
Paciente usa saco plástico no lugar da bolsa: improviso pode causar feridas e úlceras de difícil cicatrização. Foto: Divulgação/Ibrapper
Desde que o CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba) deixou de atender qualquer paciente novo que precise de bolsas de ostomia, em novembro de 2021, uma entidade da cidade tem arcado com a responsabilidade que deveria ser do Estado. Trata-se da Ibrapper, Organização Não-Governamental da Sociedade Civil (Oscip) que oferece apoio voluntário às pessoas em situação de vulnerabilidade com câncer e ostomizados.
Na semana passada, o desespero por não ter mais as bolsas e nem insumos para continuar com o atendimento levaram a entidade às redes sociais para informar que não conseguiria fornecer as bolsas, a partir de segunda-feira (10), até que o estoque fosse reposto.
“A gente fez essa chamada em rede social porque não tínhamos mais recursos para atender as pessoas”, explica Cleide Machado, assistente social e presidente da entidade.
Quem usa uma bolsa de ostomia precisa de uma nova a cada cinco dias, em média. Sem a bolsa para doar, a entidade preferiu anunciar que não atenderia até que a situação se normalizasse.
Cleide conta que, por sorte, recebeu ajuda de pessoas que tinham bolsas em casa e da Prefeitura. O governo municipal, por sua vez, atrasou o repasse dos itens à entidade.
Com a ajuda emergencial recebida, a Ibrapper permanece aberta, atendendo aos pacientes, mas não sabe até quando isso será possível. A entidade conta que precisa de repasses da Prefeitura, que atrasam, e do governo estadual, que nem chegam.
“A entidade tinha como objetivo dar qualidade de vida aos pacientes, mas acabou sendo a porta aberta para quem busca ajuda. A gente não tem coragem de receber uma pessoa com feridas, com os estomas [o orifício em que se encaixa a bolsa] abertos e negar ajuda”, diz Cleide.
Ainda segundo ela, os pacientes recém-cirurgiados são encaminhados pelo município ou pelo Estado sem nenhum tipo de auxílio, seja para obter as bolsas que substituem a ligação do intestino, como seguir a vida colostomizados ou a alimentação e os medicamentos que precisarão usar dali para frente.
Na lista dos mais de 1.600 pessoas que receberam as bolsas fornecidas pelo Ibrapper em junho, por exemplo, estão os pacientes do CHS, da Santa Casa, da Policlínica, das Unidades Básicas de Saúde e das Unidades de Pronto Atendimento.
Mês a mês, o número de pessoas que busca ajuda só cresce, tornando a situação da entidade difícil. “Sabemos que a Prefeitura não é responsável por esse fornecimento, que deveria vir do Estado, mas, por se tratar de munícipes daqui, entendemos que o governo municipal não deve se privar de também cumprir com esse papel”, opina Cleide.
Por outro lado, o Estado alega à Ibrapper que o CHS está com superlotação de pacientes para essa demanda e que o município é sim responsável pelo fornecimento do item.
O resultado reflete diretamente nos pacientes. Quem precisa da bolsa de ostomia improvisa com saquinhos de supermercado pendurados ao abdômen, com bolsas maiores do que precisam e que não estão adaptadas para o estômago aberto, o que causam feridas e úlceras de difícil cicatrização e muito dolorosas. “É como vestir um sapato 42 quando você calça 35”, explica a presidente.
Situação estadual
De acordo com Cleide, a situação vivida pelos ostomizados é a mesma em todo o Estado. O IBGE, por exemplo, não conseguiu contabilizar quantos ostomizados têm o Brasil. As prefeituras tentam comprar as bolsas de forma emergencial, o que diminui a demanda da Ibrapper, mas enquanto isso o governo estadual foge da responsabilidade, que é o fornecimento. A verba repassada pela Prefeitura de Sorocaba atrasou, mas chegou.
Em 10 de agosto, representantes da Ibrapper vão à Assembleia Legislativa, junto com o deputado Vitão do Cachorrão, para uma conferência que visa capacitar os funcionários da saúde sobre como ajudar um paciente ostomizado, quais são seus sofrimentos e necessidades.
O que diz o Governo do Estado
Sobre a falta de bolsas de colostomia para atender aos pacientes do CHS, a Secretaria de Estado da Saúde informa que está em tratativas para a compra de novos itens na região de Sorocaba. A nota diz ainda que a gestão dos Serviços de Atenção à Saúde das Pessoas Ostomizadas é tripartite, portanto, a aquisição do item deve ser realizada por município, Estado e União.
O CHS é referência para pacientes que fazem uso de bolsa de colostomia. O hospital esclarece que não há falta de insumos ou dispositivos aos pacientes cadastrados que seguem sendo atendidos.
Em média, são dispensados mais de 10.500 dispositivos por mês. No momento não estão sendo cadastrados ou admitidos novos pacientes. A Secretaria de Estado da Saúde não tem conhecimento da falta do item em outros lugares.