
Para quem continua no local, a posse de Lula foi “fake” e o ex-presidente Bolsonaro voltará a qualquer momento do exterior para reassumir o cargo. Até lá, garantem, não sairão da frente da base do Exército. Foto: Maíra Fernandes/Porque
Um dia depois da posse do presidente Lula Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os golpistas de Sorocaba continuam acampados em frente à base do Exército em Santa Rosália. Embora em pequeno número, o grupo que permanece no local está mais agressivo e tratou a repórter do PORQUE de forma truculenta, na tarde desta segunda, dia 2.
Antes das ameaças, porém, a reportagem conseguiu conversar com algumas pessoas menos inflamadas, que deram um panorama sobre o universo paralelo em que vivem. Neste universo, a posse de Lula foi “fake” e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltará a qualquer momento do exterior para reassumir o cargo.
“Se você ler o decreto, vai entender melhor o que eu estou falando”, defendeu uma senhora vestida com a bandeira brasileira. Um homem endossou as palavras da colega de acampamento, mas também não especificou sobre qual decreto falavam. Questionados pela repórter, apenas disseram que todos os documentos comprovando a “ilegalidade” das eleições estavam no Diário Oficial da União.
Questionados sobre o fato de Bolsonaro ter abandonado o cargo dois dias antes do término do mandato e viajado para o exterior, os entrevistados disseram que o ex-presidente está apenas de férias e que logo retornará para reassumir o comando da nação. Até lá, garantem, não sairão da frente da base do Exército em Santa Rosália.
Os golpistas também demonstraram que não perderam a fé de que serão ouvidos pelas Forças Armadas. Porém, mais do que ter o pedido atendido pelos militares que ali trabalham, o sentimento que parece mover o pessoal é o de pertencimento ao espaço que se tornou suas casas desde o dia 2 de novembro.
Violência e teorias da conspiração
Se tiver sorte, é possível conversar com pessoas menos inflamadas no acampamento, que dialogam e tentam formular algum argumento para explicar suas motivações. A reportagem estava conversando com algumas dessas pessoas quando foi instada por um homem a mostrar o crachá do jornal.
“Melhor mostrar a identificação ou poderá ter problemas”, disse, em tom ameaçador. Questionado sobre qual tipo de problemas, ele disse que o grupo poderia tirar a repórter do local “imediatamente”. Lembrado pela reportagem de que o local é uma via pública, o homem recuou e disse que ali não era “acampamento do PT para ter violência” e que só havia “famílias” no local.
A repórter se dirigiu então às barracas de alimentação e suporte que estão instaladas ilegalmente no local há dois meses para conversar com os responsáveis. Lá, um grupo de pessoas interpelado disse que a posse de Lula era “fake”, “um show para alegrar o Xandão”, numa referência a Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Mais uma vez, diante das perguntas da repórter, um dos homens começou a pedir a identificação da jornalista, em tom agressivo. A repórter entregou seu cartão para algumas pessoas e decidiu ir embora, já que o ambiente estava ficando inóspito.
Quando estava saindo, um homem correu até a repórter, acompanhado de outro que se apresentou como investigador do Exército, e exigiu seu RG, que foi apresentado. De forma grosseira, ambos se apossaram do documento para fotografá-lo, sem autorização. Apesar da tentativa de intimidação, a reportagem deixou o local sem problemas.
No final da tarde, o PORQUE enviou uma série de questionamentos sobre o acampamento golpista de Santa Rosália para o secretário de Segurança de Sorocaba, Alexandre Caixeiro. Até a publicação desta reportagem, não houve respostas, mas o espaço segue aberto para a manifestação da Prefeitura.