
Familiares, amigos, conhecidos da vítima e ativistas fazem protesto na frente do Fórum antes do início do julgamento. Foto: Maíra Fernandes/Portal Porque
Os depoimentos dos pais do motorista e radialista, Milton Expedito do Nascimento, o Dinho, bem como dos policiais militares que estavam com o acusado no momento do crime, abriram o julgamento referente ao caso, na manhã desta terça-feira (28), no Fórum de Sorocaba.
Um júri popular, formado por três homens, duas mulheres e a maioria brancos, será o responsável por julgar o policial Rômulo Corrêa, acusado de matar a tiros o rapaz negro, em dezembro de 2018. A previsão é que o veredito sobre o caso seja proferido ainda nesta terça-feira (28). Além da imprensa – o Portal Porque se faz presente –, a audiência é acompanhada ainda por amigos e parentes da vítima e do acusado.
A primeira a depor foi a mãe de Dinho, Eva Benedita de Andrade do Nascimento. Debilitada, ela reiterou que o filho nunca se envolveu com crimes ou teve problemas com a polícia. Disse ainda que, além de motorista do Procon (órgão de defesa do consumidor de Sorocaba) e de prestar serviço como locutor na rádio comunitária Cultural FM, localizada no Parque das Laranjeiras, zona norte de Sorocaba, o rapaz realizava trabalhos sociais, arrecadando leite, alimentos e roupas às famílias em situação de vulnerabilidade social.
Emocionada com a lembrança do dia da morte, dona Eva contou também que o filho ajudava na casa. “Eu me acabei. Estou vivendo todos os dias essa tragédia”, lamenta.
Logo em seguida, foi a vez do pai de Dinho, José Expedito do Nascimento, ser ouvido. Ele endossou o depoimento da mãe e ainda acrescentou que o filho era o seu braço direito no dia a dia e que não tinha motivo algum para fugir da polícia.
Os policiais militares que estavam com o acusado no momento do crime também foram ouvidos pela manhã. Eles sustentaram que o procedimento adotado – disparar em caso como o ocorrido naquele dia – é padrão e visa resguardar a vida dos policiais.
De acordo com o relato deles, ao identificarem que a moto era a mesma que havia sido identificada como roubada anteriormente, com o condutor sem capacete, que não obedeceu a sinalização para parar e tocou na cintura como se fosse atirar – Dinho não estava armado – foi o que motivou Rômulo Corrêa a disparar.
O soldado Marcelo Augusto, motorista na ocasião, disse ainda que foi ele quem alertou o acusado sobre a possibilidade de o motorista e radialista atirar contra os policiais militares. Isso, conforme ele, teria motivado a reação do colega.
Marcelo Augusto disse também que se sentia grato pela atitude de Rômulo, pois temia pela sua vida e, que no lugar do colega, teria feito o mesmo. “A cor da pele não interfere em nada”, justifica, rebatendo o fato de que no Boletim de Ocorrência aberto pouco antes por Dinho para avisar do roubo da moto, a descrição dos assaltantes era de dois homens brancos, altos e armados, característica que não descreve o perfil da vítima.
O que disse o acusado?
Acusado de atirar e matar Dinho, o policial militar Rômulo Corrêa foi interpelado pelos advogados de acusação. A eles contou que só atirou por temer que o motorista e radialista estivesse armado. Alegou ainda que eles não haviam sido avisados pelo Copom (Central de Operações da Polícia Militar) sobre as características dos ladrões que haviam roubado a moto. Acrescentou, no entanto, que que este tipo de informação não era tão importante quanto placa, modelo do veículo e se os indivíduos que a levaram estavam armados.
Já ao advogado que o defende, Rômulo Corrêa falou sobre o sentimento com todo o ocorrido e o impacto em sua vida. Disse, inclusive, que depois do fato muitas portas têm se fechado a ele. O advogado de defesa, então, ficou indignado e retrucou lembrando que pelo menos ele estava vivo, diferentemente da vítima.
*** Matéria em atualização, pois o julgamento seria retomado às 14h
LEIA TAMBÉM:
>> Familiares e amigos pedem justiça durante julgamento do PM que matou radialista
>> Policial militar vai a júri popular nesta terça-feira pela morte de locutor negro