Militantes do Levante Popular da Juventude de Sorocaba e simpatizantes da causa animal fizeram um ato pacífico pela permanência do elefante Sandro no Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, na manhã deste domingo, 20, em frente ao portão principal do zoo. #FicaSandro é o slogan da mobilização que cresce também nas redes sociais.
Desde a morte da companheira de Sandro, Raiza, em 2020, grupos de ativistas ambientais pedem que Sandro seja transferido para um santuário de animais em Mato Grosso. Em 11 de março, a Prefeitura anunciou que acataria recomendação do promotor de justiça Jorge Marum, no sentido de que Sandro fosse transferido para o Santuário Elefantes do Brasil.

Grupos de ativistas ambientais pedem que Sandro seja transferido para um santuário de animais em Mato Grosso. (Divulgação)
No mesmo comunicado, porém, a Prefeitura admitiu que Sandro se encontra em “ótimo estado de saúde” e que a transferência ocorreria porque, após a morte de Raiza, ele ficou sozinho no recinto destinado aos elefantes.
RISCOS DA TRANSFERÊNCIA
A transferência vem sendo combatida por pessoas que se preocupam com a retirada de Sandro de seu habitat e o que pode acontecer com ele no transporte ou após inserido em um novo ambiente. Entre estes, estão personalidades de renome na área, como o ex-diretor do zoo no período de 1974 a 1997, biólogo* Lázaro Ronaldo Ribeiro Puglia (Roni), que se manifestou nas redes sociais em favor da permanência do elefante no Quinzinho (veja texto abaixo).
Para os integrantes do Levante Popular da Juventude, Sandro não corre nenhum risco. Pelo contrário: “Sandro é um elefante que nasceu em cativeiro e foi resgatado de um circo. Há décadas vive no zoológico de Sorocaba, onde é bem cuidado por uma equipe altamente qualificada formada por biólogos, veterinários, zootecnistas, entre outros”, ponderam em comunicado distribuído à imprensa.
Segundo eles, profissionais do próprio zoológico e especialistas em conservação têm apontado que retirar Sandro do zoo, a esta altura, seria extremamente prejudicial para ele. “O transporte de um animal idoso por mais de 1400 km, para um estado de clima completamente diferente, vai gerar um estresse no animal que coloca a vida dele em alto risco. Junto disso, tem-se o fato de que Sandro nunca viveu em ambiente selvagem, e por ser idoso, é incapaz de obter alimentos diretamente da natureza”, argumenta o grupo.
O Levante Popular da Juventude denunciou, em seu protesto, o desmonte da política pública de educação ambiental de Sorocaba e também o que define como abandono do zoológico, pois o Quinzinho “há mais de 10 anos não recebe melhorias do poder público”.
“O zoológico – argumenta comunicado do Levante – é um espaço de pesquisa, conservação ambiental e educação ambiental fundamental para a região. Os animais lá não são retirados da natureza para serem exibidos; são resgatados de circos e do tráfico de animais, e por serem incapazes de retornar ao ambiente natural, são acolhidos e cuidados no zoo. O zoológico precisa com urgente da contratação de mais funcionários, de uma reforma ampla e anexação do terreno ao lado para aumentar recintos e a estrutura de cuidados, e do retorno dos programas de educação ambiental.”
‘SERIA UMA TORTURA’
O ex-diretor do zoo Roni Puglia, que é fundador da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil e reconhecido internacionalmente por seu trabalho na preservação das espécies, publicou na última quinta-feira, 17, em sua página no Facebook, um manifesto em forma de crônica, intitulado “Sandro, o elefante malandro!”, no qual pede a permanência de Sandro no Quinzinho.
Por sua relevância, reproduzimos o post na íntegra:
“Era uma vez um elefante de concreto que se transformou em um elefante verdadeiro. Veio de um circo, para o zoo num hotel cinco estrelas. Pelas suas peripécias, teve vários nomes. Zailor, Trombadinha e Sandro. Era um bebê. Parecia o elefantinho Dumbo. Era a alegria dos visitantes e tratadores. Jogava terra e água para atrair os visitantes. Fornecia estrume para a horta das escolas. As folhas das hortaliças cobriam as salas de aula. Casou-se com Raiza, mas resolveram não ter filhos. Adotaram as crianças. Raiza nos deixou. As crianças são seus netinhos. Será uma tortura para Sandro deixar as crianças. Seus vizinhos, tigre e leão, sentirão muita saudade. Ele iria morar com estranhos que poderiam lhe maltratar. Não permitamos que Sandro nos deixe; aqui é sua casa.”
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*CORREÇÃO: Lázaro Ribeiro Puglia é médico veterinário com formação em zoologia de vertebrados, e não biólogo como informamos anteriormente.