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Com finanças em crise, Manga cancela cirurgias na Santa Casa e ameaça cortar leitos

Decisão de transferir cirurgias para o Santa Lucinda teria sido tomada para que Prefeitura de Sorocaba possa usar recursos de emendas impositivas de vereadores ao invés de pagar pelos procedimentos com orçamento da Secretaria de Saúde

Paulo Andrade (Portal Porque)

Transferência parcial de cirurgias ao Santa Lucinda será paga com emendas parlamentares, diz o Executivo ao gestor da Santa Casa. Foto: Divulgação

Com o objetivo de economizar o orçamento próprio da Saúde, a Prefeitura de Sorocaba transferiu parcialmente parte das cirurgias que seriam realizadas na Santa Casa, nos próximos três meses, para o Hospital Santa Lucinda.

Gestor da Santa Casa, padre Flávio Jorge Miguel Júnior conta que as cirurgias “não foram 100% canceladas, algumas foram diminuídas, por um único motivo: a Prefeitura tem milhões em emendas impositivas de vereadores para cirurgias no Santa Lucinda. Daqui três meses voltam as mesmas para a Santa Casa. Este foi o acordo”.

Padre Flávio diz ainda que o acordo não rompe o convênio com a Santa Casa e que começou a valer no início deste mês. Ele não soube dizer, de imediato, quantas cirurgias foram transferidas para o Santa Lucinda, mas que algumas modalidades, como intervenções cirúrgicas ginecológicas e de vesícula, entre outras direcionadas pelo município, devem deixar de ser realizadas nesse período na unidade que ele administra.

O Portal Porque apurou, junto a dois funcionários da Santa Casa que preferem não se identificar, que o anúncio da Prefeitura envolve cerca de R$ 3 milhões que seriam pagos ao hospital e transferidos, via emendas parlamentares, para o Santa Lucinda.

Os funcionários disseram ainda que, no fim de junho, a Prefeitura anunciou que iria cortar dez dos 50 leitos de UTI que oferece à Santa Casa. “Como o impacto seria negativo para o prefeito, no início de julho voltaram atrás e disseram que iam manter as 50 vagas em UTI”.

Leitos de UTI

Padre Flávio não negou e nem confirmou a ameaça de corte de dez dos 50 leitos de UTI, mas pontuou que Sorocaba “do tamanho que está, com mais de 720 mil habitantes e o sétimo mais populoso do Estado, teria que ter, no mínimo, 70 a 80 leitos de UTI para atender a população da cidade”. Ainda segundo ele, os Hospitais Regionais não dão conta de atender os moradores de Sorocaba, pois recebem pacientes de outros 48 municípios.

O Porque entrou em contato com o Hospital Santa Lucinda, nesta quinta-feira (20), e passou uma série de perguntas sobre a transferência de cirurgias para aquela unidade. A assessoria de imprensa do hospital disse que teria de verificar as respostas com a superintendência, em São Paulo, e que, por isso, não seria possível dar retorno ainda nesta quinta.

Entre as perguntas ao Santa Lucinda estavam qual a quantidade de cirurgia prevista por esse acordo com a Prefeitura, se ela já recebeu total ou parcialmente o valor das emendas e se já tinha agendado ou realizado as cirurgias antes previstas para a Santa Casa.

Problemas de caixa

Profissionais de hospitais, UPAs e unidades básicas – e também no meio político – afirmam categoricamente que a Prefeitura está sem dinheiro. “Não se sabe se é queda no ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] ou se é má gestão, mas a falta de recursos orçamentários é notória”, afirma o membro do CMS (Conselho Municipal de Saúde), Izídio de Brito.

O Porque ouviu, nas últimas semanas, do secretário de Saúde do município, Cláudio Pompeo, em reunião com o CMS, e também do líder do governo na Câmara, vereador João Donizete (PSDB), que Rodrigo Manga (Republicanos) está tendo que fazer “contingenciamento de recursos”.

Entre a oposição, o comentário é que a receita do primeiro semestre foi frustrada, o que se contrapõe ao anúncio festivo do prefeito de que, em 2023, Sorocaba bateu recorde orçamentário, com R$ 4,57 bilhões no caixa da Prefeitura previstos para este ano.

A vereadora Iara Bernardi (PT) está entre as que mais pede a presença do secretário municipal da Fazenda, Marcelo Regalado, na Câmara para explicar a situação. A convocação do secretário, no entanto, teria de ser feita pelo vereador líder do governo, que preside a Comissão de Economia e Finanças do Legislativo, e isso ainda não foi feito.

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