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Morre o sapateiro José, irmão de Paulo Betti. Leia o texto de despedida do ator

"Zé foi meu irmão e também um pouco meu pai", escreveu Paulo Betti nas redes sociais; José estava com 80 anos e deixou quatro filhos

Portal Porque

José era conhecido em Sorocaba, em parte por causa das citações carinhosas do irmão Paulo, em suas crônicas na imprensa local. Foto: reprodução/redes sociais

Faleceu nesta segunda-feira (15) em Sorocaba o sapateiro José Bete, irmão do ator Paulo Betti. José tinha 80 anos e deixou os filhos José Roberto, Douglas, Fabiano e Ernesto. O corpo foi velado na Ossel e enterrado à tarde no cemitério da Consolação.

Bastante conhecido na cidade, José manteve sua sapataria durante muitos anos no início da rua da Penha, próximo à esquina da rua Souza Pereira.

Paulo Betti, que sempre se referia com carinho a José em suas crônicas, estava em Sorocaba justamente para visitar o irmão mais velho.

“Zé foi meu irmão e também um pouco meu pai”, escreveu o ator em sua página no Facebook.

Em seu texto de despedida, que o Portal Porque republica abaixo, com autorização do autor, Paulo se referiu ao irmão como “uma mina inteira de inesgotável sabedoria e bondade”.

Leia a íntegra da despedida de Paulo Betti ao seu irmão José.

“Meu irmão Zé partiu hoje. Esperou que eu tivesse uma brecha nas gravações da novela Amor Perfeito e pudesse vir pra me despedir dele.

Zé foi meu irmão e também um pouco meu pai. Ele era 10 anos mais velho que eu.

Eu estava agoniado sabendo que ele estava próximo de seu fim neste mundo, e não conseguia ir a Sorocaba pra vê-lo. Mas Zé sempre foi uma solução e nunca um problema. Pois não é que me esperou? Abriu os olhos e ouviu os nomes de todos que mandaram um abraço e beijo de despedida pra ele: Cida, Maria, Juliana, Mariana, João, Dadá, Eliane, Maria, Mana, Mariana, Zezé, Ana, Osvaldo, Rosangela, Zé Roque, Carlos, Perdiga, Miroldo, Ceroula, Hugo.

O Rafa Romão, sobrinho nosso, resumiu: “Que seus pés descansem após ter cuidado dos passos de tantos.”

Zé era muito querido em Sorocaba.

Tinha uma sapataria na Rua da Penha, a JOSÉ BETE. Nossos sobrenomes são diferentes por erro no cartório. Nossos pais não sabiam ler. Ernesto e Adelaide diziam que Zé era um grão de ouro.

Zé era muito mais que isso! Era uma mina inteira de inesgotável sabedoria e bondade!

Eu ia na sapataria e ele estava curvado naquele banquinho baixo, com o pé de ferro, os pregos equilibrados na boca, o capricho da meia-sola, o salto, o trabalho prestimoso.

Eu ia visitá-lo na sapataria e ficava atrás do balcão fingindo que era ele, pra surpreender os fregueses. E ríamos. E eu tentava fazer que ele cobrasse metade do valor do conserto adiantado.

Ele tinha dó de cobrar. Ficavam montanhas de sapatos e bolsas que os fregueses não vinham buscar. O prejuízo da mão de obra e material.

Zé fumou muito! 4 maços por dia durante muitos e muitos anos. E a cola de sapateiro que involuntariamente cheirou trabalhando? Não fosse isso, certamente viveria até os 100, não partiria aos 80.

Uma vez, em 93, comprei uma maquina de escovar e lixar numa loja de segunda mão no Brooklyn em NY. Paguei 2.500 dólares mais 250 de frete. O filho da puta do italiano que me vendeu nunca mandou entregar! Eu andava pela cidade visitando todas as sapatarias, os “shoes repairs”, procurando novidades pra contar pro Zé.

Todo mundo gostava do Zé! Ele passava noites trabalhando ao lado de sua amada Maria, que o ajudava a costurar as bolsas. Quando a Maria ficou doente, o Zé cuidou dela até o fim. HOMEM.

E Zé gostava de tomar uma pinguinha, Todas que eu ganhava eu dava pra ele. Até que me toquei e parei. Eu queria que ele parasse de fumar, eu enchia o saco dele. Eu queria cuidar do Zé!

Meu amor para o Beto, Ernesto, Igor, Douglas e Fabiano, meus sobrinhos, que cuidaram do Zé até o último suspiro.

O Zé sempre torceu pro Corinthians. Um dia, sem que ninguém nunca soubesse o motivo, ele passou a torcer pro São Paulo. Eu acho que decifrei o segredo: na verdade, o coração dele era mesmo do São Bento!

Eu adorava falar de política com ele. Ele tinha uma foto, da qual se orgulhava, com o Lula metalúrgico na sapataria dele, junto com a Iara e o Hamilton.

Aliás, Lula deveria decretar 3 dias de luto eterno pelo passamento do Zé. Se ele não o faz, por óbvio, nós todos o fazemos! Nós todos que amamos o Zé e vamos tê-lo pra sempre como exemplo de amor, respeito e dignidade! Zé foi o santo que todos nós tivemos a sorte de conhecer nessa terra!”

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