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Manga parte para confronto direto e acusa CBA de promover ‘bagunça’ em Sorocaba

Empresa que administra barragem de Itupararanga evita confronto direto e responde com nota técnica, enfatizando que nível da água precisa ser controlado

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

CBA informou medidas para evitar que o nível da represa chegue aos vertedouros e a água passe para o rio sem qualquer controle. Foto: Sandra Nascimento

Em nova live feita nessa sexta-feira (17), o prefeito Rodrigo Manga, mais uma vez, jogou a responsabilidade do alto nível do rio Sorocaba na represa de Itupararanga, e em especial, na Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), empresa que administra a hidrelétrica, acusada pelo prefeito de promover uma “bagunça” em Sorocaba.

Manga subiu o tom nas críticas e afirmou que a represa é “infelizmente, administrada pela CBA e tem prejudicado a vida dos sorocabanos”, segundo suas palavras, complementando que Itupararanga não conta com um corpo técnico.

Por sua vez, sem responder diretamente a Manga, a CBA informou em nota enviada à imprensa providências técnicas adotadas em consonância com o CBH-SMT (Comitê de Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê). A companhia divulgou que, na quinta-feira (16), deu início ao uso do descarregador de fundo da Itupararanga, com o objetivo de, justamente, realizar o controle de cheias.

Com a ação tomada pela empresa, evita-se que o nível do reservatório alcance a cota do vertimento de água pela barragem, o que ocorre pelos arcos da barragem. “Apesar desse efeito ser normal na operação da usina, quando o reservatório alcança esse nível, a empresa perde o controle da defluência, o que poderia gerar impactos à população”, diz a nota informativa.

O descarregador de fundo é um equipamento normal da barragem, sendo uma alternativa adicional para a passagem da água.

Manga disse em sua live que o nível do rio permanece alto mesmo num dia em que não houve chuva. Depois, afirmou que a culpa da alta do rio é devido ao grande volume de chuva registrado desde o início do ano.

O prefeito informou ainda que, há dois dias, oficializou a CBA para reduzir a vazão da represa em 8 metros cúbicos por segundo e disse que a resposta recebida foi que a vazão da represa iria ser aumentada para 30 metros cúbicos por segundo. O prefeito ainda ameaçou protocolar um documento no Ministério Público (MP) para “acabar com essa bagunça que eles estão fazendo em Sorocaba”.

A CBA salientou que a decisão de usar recursos técnicos para o controle de cheias foi tomada respeitando a regra operativa e por conta da grande incidência de chuvas dos últimos dias, que fez com que o nível da represa aumentasse consideravelmente, cerca de 30 centímetros em poucos dias.

O nível do reservatório está em 823,01 metros sobre o nível do mar. A capacidade técnica da represa é de 60% de sua totalidade, índice mantido por segurança. Se chegasse aos 100%, haveria o vertimento de água pelos seus arcos e, aí sim, o aumento do nível do rio originado pela represa.

Corpo técnico envolvido

A empresa gerenciadora reiterou que a represa está segura e que não há risco de rompimento, lembrando que todas as medidas tomadas atendem a regra operativa vigente e acordada pelos membros do Comitê de Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê, que conta com representante do Saae de Sorocaba, Águas de Votorantim, Sabesp, DAEE, Cetesb, Poder Executivo de Alumínio, Votorantim e Sorocaba, Instituto Florestal, Gaema, CBA, além de Universidades e ONGs.

A Companhia reiterou que a atuação colaborativa entre entes envolvidos é fundamental para operação adequada do reservatório.

Vistorias não acham irregularidades

No dia 18 de janeiro deste ano, representantes da Defesa Civil do Estado de São Paulo, Defesa Civil Municipal de Sorocaba, Saae de Sorocaba, Instituto de Pesquisa e Tecnologia (IPT), Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), Secretaria de Segurança Urbana (SESU) Sorocaba e Corpo de Bombeiros participaram de uma visita técnica no Centro de Operações e Geração (COG), que realiza a gestão, monitoramento e controle do reservatório 24h/dia, além de conhecerem a barragem.

Nesta mesma data, a CBA também acompanhou a visita da prefeita de Votorantim e representantes da Câmara Municipal na barragem.

Já no dia 19 de janeiro, a companhia também recebeu a equipe do Centro de Apoio Operacional à Execuções (Caex), um órgão auxiliar do MP, que fez uma vistoria técnica nas estruturas das barragens. O laudo emitido pelo MP, resultado da vistoria, aponta que não há irregularidades na barragem e que a CBA está seguindo as regras operativas, conforme descrito no parecer.

“Da mesma forma, a forma de operação visualizada durante a vistoria demonstra que a CBA está seguindo aquilo que foi definido na regra operativa, de forma a manter o máximo de controle sobre a vazão defluente, buscando evitar que se atinja o último patamar da regra, no qual será necessário deixar defluir todo o volume que entrar a montante do Reservatório”, reforça a nota da companhia.

Durante as visitas, foram explicadas as funcionalidades do reservatório de usos múltiplos, bem como que a aplicação da regra operativa aprovada pelo Comitê de Bacias e que assegura o controle de cheias, evitando assim o vertimento.

A culpa não é da represa

Recentemente, o Portal Porque divulgou uma matéria em que ouviu, entre outros especialistas, o vice-presidente do CBH-SMT (Comitê de Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê), professor da UFSCar e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) de Crise Hídrica, André Cordeiro Alves dos Santos. Ele esclareceu que a calha do rio Sorocaba, além de receber a vazão controlada das águas da represa, também recebe todo o volume de água de outros rios que desaguam nele nos trechos urbanos de Votorantim e de Sorocaba. Esses rios, por sua vez, drenam bacias urbanas que estão muito impermeabilizadas por conta do crescimento desenfreado e sem planejamento das cidades.

O especialista reforçou que é necessário pensar formas de evitar a impermeabilização do solo por meio de planejamento e infraestrutura urbana para absorver as águas pluviais de forma inteligente. Obras chamadas piscinões, como o que está sendo construído à beira do córrego Itanguá, na Zona Oeste, ou já feitos como o Parque das Águas, na zona norte, ou o Parque dos Estados, entre a Avenida Américo de Carvalho e a Washington Luís, são bacias de contenção que fazem com que o rio receba a água da chuva de forma mais lenta, o que evita o transbordamento imediato.

Porém, a longo prazo e com a impermeabilização crescente do solo urbano, esses piscinões tornam-se apenas paliativos e podem não mais comportar tanta água ao mesmo tempo. Segundo André, a grande quantidade de água que vai em direção ao rio Sorocaba precisa ser pensada “de cima para baixo”, conforme explica. Ou seja, é necessário pensar das nascentes dos rios em direção à sua foz, com providências que levem em conta o meio ambiente.

Parques e áreas de mata também auxiliam no escoamento da água. Já o crescimento desenfreado de empreendimentos imobiliários não pensa no escoamento da água, mas somente em recolher a água por meio de canalizações e jogar para regiões mais baixas.

Leia a matéria completa clicando aqui.

Erramos: por uma falha de informação na comunicação com a assessoria da CBA, foi informado que o nível da represa havia subido 30 metros, quando, na verdade, foram 30 centímetros. O Porque pede desculpas aos leitores pelo mal-entendido.

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