
Transferência parcial de cirurgias ao Santa Lucinda será paga com emendas parlamentares, diz o Executivo ao gestor da Santa Casa. Foto: Divulgação
Com o objetivo de economizar o orçamento próprio da Saúde, a Prefeitura de Sorocaba transferiu parcialmente parte das cirurgias que seriam realizadas na Santa Casa, nos próximos três meses, para o Hospital Santa Lucinda.
Gestor da Santa Casa, padre Flávio Jorge Miguel Júnior conta que as cirurgias “não foram 100% canceladas, algumas foram diminuídas, por um único motivo: a Prefeitura tem milhões em emendas impositivas de vereadores para cirurgias no Santa Lucinda. Daqui três meses voltam as mesmas para a Santa Casa. Este foi o acordo”.
Padre Flávio diz ainda que o acordo não rompe o convênio com a Santa Casa e que começou a valer no início deste mês. Ele não soube dizer, de imediato, quantas cirurgias foram transferidas para o Santa Lucinda, mas que algumas modalidades, como intervenções cirúrgicas ginecológicas e de vesícula, entre outras direcionadas pelo município, devem deixar de ser realizadas nesse período na unidade que ele administra.
O Portal Porque apurou, junto a dois funcionários da Santa Casa que preferem não se identificar, que o anúncio da Prefeitura envolve cerca de R$ 3 milhões que seriam pagos ao hospital e transferidos, via emendas parlamentares, para o Santa Lucinda.
Os funcionários disseram ainda que, no fim de junho, a Prefeitura anunciou que iria cortar dez dos 50 leitos de UTI que oferece à Santa Casa. “Como o impacto seria negativo para o prefeito, no início de julho voltaram atrás e disseram que iam manter as 50 vagas em UTI”.
Leitos de UTI
Padre Flávio não negou e nem confirmou a ameaça de corte de dez dos 50 leitos de UTI, mas pontuou que Sorocaba “do tamanho que está, com mais de 720 mil habitantes e o sétimo mais populoso do Estado, teria que ter, no mínimo, 70 a 80 leitos de UTI para atender a população da cidade”. Ainda segundo ele, os Hospitais Regionais não dão conta de atender os moradores de Sorocaba, pois recebem pacientes de outros 48 municípios.
O Porque entrou em contato com o Hospital Santa Lucinda, nesta quinta-feira (20), e passou uma série de perguntas sobre a transferência de cirurgias para aquela unidade. A assessoria de imprensa do hospital disse que teria de verificar as respostas com a superintendência, em São Paulo, e que, por isso, não seria possível dar retorno ainda nesta quinta.
Entre as perguntas ao Santa Lucinda estavam qual a quantidade de cirurgia prevista por esse acordo com a Prefeitura, se ela já recebeu total ou parcialmente o valor das emendas e se já tinha agendado ou realizado as cirurgias antes previstas para a Santa Casa.
Problemas de caixa
Profissionais de hospitais, UPAs e unidades básicas – e também no meio político – afirmam categoricamente que a Prefeitura está sem dinheiro. “Não se sabe se é queda no ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] ou se é má gestão, mas a falta de recursos orçamentários é notória”, afirma o membro do CMS (Conselho Municipal de Saúde), Izídio de Brito.
O Porque ouviu, nas últimas semanas, do secretário de Saúde do município, Cláudio Pompeo, em reunião com o CMS, e também do líder do governo na Câmara, vereador João Donizete (PSDB), que Rodrigo Manga (Republicanos) está tendo que fazer “contingenciamento de recursos”.
Entre a oposição, o comentário é que a receita do primeiro semestre foi frustrada, o que se contrapõe ao anúncio festivo do prefeito de que, em 2023, Sorocaba bateu recorde orçamentário, com R$ 4,57 bilhões no caixa da Prefeitura previstos para este ano.
A vereadora Iara Bernardi (PT) está entre as que mais pede a presença do secretário municipal da Fazenda, Marcelo Regalado, na Câmara para explicar a situação. A convocação do secretário, no entanto, teria de ser feita pelo vereador líder do governo, que preside a Comissão de Economia e Finanças do Legislativo, e isso ainda não foi feito.