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Prefeitura de Piedade consegue liminar na Justiça contra instalação de pedreira

Tutela cautelar de emergência foi decidida pela juíza Francisca Cristina Müller de Abreu Dall'aglio, da 2ª Vara da Comarca de Piedade, por considerar que o caso precisa ser melhor analisado a fim de evitar prejuízos ao meio ambiente e aos agricultores

Paulo Andrade (Portal Porque)

Protesto contra instalação da pedreira foi tema de uma tratorada em Piedade no último dia 18. Foto: Divulgação/Geraldo Camargo

A Justiça acatou pedido de tutela cautelar de urgência da Prefeitura Municipal de Piedade, ação de obrigação de não fazer, determinando à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) que não dê andamento ao processo de licenciamento da pedreira do bairro do Piraporinha, da empresa MSX Minerais Ltda. A liminar foi concedida pela juíza da 2ª Vara da Comarca de Piedade, Francisca Cristina Müller de Abreu Dall’aglio, que acatou parecer do Ministério Público (MP) sobre o tema.

Os donos da pedreira MSX pretendem explorar granito no bairro Piraporinha, zona rural de Piedade, próximo à nascente do Rio Pirapora, principal manancial de abastecimento de Piedade, Salto de Pirapora e Araçoiaba da Serra. A luta de parte dos moradores e agricultores de Piedade contra a instalação – devido a possíveis danos ambientais – já dura 10 anos.

O processo que foi acolhido pelo MPSP e resultou na liminar da juíza é de autoria da própria Procuradoria Jurídica do Município de Piedade, chefiada pela advogada Bianca Espinosa Marum. O pedido de impedimento da exploração partiu do prefeito Geraldo Pinto de Camargo Filho (MDB).

“Diante do parecer do representante do Ministério Púbico e considerando a atual Legislação Municipal aplicada ao caso concreto, com fulcro nos artigos 294, 300 e 303, do Código de Processo Civil, DEFIRO a tutela de urgência e DETERMINO que a CETESB abstenha-se, mesmo com a apresentação de certidão de uso e ocupação de solo emitida ou a ser emitida em favor da Requerida MSX Minerais Ltda, de autorizar a instalação de qualquer atividade da referida mineradora na área da pedreira do Bairro Piraporinha, antes da realização de estudos, observando-se as Leis Municipais 4.717/2021 e 4.769/2022, bem como de eventual impacto ambiental decorrente de mencionada atividade”, afirma a juíza Cristina Müller.

Leis municipais e MP

Antes, os responsáveis pela mineradora afirmavam que a causa já tinha transitado em julgado. Isso porque durante o governo do ex-prefeito José Tadeu Resende e seu vice, Álvaro Figueiredo Júnior, o JK, ambos do PSDB, a Prefeitura emitiu certidões para a MSX explorar as pedras no local.

Porém, nesse meio tempo, o zoneamento da cidade, plano diretor e outras leis municipais foram alteradas, impedindo a implantação de uma pedreira no local. A primeira decisão do Tribunal de Justiça, no início deste mês, favorável à mineradora, tomou como base o pedido original de uso e exploração do solo. Essa decisão do TJ fica suspensa com a liminar obtida na semana passada.

“Por cautela, o Ministério Público entende ser o caso de deferir o pedido de tutela de urgência inaudita altera parte, impedindo, assim, a exploração do local até uma análise mais aprofundada do caso”, afirma o parecer do MP que ajudou a gerar a liminar. O documento foi assinado pelo promotor de justiça Francisco Elmidio Sabadin dos Santos Talavieira Medina.

O coronel da PM Luiz Antônio Diniz, que se apresentou a um canal de Piedade, o Acorda Brasil, como dono da pedreira, afirma que não haverá impacto ambiental com a pedreira e que ela vai gerar “muitos” empregos diretos e indiretos, sem especificar quantos.

Segundo a Prefeitura, o bairro Piraporinha tem mais de 300 propriedades rurais, que podem sofrer diretamente o impacto da mineração. Essas pequenas propriedades representam mais de 50% da economia do município.

Já o coronel Diniz, que foi candidato a deputado estadual pelo partido Republicanos em 2022, afirma que a MSX é dona de 56 hectares no bairro Piraporinha, mas que vai explorar “apenas” nove hectares. Ele diz ainda que a empresa possui duas pedreiras em Sorocaba. Uma em um bairro populoso [mas não cita o nome] e outra a 150 metros da rodovia Raposo Tavares, perto da Uniso.

Tanto o coronel quanto o ex-prefeito Tadeu dizem ser “mentira” que a pedreira vai contaminar o Rio Pirapora, pois afirmam que os trabalhos serão realizados seis quilômetros longe da nascente do rio.

O dono da empresa também afirma que as pedras do bairro Piraporinha contêm 10% de potássio e que o pó de rocha vai ajudar a adubar naturalmente a terra. Ele afirma ainda que a MSX não vai usar água do meio ambiente na exploração mineral.

Mobilização popular

Na tarde de sexta-feira, 18, produtores rurais de Piedade se reuniram para protestar contra a instalação da pedreira. Lavradores enfileiraram dezenas de tratores e percorreram as ruas da cidade chamando a atenção da sociedade sobre o caso.

A “tratorada”, como foi chamado o movimento, foi convocada pelo prefeito Geraldo Pinto de Camargo Filho, o Geraldinho, que é contrário à instalação da pedreira desde que ele era vereador pelo PT de Piedade, cerca de 10 anos atrás.

O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) acompanhou o ato em Piedade na sexta-feira contra a possibilidade de degradação ambiental e riscos aos agricultores familiares e ao rio que abastece três cidades da região.

O prefeito Geraldinho e o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) durante protesto contra a mineração dia 18

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