Conviver com o mau cheiro já faz parte da rotina dos frequentadores e da vida de quem mora perto do Parque dos Espanhóis, na Vila Assis. O odor desagradável é exalado pelo lago, que forma uma bacia de contenção de águas pluviais, e pelo córrego Barcelona, que corta o bairro. O motivo é o esgoto in natura lançado diretamente nas águas do parque há anos e que já foi motivo de diversas reclamações, de matérias jornalísticas e até de visitas de autoridades do governo municipal — inclusive do prefeito Rodrigo Manga e do vereador Vinícius Aith, em setembro de 2021, quando prometeram solução para o problema.

No entanto, para saber que algo errado acontece no parque, não é necessário chegar tão perto assim. Basta ouvir o que dizem os moradores. Eles contam que a fedentina de esgoto se espalha e pode ser sentida nas ruas que circundam a área de lazer, especialmente em dias mais quentes, ao cair da tarde. A sujeira vem boiando do córrego Barcelona, que atravessa uma área verde próxima e segue seu curso pelo parque, rumo ao rio Sorocaba.

A sujeira desce como uma nata verde-escura, misturada a algo oleoso, que toma conta da superfície da água. As aves que frequentam o parque em busca de alimento parecem não se importar com a sujeira e ficam de prontidão, à espera dos peixinhos. Os peixes, por sua vez, já sucumbiram à poluição, conforme relata Cristiane Nascimento, que mora há seis anos na Rua Ricardo Severo, ao fundo do parque.

Ela diz que o esgoto a céu aberto sempre existiu, mas que ficou mais evidente de cinco anos para cá. Ela conta que, assim como os moradores, a Prefeitura sabe que há saída irregular de esgoto no córrego Barcelona, num determinado lugar da área verde, mas que nenhuma providência é tomada. “Já fui várias vezes reclamar ao Saae e na Prefeitura e nada foi feito. Já tivemos visitas de vereadores por aqui e continuamos na mesma. O que fazem é um paliativo, como o que está acontecendo hoje”, relata a munícipe. Para ela, trata-se de esgoto doméstico e algum tipo de poluição vindo de empresa, já que a água, por vezes, fica colorida.

O serviço paliativo citado por Cristiane é um caminhão com uma bomba que chega para aspirar os dejetos, além de jogar água no córrego, para que a sujeira vá embora. Durante o período em que a reportagem do Portal Porque ficou no parque, os funcionários de uma empresa terceirizada faziam essa operação. Questionado sobre a origem do esgoto, um funcionário disse que não sabia de onde viria, mas que estava ali para “aspirar a sujeira”.

Lazer prejudicado

Quem usa o Parque dos Espanhois para atividades físicas ou para levar as crianças para brincar também sofre com o descaso às águas que cortam a área. Ana Paula Almena, moradora da Vila Garcia, estava com a mãe, Rosa Almena, e as sobrinhas no parque, para um momento de lazer com as garotas. Ela diz gostar do parque, mas cobra mais cuidados para o local, que sempre está cheio de crianças e famílias. “A gente passou ali perto do córrego, meu Deus, está bem sujo, cheirando mal. Precisa cuidar da limpeza dele”, comentou.

Com o cachorrinho Trovão e sua mãe, o funileiro Márcio de Oliveira também reclamou da situação de abandono do lago e do córrego do parque. “Um local tão bonito, cheio de pessoas de todas as idades, desse jeito? Não pode, né! Não entendo de política, mas imagino que alguma coisa precisa ser feita”, questionou.

Comércio local também sofre

A funcionária de um bar próximo, que preferiu não se identificar, disse que nos dias de calor o mau cheiro no fim de tarde chega a prejudicar o comércio. “As pessoas reclamam do cheiro forte, especialmente porque estamos bem do lado do córrego. Sabemos que o esgoto vem dali, mas a gente não pode fazer nada”, conta. A funcionária, que também mora próximo ao bairro, diz que em dias de fedor mais forte, o cheiro chega até sua casa, algumas ruas à frente.

Rodrigo Ferrarezi, proprietário de uma funilaria próxima ao Parque dos Espanhóis, também repete o discurso de outros munícipes, reclamando do cheiro forte e do descaso do governo municipal com o local. “Tem dias que desce tanto esgoto do córrego que a sujeira chega a marcar suas margens. Eles vêm com caminhão pipa lavando a margem. Mas isso não adianta nada, pois, no outro dia, está igual. A gente precisa é de solução para isso”, reforça.

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