A falta de um diagnóstico certeiro dos médicos que atenderam o autônomo Paulo Cezar Goettenauer dos Santos Couto Júnior, 29, no último dia 22, na Unidade Pré-Hospital da Zona Oeste, pode custar ao trabalhador o braço e a própria vida. É que ele foi picado por uma aranha marrom e, durante dois dias, não foi devidamente medicado na unidade municipal, onde deu entrada pela primeira vez no dia 22 de julho. Com a situação agravada, no dia 24 precisou ser internado na UTI do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), com parte do braço já necrosada, e permanece lá até hoje, sem previsão de alta, mesmo após deixar a UTI.
“Eles só falam que a situação ainda é grave, devido à extensão do ferimento. Ele corre risco de infecção generalizada e não tem previsão de alta”, conta a mãe do paciente, Raquel Sueli Maffeis. Como explica, ouviu dos médicos do CHS que a situação do filho poderia ser diferente, caso ele fosse diagnosticado corretamente no primeiro atendimento. “Os médicos, agora, estão tentando salvar o braço do meu filho, que teve a carne removida, é só tendão e osso. Mesmo sem ele saber o que picou, daria tempo de tomar os antídotos”, diz a mãe.
SOBRE O CASO
Quando picado pela aranha, o paciente não havia visto, pois estava trabalhando, afastando madeiras dentro de um contêiner. Após a picada, passou a sentir dor, teve vômito e desmaiou. Por conta dos sintomas, deu entrada na UPH da Zona Oeste, por duas vezes, saindo de lá com orientação para tomar remédios para a dor.
Depois desses dois atendimentos na unidade, o estado do paciente piorou e ele precisou ser internado às pressas no CHS, quando foi encaminhado à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Conforme a mãe da vítima, apenas no hospital os médicos diagnosticaram o caso como envenenamento por meio da picada de aranha marrom.
“Minha revolta foi a negligência do UPH da Zona Oeste, por ele ter passado duas vezes pelos médicos e mandarem para casa, vendo que o veneno estava subindo. Foi negligência e descriminação o que fizeram com ele. Ainda corre risco de vida e até de perder o braço”, desabafa Raquel.
O PORQUE entrou em contato com a Secretaria de Saúde (SES), por meio da Secretaria de Comunicação (Secom) da Prefeitura de Sorocaba, para buscar mais informações referentes à denúncia sobre negligência na UPH da Zona Oeste e, mais uma vez, o município se recusou a dar explicação à imprensa e à população.
A ARANHA MARROM
Apesar do tamanho e da aparência da aranha marrom, é importante frisar que não se pode subestimar o poder da sua picada, afirma o biólogo Matheus Frati, lembrando que a espécie é comum no Estado de São Paulo e no município de Sorocaba.

Aranha marrom, apesar da aparência e tamanho, não se deve subestimar o poder de sua picada.
Como a picada da aranha é indolor e os efeitos do envenenamento podem ser sentidos até oito horas após o contato, é mais difícil identificar o acidente por aranha marrom. “Elas não são agressivas”, conta Frati, reiterando que esses acidentes tendem a ser ocasionados por pressão do corpo contra elas. Essas aranhas, de pequeno porte, são facilmente encontradas sob pedras, troncos de árvores, restos de vegetais, atrás de móveis, armários, quadros, entre livros, roupas e porões.
De acordo com o biólogo, há duas variações clínicas para o envenenamento da picada: forma cutânea e cutânea visceral. A primeira é a mais comum, ocorrendo dor, inchaço do local e coceira, podendo haver hemorragia e necrose. Na forma sistêmica, ocorrem distúrbios hematológicos, ou seja, no sangue.
Também são vários os fatores que influenciam no tipo clínico do acidente: além da saúde da pessoa picada, idade, local e quantidade de veneno. O tempo que se leva para iniciar o tratamento, como no caso de Paulo Cezar, pode ser decisivo.