
Cientista político afirma que prefeito Rodrigo Manga, que já hasteou bandeira de Israel no Paço, “extrapola sua margem de ação” ao querer proibir manifestações pró Palestina na cidade. Foto: Renata Rocha/Portal Porque
O prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) dobrou suas polêmicas apostas de marketing na guerra e, agora, quer proibir manifestações pró-Palestina em Sorocaba. Para isso, Manga, que já hasteou a bandeira de Israel na Prefeitura, promete enviar um projeto de lei para a Câmara, nesta segunda (16), estabelecendo multas de R$ 10 mil a R$ 50 mil para quem se manifestar em favor do que ele chama de “terroristas”.
O teor do projeto de lei ainda não foi divulgado pelo Governo Manga, mas já está criando nova polêmica em Sorocaba. Embora seja inconstitucional proibir manifestações pró-Palestina, Manga diz nas suas redes sociais que vai enquadrar os manifestantes no artigo 287 do Código Penal, que trata de “apologia de fato criminoso”. Com uma grande base aliada na Câmara, é provável que Manga aprove o projeto e saia por aí aplicando multas contra quem protestar a favor do que ele considerar “criminoso”.
Para o cientista político João Negrão, o prefeito Rodrigo Manga está numa “trip midiática”, extrapolando constantemente sua margem de ação. “É bom destacar que as leis do estado brasileiro são regidas pela Constituição, não pela Bíblia e, menos ainda, pela interpretação que determinados grupos ou seitas fundamentalistas possam fazer dela”, diz João Negrão, que além de doutor em Ciência Política é também jornalista e professor universitário.
O doutor lembra ainda que “tomar um lado e tentar impedir manifestações favoráveis ao outro só demonstra o viés autoritário e antidemocrático de Rodrigo Manga, o mesmo, aliás, que foi saudar manifestações golpistas e antidemocráticas nas estradas que cortam Sorocaba”.
Sorocaba unilateral
João considera legítima a opção pessoal de Manga por um dos lados da guerra. “O que não é legítima é essa tentativa de impor aos sorocabanos uma visão unilateral de um conflito cujas raízes remontam há, pelo menos, 75 anos. O próprio governo brasileiro defende, corretamente, a solução de dois estados – com fronteiras internacionalmente estabelecidas e reconhecidas – como meio para uma solução pacífica desse conflito histórico e critica as ações militares contra populações civis, venham elas de onde vierem”.
Neutralidade nacional
O Ministério das Relações Exteriores reafirma que, “em aplicação dos princípios das relações internacionais previstos na Constituição, o Brasil repudia o terrorismo em todas as suas formas e manifestações”. Porém, o Hamas há anos não é mais classificado como grupo terrorista pelo Conselho de Segurança na ONU, mas sim como organização política. Não cabe o Brasil, portanto, classifica-la como tal.
Para reforçar a posição neutra do Brasil na guerra entre as duas nações, o Itamaraty explica que “a prática brasileira, consistente com a Carta da ONU, habilita o país a contribuir, juntamente com outros países ou individualmente, para a resolução pacífica dos conflitos e na proteção de cidadãos brasileiros em zonas de conflito”.
Evangélicos e Israel
A defesa unilateral de Israel por evangélicos brasileiros, como o prefeito Manga, tem elementos religiosos e políticos. No quesito político é que o ex-presidente Jair Bolsonaro, apesar de se declarar cristão, usava como base o antigo testamento da Bíblia para suas argumentações. Por isso, o uso de símbolos como a estrela de David ou a bandeira de Israel em eventos evangélicos no Brasil se tornou comum nos últimos anos.
A interpretação de religiosa é a de que Israel seria uma espécie de “relógio do fim do mundo”. Para esses evangélicos, a segunda vinda de Jesus seria marcada pela libertação de Jerusalém do domínio dos gentios, ou seja, dos não-cristãos. Os evangélicos contam, é claro, que vão convencer os judeus a se tornarem cristãos antes do Juízo Final.
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