
No entorno da Rodoviária de Sorocaba é aonde os ladrões agem com maior frequência e desembaraço. Foto: Divulgação/Prefeitura de Sorocaba
A Polícia Civil de Sorocaba registrou 1.512 queixas de roubo no ano passado e 214 nos primeiros cinco meses deste ano. Deste total, segundo estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado, 30% são referentes a roubo de celulares, ou seja, foram subtraídos 1,24 aparelho por dia em 2022 e 1,42 até maio de 2023.
Embora as ocorrências policiais não especifiquem os locais dos roubos, pode-se dizer, com razoável convicção, de que o entorno da Rodoviária de Sorocaba é aonde os ladrões vêm agindo com maior frequência e desembaraço. “Não existe um dia que não passe um ‘noia’ por aqui querendo vender celular roubado”, comenta um taxista que trabalha nas imediações, mas que prefere não se identificar com medo dos ladrões.
Eles atacam à luz do dia ou à noite, livres da vigilância policial, sendo observados apenas pelos passageiros de ônibus e pelas câmeras de segurança dos estabelecimentos comerciais localizados na Avenida Juscelino Kubitscheck.
Um destes estabelecimentos ajudou uma vítima, recentemente, exibindo as imagens do momento em que ela era atacada em um ponto de ônibus da avenida no sentido Rodoviária/Praça Nove de Julho. A vítima – uma mulher conhecida por vender créditos do cartão de vale-transporte – estava sentada e teve o celular arrancado das mãos assim que ela o tirou da mochila.
O crime ocorreu por volta das 16h de 7 de julho e as imagens mostram que em apenas 17 segundos o assaltante já sumia de vista, subindo pela Rua Casimiro de Abreu, uma ladeira tão íngreme que obrigou a vítima a desistir da perseguição e a pedir socorro aos comerciantes que possuem câmeras.
“Por sorte dela, minutos depois vinha passando uma viatura e os policiais conseguiram localizar e prender o ladrão. Logo depois os comparsas dele vieram até o ponto e ameaçaram a vítima, dizendo que ela estava atrapalhando os ‘negócios’”, conta um comerciante que também prefere não se identificar.
A prisão neste caso, segundo taxistas, não foi resultado apenas da sorte da vítima ou do azar do assaltante, mas pelo comportamento dos ladrões que agem na região. “Eles estão tão à vontade que nem se preocupam mais em se esconder. Eles roubam aqui, correm por ali e se reúnem numa praça lá em cima”, apontou para a rota de fuga pela ladeira da Rua Casimiro de Abreu até a Praça Marcelino Rusalén Netto, localizada entre a Rodoviária e a Praça Frei Baraúna.
O ponto de ônibus fixado na calçada ao lado da Rodoviária, a dez metros do posto, atualmente ocupado por funcionários da SOS (Serviço de Obras Sociais), parece ser o preferido pelos assaltantes, ainda segundo os taxistas.
Ali, o ponto conta só com uma estaca de identificação. Os passageiros que desembarcam aos fundos da Rodoviária precisam aguardar em pé pela carona ou pelo carro de aplicativo. “Quando elas [as vítimas] põem a bagagem no chão para usar o celular os malandros passam correndo e levam mala e aparelho.”
O problema se torna mais grave entre os passageiros de ônibus regionais que aguardam por horas a fio nos pontos improvisados das linhas regionais instalados aos fundos e ao lado da Escola Técnica Rubens de Faria e Souza.
Ali, de dia ou de noite, passageiros das cidades vizinhas contam apenas com a sorte e a solidariedade dos demais usuários do transporte coletivo. “A regra é ficar agarrado na bagagem e não usar o celular, mas isso só dá mais trabalho para os marginais, pois quando eles chegam em bando e mostram uma faca não tem por onde escapar” , relata um motorista de ônibus.
Os passageiros, porém, não são as únicas vítimas dos assaltantes. A área de atuação dos ladrões se estende até as cercanias do Hospital Regional onde atacam nas ruas e até dentro das casas. Casos de roubos a residências se proliferam nos grupos de WatsApp seguindo o conceito do Programa Vizinhança Solidária, uma iniciativa da Polícia Militar, em parceria com as comunidades.
“Este delinquente entrou na minha casa e levou meu notebook que tem minha vida lá dentro e o Nintendo switch do meu filho”, relata uma mensagem acompanhada de vídeo enviada por uma moradora para um grupo de WatsApp da Rua Antônio Andrade, travessa da Avenida Comendador Pereira Inácio, Jardim Faculdade. O roubo foi registrado às 13h40, segundo mostra o vídeo que foi reencaminhado pela moradora ao Portal Porque.
Outro vídeo gravado na mesma rua, em 4 de abril, mostra um ladrão entrando pelo telhado de uma loja onde passou a noite comendo o que havia na geladeira e rasgando os estofados antes de fugir levando um botijão de gás.
Já em 28 de abril, duas mulheres acordaram quando um ladrão fugia com uma bicicleta roubada. Amedrontado com os gritos das mulheres, ele abandonou a bicicleta e fugiu a pé. Nos dois dias seguintes, 29 e 30, os ladrões roubaram os cabos de energia de uma casa vazia e estouraram o relógio de luz da residência vizinha.
Entre os relatos de roubos, os moradores trocam mensagens revelando conformismo e descrença em possíveis soluções. Ao Porque, uma das moradoras disse que, apesar do histórico de assaltos na rua, não consegue uma resposta do Poder Público.
“A Guarda Civil Municipal diz que não pode fazer nada, só pode cuidar dos patrimônios públicos e jogam para a polícia. A polícia só quer fazer o B.O [Boletim de Ocorrência] e, quando apertamos nos questionamentos, eles jogam nas mãos da Prefeitura. Vou te mandar o print de uma conversa no grupo da ‘Vizinhança Solidária’”, informa a moradora.
Os prints enviados ao Porque revelam diálogos após um assalto à faca e um roubo de veículo na rua. Relatam o caso de uma menina que estava indo para a faculdade quando foi surpreendida pelo bandido armado perto da UBS Escola. O ladrão, que desceu correndo a Rua Antônio de Andrade e foi perseguido por populares depois que a menina gritou, dispensou o celular na fuga.
Uma vizinha que ouviu os gritos da vítima ligou para o 190, mas quando a Polícia Militar chegou, tudo já havia passado. Ela reclama que o atendimento telefônico – pediram todos os seus dados pessoais e endereço – foi muito demorado.