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Motos são 18,1% da frota sorocabana e respondem por 56% dos acidentes com mortes

Cerca de 80% dos pacientes atendidos no setor de Emergência do Hospital Regional de Sorocaba são vítimas de acidentes envolvendo motocicletas

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

Para cada moto que circula em Sorocaba, há 3,4 automóveis. Ainda assim, número de mortos é maior entre motociclistas e passageiros do que entre pessoas em carros ou pedestres. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

No mês dedicado à conscientização sobre os perigos do trânsito — o Maio Amarelo –, o Portal Porque inicia a publicação de uma reportagem em três partes sobre os acidentes de motos, que cresceram em Sorocaba, suas causas, consequências e possíveis medidas para preveni-los. Leia a segunda e a terceira partes desta reportagem nos links no final desta página.

Motociclistas e garupeiros são os que mais morrem em desastres de trânsito em Sorocaba. Dados disponibilizados pelo Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo) demonstram que os motociclistas estão envolvidos, em média, em 56% dos acidentes com mortes registrados de 2019 até agora em Sorocaba.

O número se torna mais alarmante quando se considera que as motos, segundo dados de 2022 do IBGE, totalizam 94.378 em Sorocaba. Esse número representa 18,1% do total da frota de veículos (519.915), e 28,9% do total de automóveis que circulam na cidade (325.867). Para cada moto, há 3,4 automóveis nas ruas.

A explicação de especialistas em mobilidade urbana é que, com mais lentidão no trânsito da cidade, os veículos deixam de ser os mais envolvidos em sinistros, dando lugar a quem consegue se movimentar, como as motos e os pedestres, que continuam seus trajetos mesmo com as vias lentas.

A falta de iniciativas para proteger os motociclistas no trânsito, como as faixas azuis adotadas com sucesso em outros municípios, aliada a problemas como sinalização deficiente, é apontada como fator que contribui para a tragédia diária no trânsito. Atrelado a isso, há também a falta de consciência em zelar pela sua própria segurança, no caso dos motociclistas, e de tomar cuidado com quem também está no trânsito, no caso dos condutores de veículos.

Os números apontam esses comportamentos. Durante 2022, Sorocaba contabilizou 48 mortes no trânsito. Dessas, 29 estavam em motocicletas, três estavam em automóveis e 13 eram pedestres.

Ao considerar-se somente o ano passado na extração de dados, Sorocaba se destaca negativamente, pois teve 4,07 mortes de motociclistas no trânsito para cada 100 mil habitantes, enquanto no Estado de São Paulo foram 3,06 mortes por 100 mil habitantes.

A quantidade de desastres envolvendo motociclistas se repete nos três últimos anos decrescentes. Em 2021, foram 41 mortes, sendo 22 de motociclistas, quatro em carros e doze de pedestres. Em 2020, os dados apontam 56 óbitos no trânsito, sendo trinta motociclistas, nove ocupantes de veículos e doze pedestres.

Os números de 2019 permanecem nessa mesma sequência: 50 mortes, sendo 31 de vítimas em motos, nove em automóveis e mais nove pedestres. Para o ano corrente, os dados continuam pouco otimistas. Até março deste ano, 16 pessoas já haviam morrido no trânsito da cidade. Desses, nove eram motociclistas e três pedestres.

Ainda de acordo com o Infosiga, 80% dos que morreram em acidentes em Sorocaba são homens entre 18 aos 29 anos. Se os números em planilhas assustam, mas parecem frios, na vida real eles são crueis. Dados divulgados pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego) indicam que 60% dos leitos hospitalares do SUS são ocupados por vítimas de trânsito.

Isso também se reflete nos hospitais de Sorocaba. Segundo o médico José Mauro da Silva Rodrigues, coordenador da área de Cirurgia Geral e Trauma da Faculdade de Ciências Médicas da PUC-SP, aproximadamente 80% dos pacientes atendidos no setor de Emergência do Hospital Regional de Sorocaba são vítimas de eventos envolvendo motocicletas. “Atendemos em torno de 20 desses casos por dia”, informa.

Ainda que a maioria desses pacientes tenha sofrido lesões de baixa gravidade, com maior incidência de lesões ortopédicas (contusões, lesões articulares e fraturas), que não exigem internação, elas provocam o afastamento do trabalho e, consequentemente, têm reflexos na família do acidentado – que pode até sofrer dificuldades financeiras, com impacto na força de trabalho do município e nos custos da saúde pública como um todo.

Já do total de pessoas feridas em sinistros com motocicletas, 10% são internadas devido à gravidade de suas lesões por fraturas expostas, que exigem cirurgia imediata, ou com outras lesões associadas, sejam neurológicas, de tórax ou de abdome.

“Os que ficam aos cuidados apenas da Ortopedia permanecem, em média, três dias em internação. Os demais acabam por permanecem por um longo tempo, sempre acima de 15 dias, inclusive com internação em UTI. São os pacientes com trauma crânioencefálico ou que são submetidos a cirurgias para reparar lesões de órgãos abdominais”, alerta o coordenador. “São sempre, em torno de dez pacientes internados devido a esses traumas”, diz José Mauro.

Com longa experiência em atendimento e depois de anos vendo tanta gente com sequelas por acidentes de moto, o médico, que também é membro da Sbait (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado), faz um alerta sobre o uso da motocicleta como veículo de transporte.

“Os condutores de motocicletas estão absolutamente desprotegidos. Não existem as ferrragens ou as bolsas de ar, como nos automóveis. Também é necessário não esquecer do capacete, que precisa ser adequado e sempre usado.No mais é respeitar as normas de trânsito pois a imprudência pode trazer consequências graves”, frisa.

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