
Desrespeito à área de proteção ambiental (APA) da represa de Itupararanga faz com que agrotóxicos cheguem ao reservatório. Foto: Sindicato Rural de Ibiúna
Já faz alguns anos que a ONG SOS Itupararanga, em conjunto com o Comitê de Bacias do Rio Sorocaba e Médio Tietê, tem alertado sobre a presença de agrotóxicos nas águas do reservatório e que, por abastecer várias cidades do seu entorno, acabam chegando às torneiras da população. De acordo com dados levantados pela entidade, a degradação da represa e da sua água vem acontecendo, principalmente, em função do lançamento de esgotos sem tratamento pelos condomínios próximos e pelo uso inadequado de defensivos agrícolas na área de preservação ambiental (APA) da represa, especialmente, nos municípios de Ibiúna, Vargem Grande Paulista e no Distrito de Caucaia do Alto (Cotia).
A presença de agrotóxicos na água consumida pela população de Sorocaba foi divulgada pelo Ministério da Saúde, a partir de informações do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), com testes feitos em 2022. De acordo com o cruzamento de dados feito pela Repórter Brasil, a água consumida pelos moradores da cidade tem 27 tipos de agrotóxicos diferentes. As detecções ocorreram em amostras de diferentes redes de abastecimento dos municípios.
O fato é que a região da represa possui produtores de cebola, repolho e outras culturas utilizam, de maneira intensiva, agrotóxicos às margens da represa de Itupararanga, manancial que abastece cerca de 1 milhão de pessoas de cidades como Sorocaba, Votorantim, Mairinque, Ibiúna e São Roque.
Segundo a SOS Itupararanga, em uma projeção futura, a represa atingirá, em 2028, mantidas as condições atuais, o estágio hipertrófico, o que significa que a água poderá ter cheiro, gosto e ser tóxica, tornando o processo de tratamento cada vez mais oneroso, até que não haja mais condições de recuperação e fique imprópria para consumo humano.
“As fontes pontuais e difusas de poluição têm alcançado rios e córregos da bacia hidrográfica de Itupararanga e, dessa forma, o reservatório, provocando fenômenos como eutrofização, quando se verifica um aumento dos nutrientes da água, o que estimula o surgimento de algas e cianobactérias”, explica Viviane Rodrigues de Oliveira, diretora-executiva da SOS Itupararanga. Esse processo pode levar à morte de peixes e outras espécies de vidas aquáticas.
Menor volume da represa
Outro fator alertado pela ONG, que faz com que a concentração de pesticidas na água tenha aumentado, refere-se à redução da cota e do volume da Itupararanga, que afeta a qualidade de água para abastecimento, pois permite que os sedimentos saiam do fundo do reservatório e aumentem as concentrações de sílica, fósforo e ferro (principalmente), provocando o surgimento excessivo de organismos como algas e cianobactérias, a composição da comunidade fitoplanctônica e a tratabilidade da água.
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