
Palestrante motivacional foi candidato à Presidência da República em 2022 pelo Pros e tem milhares de seguidores nas redes sociais. Foto: Facebook/Pablo Marçal
“Fui inventar de andar com um pessoal de frequência alta, aonde fui me enfiar! Merda, 42 km! Umas cinco horas, seis horas a corrida”. Esta foi uma das mensagens gravadas pelo contabilista e social mídia de Votorantim, Bruno da Silva Teixeira, 26 anos, momentos antes de entrar em uma maratona de 42 quilômetros que o levou à morte, em 5 de junho, no Conjunto Residencial Alphaville, em Barueri.
Bruno morreu na altura do 15º quilômetro da corrida ou, aproximadamente, duas horas e meia depois, segundo o cálculo que ele mesmo fizera de correr cinco ou seis quilômetros por hora. O jovem era funcionário e aluno do pregador e coach, Pablo Marçal, proprietário da XGrow, uma plataforma digital para a divulgação e comercialização de cursos, palestras e treinamentos para quem está em busca de prosperidade econômica.
A XGrow teria sido a responsável pela organização da maratona, mas o advogado de Marçal nega responsabilidade da empresa, argumentando que foi apenas um evento entre amigos que resultou em fatalidade.
A maratona foi intitulada de “A Pior Corrida de Sua Vida”, um desafio que, segundo o coach apregoa em seus cursos, serve como estímulo para os participantes aprenderem a superar adversidades.
Candidato derrotado à Presidência da República em 2022 pelo Pros (Partido Republicano da Ordem Social), Pablo Marçal tem milhares de seguidores nas redes sociais, onde se apresenta como empreendedor, mentor, estrategista de negócios, especialista em marketing e jurista por formação.
Cresceu em Votorantim
Natural do Paraná, Bruno Teixeira cresceu em Votorantim, onde viveu com a família até começar a trabalhar com o coach, há seis meses, e se mudar para Alphaville, onde está localizada a empresa e onde foi realizada a maratona fatal.
Ainda em Votorantim, estudou no Colégio Dimensão. Formado em ciências contábeis pela Uniso (Universidade de Sorocaba), fez um curso de especialização em finanças e empreendedorismo pela Duke’s Fuqua School of Business, no estado da Carolina do Norte, Estados Unidos.
“Ele vivia para empreender. Teve seus próprios negócios em Votorantim, até que teve contato com esta plataforma e foi trabalhar em Alphaville”, comenta o irmão de Bruno, Luciano Teixeira, 47 anos.
Embora ocorrido há duas semanas, o incidente só veio à público nesta terça-feira (20), por meio das redes sociais do também pastor Anderson Silva, o mesmo que pediu orações para quebrar a mandíbula do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que é adversário declarado de Pablo Marçal e de suas técnicas de motivação.
Logo após a divulgação do incidente, a imprensa congestionou o telefone de Luciano Teixeira e ele improvisou uma nota sobre a ocorrência. Nela, alega que a família foi comunicada da morte por volta das 23h20 do dia 5.
“Ligaram falando que meu irmão estava até bem, mas após 15 km teve um mal súbito e veio a óbito. Foi uma notícia que chocou demais. Essa notícia foi dada pelo senhor Tasso [Tasso Renam Souza Botelho] advogado do Pablo Marçal, informando que ele estava no Hospital Albert Eistein, que era o mais próximo de Alphaville. Eu e outro irmão meu chegamos lá por volta das 1h20 da manhã, pra fazer a liberação do corpo”, relata na nota.
Luciano lembra que se sentiu vigiado pelos advogados de Pablo Marçal. “Não deu pra entender se era pra ajudar ou proteger o Pablo, pois não queriam que nada fosse relacionado a ele”, comenta.
Depois de passado o luto, acrescenta, ele e o irmão foram até a portaria de Alphaville em busca de explicação e tiveram acesso às imagens das câmeras de segurança. “Havia mais de 30 pessoas na maratona e nenhum apoio para emergências”, revela.
Para Luciano, seu irmão “foi atrás de um sonho, mas acabou num pesadelo”. Ainda conforme ele, Bruno era contratado como PJ (Pessoa Jurídica) e seguia um programa de cargo, carreira e salários que exigia dedicação exclusiva e trabalho até nos fins de semana. Há dois meses Bruno não vinha visitar a família, pois até em dias de folga participava dos desafios promovidos por Pablo Marçal.
“Recentemente ele participou de uma corrida de cinco quilômetros, mas 42 quilômetros é humanamente impossível. Como, depois de um dia inteiro de trabalho, entrar na noite participando de uma corrida? É muito para uma pessoa sem preparo físico”, analisa Luciano.
Omissão
Luciano Teixeira também fala sobre a falta de habilidade em dois treinadores pessoais que acompanham Pablo Marçal em todas as suas atividades, como se fossem seguranças, e que não souberam aplicar a massagem para reanimar Bruno. “Eles puseram meu irmão dentro de um carro e disseram que fizeram a massagem no trajeto até o hospital, mas não é este o procedimento”, observa.
Tão grave como a desorganização do evento, foi a omissão do coach depois da morte de Bruno, segundo Luciano. “Ele, que é um homem de mídia, não publicou nem uma nota de consolo para a família”, reclama.
Em compensação, na segunda-feira (19), o coach postou, em seu Instagram, a seguinte nota: “Homens e mulheres de verdade aguentam tranco. Mas os homens de hoje tem o aperto de mão mais fraco do que os do passado. Nós não estamos em competição, mas precisamos fazer esses meninos e essas garotas de hoje crescerem”.
Em janeiro do ano passado, a XGrow promoveu um passeio por uma trilha no Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, onde o grupo se perdeu e teve de ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros. Desde então, ele estava proibido por decisão judicial de realizar provas motivacionais em ambiente externo, razão pela corrida no interior do condomínio.
Luciano Teixeira registrou ocorrência no 2º Distrito Policial de Barueri. No momento, um advogado contratado pela família está entrando com mandado de segurança para obter imagens das câmeras de Alphaville e do Hospital Albert Einstein para verificar de que forma ocorreu o translado de Bruno. “Nós apenas queremos que seja feita Justiça para que outros não venham a ser vítimas desta pessoa que faz pregações nas redes sociais”, conclui.

Bruno Teixeira cresceu e estudou em Votorantim e, há seis meses, trabalhava com Pablo Marçal. Foto: Divulgação/Instagram