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Golpistas prejudicam pacientes, paralisam fábricas e fazem faltar combustíveis

Além de causar cancelamento de exames de saúde, falta de combustível, suspensão de produção em fábricas, bloqueadores de estradas na região são acusados de agredir piloto de stock car e empresário

Paulo Andrade (Portal Porque)

Postos de combustíveis de Sorocaba e Votorantim registraram grandes filas, e em muitos deles a gasolina já estava em falta na terça, 1. Foto: Fabiana Blazeck Sorrilha

Os bloqueios de bolsonaristas nas estradas continua causando uma série de transtornos no país, incluindo moradores da região de Sorocaba. Pessoas estão perdendo horários de exames de saúde, postos estão sem combustíveis e fábricas estão suspendendo a produção. E isso são apenas alguns exemplos dos estragos causados pelos golpistas na rotina dos cidadãos.

Maria Benedita Mota, 76 anos, moradora de Guapiara, faz tratamento de câncer na laringe no Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo. Na segunda-feira, dia 1o, ela tinha uma tomografia marcada para às 8h30, mas o exame acabou sendo cancelado porque chegou tarde ao hospital, devido aos bloqueios nas estradas.

A professora Leda Mota, filha da paciente, conta ao PORQUE que ela, a mãe, uma sobrinha e o motorista saíram de Guapiara às 3h da madrugada no dia 1o, mas só chegaram ao hospital às 11h30, em jejum, e seria necessário fazer diversos procedimentos antes da tomografia. Por isso, a médica teve que cancelar o exame.

“Em decorrência do câncer”, conta Leda, “minha mãe é traqueostomizada. Ela tem neuropatia diabética, que a deixa com mobilidade muito reduzida e DPOC [Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica]. Devido a este último, ela também faz uso oxigênio domiciliar.”

Sobre a saga para tentar superar os bloqueios bolsonaristas e chegar ao hospital, a professora conta que, saindo de Guapiara no meio da madrugada, conseguiram passar por Capão Bonito e Itapetininga sem problemas. “Já em Sorocaba, por conta da paralisação na Castelinho, tivemos que mudar a rota e passar pelo meio da cidade, que estava começando a congestionar.”

“Quando chegamos em Barueri, ficamos totalmente impedidos de prosseguir. O motorista chamou a polícia para nos ajudar a atravessar porque, além do horário, como disse, minha mãe faz uso de 0² e não poderia ficar ali”, continua Leda.

“Os policiais acionaram o COPOM e mandaram duas viaturas para nos ajudar. Elas chegaram por volta das oito horas. Fomos auxiliados por eles [da polícia] até o ponto em que pudemos seguir sozinhos.”

“Mas já eram 11h30”, afirma, “Além de tudo, ela [a mãe] tem pressão alta e diabetes. A médica achou que seria muito tempo para esperar; e também ficou receosa de ficar com ela até por volta das 18h, e diante da paralisação, também temeu pelo retorno para casa muito tarde. Vale ressaltar que o exame que minha mãe perdeu faz parte de vários exigidos pelos médicos da otorrino/oncologia”, afirma, indignada, a professora.

Falta de combustível

Outro transtorno causado pelos inconformados com a democracia é o desabastecimento de postos de combustíveis. O presidente do Sincopetro (Sindicato Patronal do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo), Zeca José Alberto Paiva Gouveia, admite em entrevistas que os bloqueios estão impedindo os caminhões de combustível de chegar nos postos em várias regiões do Estado.

Na região de Campinas, por exemplo, a estimativa é que cerca de 80% dos postos estejam sem produtos, principalmente gasolina e etanol. A região é abastecida pela Refinaria de Paulínia, isolada por bloqueios na Rodovia Anhanguera.

Em Sorocaba, o músico RB, 52 anos, conta ao PORQUE que está sem combustível para levar a esposa, que é técnica de enfermagem, ao trabalho e seus filhos, de 5 e 2 anos, na escola.

“Na noite de terça-feira procurei combustível em três grandes postos na região do Cerrado [onde ele mora]. Mas nenhum deles tinha previsão nem de quando o produto iria chegar. Hoje (quarta-feira) voltei em um posto do Central Parque, mas só a conveniência estava aberta. As bombas estavam todas paradas”, conta o músico ao PORQUE.

