dormiu à noite queimando em febre, peito cheio e não quis mamar. Passei na recepção da UPA, passei pela triagem, colocaram uma pulseirinha, e mandaram aguardar ser atendida. Agora [por volta das 16h40] o médico disse que ele não vai ser atendido porque já faz três meses que eles estão sem pagamento. Agora vou ter que ir embora sem meu filho ser atendido.”
“Morrendo de dor”
Outra paciente afirmou ao Porque: “Eu estou morrendo de dor, de lado [na altura da cintura]. Fui na avenida Ipanema e disseram que não tinha médico e só podiam me dar uma dipirona. Esse remédio eu já tomei, estou com dor desde domingo. Aí vim para o Éden porque disseram que aqui a UPA era top. Aí fiquei três horas esperando, passei pela triagem e aí disseram que os médicos não estavam atendendo porque estão há três meses sem pagamento”, disse Hosana Oliveira.
A moradora prosseguiu: “Quando cheguei aqui tava cheio de gente, tinha crianças com febre, pessoas com dor, mas só atendiam quem tinha pulseira vermelha (emergência).” Quando a reportagem foi ao local, às 16h, a sala de espera ainda estava cheia. Um quarto paciente, que não quis se identificar, afirmou que horas antes o local estava ainda mais cheio, pois muita gente foi embora sem ser atendida.
O Porque tentou falar com uma representante da empresa INCS, mas foi informado que ela estava em reunião e não tinha hora para acabar.
Empresa e Prefeitura
A reportagem também abordou dois agentes da Prefeitura que estavam no local, mas eles disseram que o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) estava para chegar e a reportagem deveria falar direto com ele. Porém, pacientes que estavam em frente à UPA disseram, logo depois, que o prefeito tinha passado havia pouco, em um carro preto, em frente à UPA, mas só dois assessores desceram do carro.
Já o Secretário de Saúde chegou pouco antes das 17h, mas entrou de carro direto pelo portal do estacionamento, sem passar pela reportagem.
O Porque tentou novamente falar com representantes da terceirizada e da Prefeitura, que estavam dentro da UPA. Mas um atendente informou que a empresa INCS continuava em reunião, desta vez com o secretário de Saúde.
O repórter deixou número de telefone e e-mail para que empresa ou Prefeitura se manifestassem, mas não tinha obtido retorno até a finalização desta matéria.
O Porque foi informado por uma fonte interna da UPA que até às 19h a operação tartaruga dos médicos continuava.