Próximo ao fim do ano letivo, que ocorre já no próximo mês, pais e responsáveis ainda cobram da Prefeitura Municipal de Sorocaba, por meio da Secretaria de Educação (Sedu), os prometidos kits de uniformes escolares, que ainda não chegaram a uma parcela de alunos ou, em muitos casos, chegaram, mas com a numeração errada.
Nesta terça-feira, 8, uma das mães de um aluno da escola municipal Edward Frufru Marciano da Silva, no Jardim Botucatu, postou um vídeo nas redes sociais, ironizando o não recebimento do uniforme do filho. Além dela, outros pais e responsáveis com filhos matriculados na mesma escola também reclamam pelo não recebimento.
No vídeo, a microempreendedora e mão de aluno Bruna Antunes da Silva Rodrigues, 30, dá a entender que vai mostrar o kit de uniforme do filho e, ao mostrar a cama, tece elogios às roupas que, na verdade, nunca chegaram para Gustavo, 7.
Em sua narração, ela pontua a data de hoje e, ironicamente, lembra que o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) havia feito a promessa de dar uniformes para todos os alunos da rede municipal e que o filho dela, assim como os demais alunos da escola, os teriam recebido. No entanto, logo em seguida, esclarece: “Só um pouquinho de ironia, né? A escola do meu filho inteira recebeu uniforme, menos o primeiro ano.” Depois de “mostrar” o que seriam as peças que compõem o kit (na verdade, peças imaginárias), ela conclui: “…. Eu comprei o uniforme para o meu filho, mas a Prefeitura também comprou, gastou milhões. E aí, aonde estão esses uniformes?”
De acordo com a mãe de aluno, a ideia do vídeo não era apenas para contestar sobre a falta do kit do filho, pois tem condições de comprar, mas sim de mostrar a situação de muitos pais ou responsáveis que não receberam até agora e não têm como adquirir as peças. “Moro aqui na zona norte e conheço pessoas que não têm condições de comprar o uniforme, e depois da promessa do prefeito não foram atrás esperando receber, mas até agora não receberam nada”, critica Bruna.
De acordo com ela, a maioria dos alunos do primeiro ano da escola ainda não recebeu o kit. Ao questionar a Secretaria de Educação (Sedu), segundo ela, a resposta foi de que haviam enviado o uniforme do filho para a escola em que ele fez o pré. Bruna chegou a ir à escola antiga, mas disseram que estava na escola atual. Até o momento, esse impasse continua e nada de o kit chegar. “Hoje um assessor da Sedu me respondeu e disse que os uniformes que foram entregues nas escolas são para os alunos que estavam matriculados em fevereiro. Quem ingressou após, precisa esperar mais um pouquinho. Porém, meu filho foi matriculado em janeiro, e a numeração do uniforme eu preenchi ano passado”, contou.
Outra mãe com filhas matriculadas na mesma escola vive uma situação parecida, mas bem mais delicada. Desempegada, Thais Cristina da Silva kens , 29, tem duas filhas estudando: Emily, 10 e Maria aparecida, 7. A mais velha recebeu o kit, mas com demora. Como a numeração veio errada, não serviu para Emiy, que acabou repassando-o para a irmã mais nova, que estuda na mesma sala que Gustavo e ainda não recebeu o kit. De acordo com a mãe, não há condições de comprar os uniformes e, por isso, ao longo do ano, as filhas foram estudar com o que tinham.
Mesmo entendendo a importância das roupas para as filhas, Thaís conta que não tem como comprar e vai continuar esperando, para ver se a situação se regulariza no próximo ano letivo. “Não vou deixar de comer pra comprar uniforme. O uniforme é necessário mas vou esperar. Mesmo que eu quisesse eu não teria condições. Elas estão indo estudar com as roupas de casa”, protestou a mãe, que ao longo do ano vem questionando a escola e a Sedu e recebendo a mesma informação: para aguardar, mas sem previsão de entrega.
Atrasos
No começo de outubro, o PORQUE publicou reportagem sobre a denúncia apresentada pela vereadora Iara Bernardi (PT), de que um total de vinte escolas municipais, mais os alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), ainda não haviam recebido os uniformes escolares e que a empresa vencedora da licitação milionária, a WR Calçados Eirelli, não sabia quando conseguiria entregar.
Em resposta ao requerimento da vereadora à época, o secretário de Relações Institucionais e Metropolitanas, João Alberto Correa Maia, afirmou que a empresa não estava cumprindo o prazo estipulado, sob alegação de problemas com o fornecimento de matéria-prima, mas não forneceu mais detalhes. Em vista disso, a vereadora denunciou o processo de licitação e atraso ao Ministério Público.
Em abril, o PORQUE anunciou que, de acordo com o cronograma divulgado pela Prefeitura, a conclusão da entrega dos uniforme ocorreria no segundo semestre, contrariando a promessa do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), de que os alunos receberiam o material logo no início do ano letivo. Na época, o cronograma da Prefeitura deixou pelo menos 30 escolas de fora, sem previsão de data para receber os uniformes.
Outra reportagem, feita no mês de julho, apontou que os uniformes estavam vindo com números errados, tamanhos incompatíveis, gêneros trocados e peças faltando (leia aqui). Por conta dos erros, pais e responsáveis tinham iniciado um movimento de escambo pela internet, a fim de garantir a troca das peças por outras compatíveis aos alunos.
Todas as tentativas de contato com a Sedu, por meio da assessoria de comunicação do município a fim de esclarecimentos sobre esses fatos, nunca foram respondidas.