“Tive que desistir de procurar porque senão eu não teria gasolina nem para voltar para casa depois”, afirma.

O jovem PR, 21 anos, morador de Votorantim, conta que passou horas após chegar do trabalho na noite de terça procurando combustível para abastecer sua moto. “Fui em oito postos de Votorantim e três em Sorocaba. Por sorte achei em um posto perto da Rodoviária de Sorocaba. Senão, ficaria difícil até para ir trabalhar e ir para a faculdade depois”, conta PR, que trabalha em uma indústria química e estuda na Fatec.

Hoje, dia 2, apenas um posto de combustível funcionou na avenida 31 de março, mas com apenas duas bombas operando, uma para carros e outra para motos.

Toyota e outras fábricas param

Outra consequência dos atos contra o resultado democrático das eleições são prejuízos na produção de indústrias. A montadora Toyota, por exemplo, emitiu nota à imprensa na terça-feira, dia 1o, informando a suspensão da produção de veículos nas unidades de Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz. O motivo, admitido publicamente, foram os bloqueios bolsonaristas.

Na planta de Sorocaba, dois dos três turnos de trabalho foram suspensos.

A montadora afirma que as manifestações impactam a operação logística de entrega de peças e despacho de veículos. A empresa divulgou que está “monitorando a situação a todo o momento para checar a viabilidade de voltar à operação no menor espaço de tempo possível”.

Ainda em Sorocaba, a indústria química Color Master, que escalou os funcionários para adiantar a produção no feriado de finados, voltou atrás na decisão após ser informada que um carregamento de sete toneladas de matéria-prima estava preso em um bloqueio nas imediações de Boituva.

Amanhã, dia 3, os funcionários devem retornar à fábrica e ficar na expectativa de que o carregamento seja liberado do tumulto e a produção seja retomada.

Já de acordo com a Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional), cinco grandes fabricantes de produtos de limpeza nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina estão com a produção paralisada por conta das manifestações antidemocráticas nas estradas.

“Caminhões carregados de hipoclorito de sódio e sulfato, dois dos principais insumos usados pela indústria de produtos de limpeza, não chegaram às fábricas”, disse Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla, à Folhapress, nesta quarta-feira.

Piloto agredido em Piedade

Mais um saldo da negação golpista dos apoiadores do candidato derrotado à Presidência, Jair Bolsonaro, é o clima de insegurança e tensão gerado por eles, que às vezes se concretiza em violência real. Sergio Jimenez, piloto de stock car e empresário do ramo de combustíveis, divulgou no Instagram que foi perseguido e agredido após furar o bloqueio de bolsonaristas em Piedade, na região de Sorocaba.

Jimenez diz que foi passar por um bloqueio com um caminhão de combustível na entrada da cidade de Piedade (SP) quando começaram as agressões. “Atiraram uma pedra no vidro, mirando em mim. Continuei [dirigindo] com o caminhão e me perseguiram”, diz ele no vídeo. “Foram com o carro, tiraram o pé para eu frear, (…) acabei acertando a traseira do carro.”

“De repente, pararam no meio da rodovia e tacaram três pedras gigantes no meu vidro.”, continua a narrar o piloto, que, diante da emboscada, seguiu direto para uma delegacia, ainda sob perseguição dos bolsonaristas.

“Quando cheguei na delegacia, parei o caminhão para não obstruir a rua, e um deles começou a tentar quebrar o vidro e chutar a porta. A porta acabou quebrando e não conseguia sair do caminhão. Fui para o lado do passageiro e consegui sair. Quando pisei do lado de fora, fui empurrado e levei um soco na frente da delegacia”, contou Jimenez ao UOL Esporte.

Mais estragos golpistas

Além de questões envolvendo saúde, economia, produção, falta de combustíveis e clima de violência, os atentados contra o Estado Democrático de Direito também estão causando estragos em planos de viagens, impedindo aulas e atrapalhando o comércio na Ceagesp.

Confira reportagem do PORQUE sobre o assunto. Clique aqui.

Com informações da Folhapress.

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