
Para petistas, governo precisará ter muita cautela com as armadilhas deixadas pelos golpistas, em sua ação coordenada. Foto: Senado Federal
O Partido dos Trabalhadores (PT) de Araçoiaba da Serra divulgou um documento com o registro do debate ocorrido no município sobre a tentativa de golpe bolsonarista, que resultou na invasão às sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro. Para o documento elaborado pelo coletivo petista, foi arquitetado pelos terroristas, empresários e forças de Segurança Pública do DF um golpe de Estado, a fim de dissolver, por meio do caos, o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e os demais poderes constituídos.
Leia o documento na íntegra
1. As ações golpistas nos prédios dos poderes da República na tarde do dia 08 pretendiam desencadear o caos geral no país para sufocar o governo Lula. Se Lula decretasse operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que era o que se espera pelas forças golpistas, uma vez que a justificativa do caos seria a não aceitação da eleição, a solução por óbvio seria a dissolução do governo e provável dissolução dos demais poderes constituídos. Deste modo, possivelmente as forças que até então não embarcaram na aventura golpista seriam submetidas a ela.
2. As ações que os golpistas tentaram desencadear, conforme ações iniciadas na noite do dia 08 e madrugada do dia 09 de janeiro, com a tentativa de obstrução de rodovias, impedimento do transporte de combustíveis das refinarias da Petrobras e derrubada de torres de transmissão de energia, são prova que se tratava de uma tentativa de golpe de Estado pelo bolsonarismo, em uma conjunção entre as forças de segurança do Distrito Federal (DF), quartel-general do Exército em Brasília, empresários retrógrados, militantes radicais e terroristas. Era bem planejada e estava em andamento.
3. É clara a participação pró-golpe do então secretário de segurança pública do DF, Anderson Torres, e seus comandados diretos, pela omissão de sua responsabilidade que, na realidade, se tratava de ação, e, portanto, com inequívoca responsabilidade do governador do DF, Ibaneis Rocha.
4. O ninho de golpistas e criminosos na frente dos quartéis, tido como acampamento de manifestantes legítimos pelo quartel-general do Exército em Brasília, que o protegia, é revelador de seu envolvimento na trama. Uma prova clara disso foi a proteção e impedimento da desmontagem do ninho terrorista, ainda em 2022. Também, o impedimento da desmontagem pelas forças de segurança pública do DF, já sob comando do interventor federal Ricardo Cappelli, logo após os atos terroristas do dia 08. O quartel-general do Exército em Brasília sabia o que estava protegendo. Das duas, uma, ou protegia a fuga de seus agentes militares infiltrados na horda terrorista ou aguardava os efeitos e continuidade das ações ao fim planejado, que deveria continuar agindo durante a madrugada país a fora. Talvez as duas coisas. Não existe ninguém inocente ali.
5. O envolvimento das forças de segurança do Distrito Federal (DF) e do quartel-general do Exército em Brasília, em conjunto aos agentes do bolsonarismo nos atos golpistas do dia 08/01, é lógica pelo conjunto das atitudes e omissões que, declaradas ou não, foram vistas aos olhos da nação, através de divulgação dos próprios golpistas nas redes sociais e da cobertura da imprensa brasileira. Não é mais segredo, foi escancarado. A questão agora é entender a extensão do envolvimento e quem são os participantes.
6. Agora faz sentido a fala de Bolsonaro aos seus seguidores quando disse: “vocês decidirão meu futuro”. Fazem sentido atitudes como a não entrega da faixa presidencial ao presidente Lula, a entrada e permanência nos Estados Unidos da América com passaporte presidencial, e a não alteração do status de presidente nas redes sociais, só para citar as últimas.
7. Existem dúvidas sobre conivência dentro das forças de segurança do Governo Federal. Elas necessitam ser apuradas com cuidado. Deve ser considerado que o governo e os ministros ainda estão tomando posse de comando, e que, portanto, não possuíam total comando das forças. Como se sabe, vários ministros estão tomando posse em seus ministérios. Mesmo os ministros que tomaram posse, ainda estão estruturando seus comandos. A posse do novo comandante da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, por exemplo, somente ocorreu nesta tarde de terça-feira, 10/01/2023.
8. O ministro de Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, bem como o ministro da Defesa, José Múcio, poderiam ser considerados como uma espécie de interinos pelos golpistas nas forças de segurança e militares, em função do intento golpista em andamento envolvendo (ex) comandantes do governo bolsonarista em posse de comando.
9. De todo modo, o governo Lula precisa agir com paciência e cautela neste caso que envolve seus ministros. Ademais, perder tempo com demissão e nova nomeação pode ser um erro pelo desgaste e demonstração de fraqueza frente ao golpismo. Entretanto, a firmeza do ministro da Defesa é fundamental para expurgar militares contaminados pelo golpismo das posições de comando e para responsabilização de envolvidos na trama golpista.
10. Os golpistas a todo tempo tentam impor medo as forças democráticas com ideia como “não vai diplomar”, “não vai subir a rampa” (vai ter que atravessar dentro de um carro blindado), “não vai descer a rampa”, “não vai ser transmitido a faixa” e etc., pois esta é uma de suas principais armas.
11. Não se pode esquecer o papel que desempenharam figuras políticas e instrumentos de mídia. São exemplos a postagem de Moro no Twitter, na manhã de dia 08 de janeiro, a entrevista do deputado federal Ricardo Barros no canal de televisão CNN, durante as invasões no período da tarde do mesmo dia, e a cobertura das invasões transmitidas pela TV Jovem Pan, somente para citar algumas.
12. O presidente Lula se saiu bem no jogo de xadrez golpista até agora. Se desviou das armadilhas e granadas construídas pelas forças golpistas que foram atiradas desde o segundo turno das eleições do dia 30 de outubro de 2022. Por fim, venceu uma crucial batalha eclodida no dia 08 de janeiro de 2023. Porém, o campo de batalha ainda não foi limpo das inúmeras granadas e bombas deixadas pelos golpistas.
13. É preciso entender quais são elas, por exemplo, só para citar algumas: a) Medo e pavor geral – das instituições da República e população em geral; b) Incapacidade institucional das instituições democráticas da República; c) Incapacidade de governança do novo governo (ministros, segurança pública e forças armadas); d) Autoritarismo do governo (não permitir a livre manifestação); e) Anistia de manifestantes extremistas (que são terroristas); dentre outros.
14. Portanto, não dá para fantasiar diante da ameaça permanente das forças golpistas. É preciso escancarar o real propósito, a relação de envolvidos e a cadeia de ações da tentativa do golpe do dia 08 de janeiro. Iniciando por denominá-lo corretamente pelo nome e intento devido: tentativa de golpe de Estado.
15. A tentativa de golpe do dia 08 precisa ser esmiuçada para o conhecimento popular e forças democráticas. Todos precisam saber que os atos terroristas buscavam um golpe de Estado. Que havia um engendramento de ações anteriormente planejadas. O golpe precisa ser desmascarado para ser combatido. O fio do novelo precisa ser todo desatado para que todo golpista seja responsabilizado, na medida da Lei e na medida de seu envolvimento nos crimes. Não se pode aceitar anistia.