
Preço do carvão para o consumo doméstico disparou e chega a competir com o preço da carne; razão seria o avanço das grandes empresas sobre as pequenas plantações de eucalipto. Foto: Cortesia
O churrasquinho do Dia dos Pais, neste domingo, 13, vai ter carne com o preço em queda, mas com o custo do carvão em alta, podendo empatar com o valor da carne, dependendo da qualidade da madeira e do tanto de gente para comer. Um saco de carvão com dois quilos, suficiente para assar três quilos de carne, está custando em média R$ 20,00 em lojas físicas, metade da média dos preços exibidos nas lojas on-line.
O produto chegou a dobrar de preço desde 2021, segundo o empresário Ricardo Menk, que entrou no negócio de distribuição de carvão quando um metro cúbico de madeira era comercializado por R$ 25,00. “Dois anos depois está custando 180 reais um metro cúbico de lenha”, informa Menk, que distribui em torno de 22 toneladas de sua marca por 48 lojas da região.
De acordo com o empresário, o avanço das grandes empresas sobre as pequenas plantações de eucalipto estaria por trás da alta do preço do carvão para uso doméstico. “O carvão só pode ser produzido através da madeira de eucalipto e os pequenos produtores são os fornecedores da matéria prima para as carvoarias. Com a aquisição dos pequenos pelos grandes, a matéria-prima passou a ficar escassa e muito cara”, informa Menk.
Cerealistas
O empresário afirma que o monopólio do carvão está sendo concentrado pelo grupo Suzano, segundo maior conglomerado do setor de papel e celulose do Brasil, atrás apenas da Klabin. Suas plantações de eucalipto estão à vista nas margens das rodovias ao sul da Região Metropolitana de Sorocaba e no norte do Paraná.
Além disso, segundo Menk, o mercado de madeira para queima passou a ser disputado com a indústria de secagem e armazenamento de cereais, um setor em franco crescimento na mesma região onde estão localizadas as plantações de eucalipto da Suzano. “As carvoarias estão sobrevivendo com as sobras destas empresas, o que elas não consomem elas vendem, mas vendem demasiado caro, o que indica que os preços vão continuar subindo”, observa.
A empresa de Menk distribui embalagens com dois, três, quatro, seis e dez quilos com preços variando de R$ 8,50 a R$ 40,00 para o atacadista e de R$ 20,00 a R$ 60,00 ao consumidor final. As carvoarias fornecedoras ficam em Sarapuí, Capão Bonito e Bom Sucesso do Itararé, ao sul de Sorocaba, Jaguariaíva e Venceslau Brás, no norte do Paraná.
Regulamento
A produção de carvão no Brasil é regulamentada por lei federal e estadual. Em São Paulo, as carvoarias precisam de licenciamento ambiental junto ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e à Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). O eucalipto é a única madeira permitida para a queima porque é originada em reflorestamento e, portanto, não compromete a mata nativa.
Além do rígido controle por órgãos ambientais, as carvoarias também são submetidas a operações de fiscalização rotineiras coordenadas pelo Ministério Público do Trabalho devido à grande incidência de flagrantes de exploração de trabalho infantil e trabalho análogo à escravidão registrados em todo o País.
Em 2008, a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) incluiu as carvoarias na lista de piores formas de trabalho infantil, sendo vedado para qualquer pessoa com menos de 18 anos. De acordo com peritos do Ministério do Trabalho, os empregados das carvoarias são submetidos a gases tóxicos, fuligem, cinzas, pó e altas temperaturas. Por isso, estão sujeitos a queimaduras, desidratação, lesões musculares graves, hérnias inguinais e escrotais e fraturas ou cortes, o que inviabiliza a presença de crianças no ambiente.