Busca

Falta de auxiliares de educação prejudica trabalhadores e afeta período integral

Chamamento de 33 concursados não deve resolver o problema da rede. Número real de profissionais que faltam não é divulgado pela Prefeitura, mas a sobrecarga é sentida na pele pelos auxiliares de educação que se desdobram para cuidar das crianças

José Carlos Fineis

A falta de auxiliares de educação na rede municipal de ensino está levando ao esgotamento dos profissionais e obrigando centros de educação infantil (CEIs) que funcionam com berçário e creche a cumprir apenas meio período, ou juntar turmas (em alguns casos, com idades diferentes) em uma única sala para que os auxiliares de educação consigam cuidar de todas as crianças.

O chamamento de 33 auxiliares de educação concursados, ocorrido no último dia 15, foi considerado insuficiente pela categoria, diante do tamanho do déficit desses profissionais. O PORQUE apurou que em um único CEI faltam cerca de dez auxiliares de educação; em praticamente todos eles, faltam em média dois ou três desses funcionários.

A Prefeitura não informa quantos auxiliares de educação teriam de ser contratados para suprir toda a rede. Questionamento feito pelo PORQUE no dia 24 de março, por e-mail, foi ignorado pela Secretaria de Comunicação (Secom), que adotou a política de responder seletivamente às perguntas, deixando sem resposta os temas incômodos ao prefeito Manga.
Entretanto, enquete recente feita pela internet com os auxiliares de educação da rede municipal, à qual o PORQUE teve acesso, apontou 295 votos para a opção “faltam auxiliares” e sete votos para a opção “não faltam auxiliares”. Somente no CEI 103, localizada no Jardim Sorocaba Park, foi apontada a necessidade de dez auxiliares de educação.

O chamamento de 33 auxiliares de educação concursados, ocorrido no último dia 15, foi considerado insuficiente pela categoria, diante do tamanho do déficit desses profissionais. (Foto: Secom Sorocaba)

SOBRECARGA, ESTRESSE, DOENÇAS

Outras unidades com dificuldades graves, devido à falta de auxiliares de educação, são o CEI 105 do Jardim Nova Ipanema (cinco auxiliares), CEI 82 do Júlio de Mesquita Filho (três, pelo menos), CEI 101 de Vila Formosa (três). Também apontaram carência desses trabalhadores o CEI 106 (São Guilherme), CEI 108 (Ouro Fino), CEI 70 (Nova Sorocaba), CEI 23 (Jardim dos Estados), CEI 33 (Nova Esperança), CEI 95 (Jardim Califórnia), CEI 87 (Conjunto Ana Paula Eleutério), entre outros.

“Além de faltar funcionários, os que tem estão ficando doentes. Esta semana foi bem puxada!”, desabafou uma auxiliar de educação, ao comentar a enquete. “Estou numa sala de creche 2, com 25 matriculados, sendo 23 frequentes. Estou trocando as fraldas sozinha. Esses dias, não conseguia nem levantar o braço de tanta dor”, denunciou outra funcionária.

Casos como esse violam flagrantemente os limites máximos de crianças por profissional envolvido, estabelecidos na deliberação nº 6/2020 do Conselho Municipal de Educação, que são de seis crianças por profissional na faixa de zero a um ano de idade, sete crianças por profissional na faixa de um a dois anos, oito crianças por profissional na faixa de dois a três anos, e 15 crianças por profissional na faixa de três a quatro anos.

Os auxiliares de educação atuam nas unidades que contam com berçário, creche 1, creche 2 e creche 3, em que são atendidas crianças de seis meses a três anos de idade. De acordo com o site da Secretaria de Educação, existem hoje em Sorocaba 88 CEIs que funcionam como creche, com uma ou mais fases desse segmento: berçário, creche 1, creche 2 e creche 3.

Entre as atribuições dos auxiliares – que incluem contar histórias e trabalhar o lúdico com as crianças, em sintonia com os professores –, está alimentar e trocar as fraldas das mais novas, e os estagiários, embora alguns deles não se importem em ajudar nessas tarefas, mudam pouco essa realidade. Conforme diversas fontes consultadas, a opção preferencial dos estagiários chamados tem sido por atuar na pré-escola e no ensino fundamental, fases em que as crianças geralmente não precisam de cuidados com a higiene pessoal.

IMPROVISAÇÕES E MEIO PERÍODO

Além do esgotamento dos profissionais, a falta de auxiliares de educação está causando problemas para as crianças e os pais, que, na maioria dos casos, contam com as creches para poder trabalhar. O déficit de profissionais ocorre por vários motivos, sendo os principais as aposentadorias ou afastamentos por gravidez, doença ou falecimento. Essas baixas não são preenchidas na mesma proporção, ao passo que a rede municipal só cresce em número de escolas e alunos.

Em algumas unidades, o déficit de profissionais está sendo resolvido com a redução da oferta de serviços, ou juntando-se turmas (por vezes, de idades diferentes, o que prejudica o aprendizado) para que os auxiliares disponíveis possam cuidar de um número maior de crianças. Diariamente, segundo as fontes relataram ao PORQUE, os coordenadores dos CEIs têm de passar um relatório com o número de crianças e de funcionários que compareceram. A Sedu, então, divide o número de crianças pelo de adultos, mas isso não reflete a realidade de cada turma. “Contam os estagiários, tudo. Mas o correto seria contar quantos profissionais de cada área estão presentes para cada fase”, argumenta uma auxiliar.

Mesmo com o malabarismo matemático da Sedu, diversas unidades deixaram de atuar em período integral e passaram a funcionar apenas em meio período. Segundo denúncia recebida pelo PORQUE – e que a Secom, consultada a respeito, não confirmou nem desmentiu –, passaram a funcionar em meio período o CEI 40 do Jardim Iguatemi (todos os segmentos), CEI 94 do Jardim Alegria (creche 1), CEI 72 de Aparecidinha (berçário e creche 2), CEI 81 do Parque São Bento (berçário), CEI 95 do Jardim Califórnia e CEI 67 de Vila Barão (ambos, berçário).

Nova enquete feita no último final de semana com os auxiliares de educação apontou outras unidades que passaram de período integral para meio período: CEI 105 do Nova Ipanema (duas salas de berçário), CEI 88 do Jardim Morada do Sol/Josane (três salas de creche 3), CEI 80 do Vitória Régia (berçário), CEI 68 de Vila Angélica (berçário e creche 1), CEI 104 do Jd. Morada das Flores (berçário), entre outras.

Além do número insuficiente de auxiliares de educação, profissionais de algumas unidades se queixam da falta de cuidadores para crianças com deficiência que exigem cuidados permanentes e especializados. A Prefeitura só destaca cuidadores para crianças com laudo médico que comprove a deficiência, mas existem muitas crianças matriculadas com problemas graves que, por não terem sido examinadas ainda (às vezes, devido à resistência dos pais em encarar o problema), acabam sendo cuidadas pelos auxiliares de educação e até por estagiários. (Colaborou Maíra Fernandes)

mais
sobre
educação Governo Manga sorocaba
LEIA
+