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Polícia procura pastor e ex-vereador condenado a 28 anos de prisão por pedofilia

Advogado das vítimas afirma ao Portal Porque que Julio Cesar Ribeiro deve ser considerado foragido da Justiça; o mandado de prisão foi emitido em novembro de 2022

Paulo Andrade (Portal Porque)

Página do pastor e sua mulher na Facebook foi mantida até novembro, com propaganda bolsonarista; agora, recebe comentários jocosos. Foto: reprodução Facebook

A Polícia Civil de Sorocaba está à procura de Julio Cesar Ribeiro, pastor e ex-vereador de Sorocaba, condenado a 28 de prisão por abusar sexualmente de duas menores em 2016. As crianças, próximas da família do pastor, tinham 7 e 9 anos na época do crime. O processo corre em segredo de justiça. No entanto, o Portal Porque conseguiu detalhes sobre o caso com a polícia e o advogado das vítimas.

Em nota à imprensa, a Polícia Civil informou na tarde desta quinta-feira, 16, que “assim que o Mandado de Prisão foi expedido pela Justiça e chegou à unidade competente para o seu cumprimento (Delegacia de Defesa de Mulher), os policiais civis foram a campo com o objetivo de executar a ordem judicial”.

A polícia também detalhou que ele ainda não foi preso porque, “além de não residir mais no endereço apresentado, descobriu-se que ele e a esposa estão fora de Sorocaba”.

Já o advogado das vítimas, Jacob Filho, disse em entrevista ao Portal Porque que Julio Cesar Ribeiro deve ser considerado formalmente como “foragido da Justiça”, pois ele sabe há meses que foi condenado, que é procurado e “sumiu de Sorocaba”.

Dupla gospel

Julio Cesar e a esposa formavam uma dupla de cantores de hinos de louvor conhecida no meio gospel. A última postagem na página dele no Facebook é de novembro de 2022, o que coincide com a data da condenação.

No Facebook, ambos se mostram bolsonaristas, pedem que seus fiéis “orem pelo Brasil” às vésperas da eleição presidencial e, após a condenação, passaram a receber comentários irônicos como “família tradicional brasileira, defensora da moral e dos bons costumes”. Julio era pastor da Igreja Assembleia de Deus.

Na página, a dupla anunciava a venda de várias mídias com suas músicas evangélicas.

Ainda sobre a busca ao condenado, a Polícia Civil informou na tarde desta quinta, 16, que “no momento, qualquer coisa que seja dita, pode atrapalhar as investigações e, consequentemente, a consumação de sua prisão. Assim que fatos novos surgirem, toda imprensa será imediatamente comunicada”.

Condenação em 2021

O advogado Jacob Filho disse ao Portal Porque que o réu já tinha sido condenado pelo mesmo crime hediondo no primeiro semestre de 2021. A pena, na ocasião, foi de 24 anos de prisão. A defesa das crianças considerou insuficiente a sentença e recorreu da decisão. No novo julgamento, em novembro de 2022, a pena foi aumentada para 28 anos de prisão.

O advogado criminalista, que tem escritório em São Paulo, contou ao Porque que a defesa do réu recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF (Supremo Tribunal Federal) ao longo do processo. “Mas perdeu em todas as tentativas de recorrer.”

A decisão final, de acordo com Jacob, coube ao Foro de Sorocaba, no Juizado Especial Criminal de Violência Doméstica contra a Mulher, que, a pedido da defesa das vítimas, emitiu mandado de prisão contra o pastor e comunicou as autoridades em despacho do dia 7 de novembro de 2022. Até essa última condenação, o réu respondeu ao processo em liberdade.

Igreja teria pedido silêncio

Jacob também relatou à reportagem que os pais das vítimas, ao saberem dos abusos sexuais, primeiro procuraram a Igreja que frequentavam, onde os líderes religiosos pediram para eles “não levarem a denúncia para frente”, para relevarem e silenciarem diante do ocorrido.

Porém — conforme o relato de Jacob –, por orientação de amigos, os pais das crianças acabaram procurando o advogado, que imediatamente começou a montar o processo e fez a denúncia ao Ministério Público, dando início às investigações que resultaram na condenação do pastor.

Segundo publicou o site O Fuxico Gospel na época da primeira condenação, em 2021, Julio Cesar “abusou por diversas vezes das menores enquanto estas ficavam em sua residência, pelo fato de os pais as deixarem lá com o intuito de que ficassem sob sua supervisão e seus cuidados, mas este se aproveitou dessa situação e praticou atos libidinosos contra as vítimas”.

Ainda segundo essa publicação, uma das menores declarou que costumava ir na casa do pastor, próximo da família, “quando não tinha ninguém pra ficar comigo em casa. Isso tudo durou basicamente por um ano. No começo nada demais estava acontecendo, mas depois ele começou a ficar pegando na minha bunda. Eu ficava debaixo das cobertas e [ele] colocava a mão e ficava acariciando, eu falava pra ele parar […]. Foi assim durante vários meses.”

Carreira como vereador

Julio Cesar foi vereador em Sorocaba de março de 2003 a dezembro de 2008 pelo PDT. Em 2012 recebeu votos para ser suplente de vereador pelo PMN. Em 2000 Julio Cesar foi eleito suplente com 2.102 votos. Porém, em abril de 2003 ele assumiu uma cadeira na Câmara, quando o número de vereadores voltou a ser 21. Antes, a Justiça havia reduzido para 14 o número de cadeiras.

Foi por meio de recurso que sete suplentes assumiram os cargos em 2003, entre eles Julio Cesar, voltando aos 21. Para a legislatura seguinte, que se iniciaria em 2005, a Justiça definiu nos atuais 20 o número de vereadores em Sorocaba.

Em 2004 o pastor foi eleito vereador titular com 3.303 votos. Em 2006 foi candidato a deputado estadual pelo PSC e conseguiu a suplência com 9.372 votos. Em 2008, de volta ao PDT, tentou, sem sucesso, ser eleito vereador. Para a suplência de 2012, pelo PMN, ele recebeu 2.043 votos.

Em 2004 Julio Cesar chegou a ser integrante do Conselho Municipal de Cultura de Sorocaba, nomeado pelo então prefeito Renato Amary.

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