Busca

Ex-prefeito cassado de Sorocaba agora diz que lançará livro de ficção política

Ao contrário do que se esperava, livro de Crespo não dará ‘nome aos bois’ de políticos e lideranças que teriam obtido vantagens com sua cassação, como afirmava antes

Fábio Jammal Makhoul (Porque)

Crespo conta que modificou o livro por causa de uma série de ameaças recebidas por pessoas que o ajudaram a escrever a história dos bastidores da sua cassação. Foto: Reprodução

O aguardado livro do ex-prefeito José Crespo finalmente será lançado no próximo dia 11, às 17h, no Sorocaba Clube. Mas, ao contrário do que se esperava, Crespo não vai dar “nome aos bois” a políticos e lideranças que, segundo a expectativa criada por ele no ano passado, teriam recebido dinheiro e outras vantagens para apoiar sua cassação, em 2019.

Em entrevista exclusiva ao Portal Porque, por e-mail, Crespo conta que modificou o livro, que seria lançado no ano passado, por causa de uma série de ameaças recebidas por pessoas que o ajudaram a escrever a história dos bastidores da sua cassação.

“Por esse motivo [as ameaças], tive que abandonar aquela ideia, e escrevi outro texto, agora completamente apartado da realidade local, inspirado no ambiente político brasileiro”, diz Crespo, ressaltando que se trata de “uma obra de ficção”.

Apesar da mudança no conteúdo do livro, as especulações sobre as histórias que Crespo contará no livro continuam agitando os bastidores da política sorocabana. Há quem acredite que as histórias continuam sendo sobre a política local e que, apesar dos nomes fictícios, as personagens serão facilmente identificadas.

Crespo concordou em dar esta entrevista ao Portal Porque, com a única condição de que as perguntas e respostas fossem publicadas na íntegra. Como as perguntas foram enviadas por e-mail, não houve possibilidade de mudar o rumo da entrevista, após a confirmação de que se trata de uma obra de ficção.

Confira abaixo a íntegra da entrevista.

PQ – O senhor ia lançar o livro no ano passado, mas acabou suspendendo a publicação. Na época, o senhor denunciou que as pessoas que colaboraram com a obra estavam sendo ameaçadas. O senhor pode revelar quem fez as ameaças? E, agora, esse problema foi superado e a obra será, enfim, publicada no dia 11 de novembro?

Crespo – De fato, a ideia de escrever um livro revelando as verdades dos bastidores da injusta cassação que sofri em 2019 surgiu logo depois, quando várias testemunhas me procuraram. Mas quando isso foi divulgado, algumas delas receberam ameaças, o que me levou a pedir investigação ao Ministério Público, que infelizmente não a fez. Por esse motivo, tive que abandonar aquela ideia, e escrevi outro texto, agora completamente apartado da realidade local, inspirado no ambiente político brasileiro. Ou seja, o livro que será lançado em 11 de novembro próximo, no Sorocaba Clube, às 17 horas, com entrada franca, é uma obra literária de ficção.

PQ – Após suspender o lançamento do livro, o senhor apresentou uma denúncia ao Ministério Público por causa das ameaças. No documento, o senhor acusa cinco pessoas de serem “protagonistas” da “conspiração” que resultou em sua cassação: o vereador Fernando Dini, que presidia a Câmara; sua vice-prefeita Jaqueline Coutinho; o então vereador e namorado de Jaqueline na época, Hudson Pessini; Marcelo Carriel, que era delegado seccional de polícia; e Kiko Pagliato, proprietário da rádio Ipanema. O que o livro revela sobre essas pessoas?

Crespo – Essa estória acontece numa província denominada “Xiririca da Serra”, durante o período imperial brasileiro, e não envolve ou se refere a nenhuma pessoa viva ou conhecida. A trama se desenvolve num emaranhado jogo de interesses sociais e venais daquela época.

PQ – O título da obra dá a entender que o senhor foi cassado por não pagar propina para os vereadores. É isso mesmo? O senhor recebeu muitos pedidos de propina? O senhor revela essas histórias e o nome das pessoas no livro? Pode adiantar alguma história pra gente?

Crespo – Embora o livro não seja um documentário e sim uma obra de ficção, a demagogia e a desonestidade para com a coisa pública existem desde tempos imemoriais, e o objetivo do livro é convidar os leitores a uma reflexão e a uma possível guinada para um futuro melhor.

PQ – Na denúncia ao Ministério Público, o senhor afirma que há uma série de pessoas que trabalharam pela sua cassação com o objetivo de obter “vantagens políticas e/ou financeiras”. E pede que o MP investigue os crimes de abuso de poder, abuso de autoridade, improbidade, peculato e corrupção passiva e ativa, entre outros. Como o livro detalha essas histórias? O senhor tem provas de todas essas acusações?

Crespo – Não, esse livro não aborda a minha injusta cassação e nem mesmo trata das relações do Poder em Sorocaba.

PQ – Ainda segundo a denúncia ao MP, houve um “plano de desgaste da imagem do prefeito”, um “verdadeiro assassinato de reputação”, com a participação de agentes da polícia e da imprensa, que visavam  “vantagens políticas e/ou financeiras” com a cassação. Podemos dizer que este é o “enredo” do livro?

Crespo – Depois de 30 anos de dedicação exclusiva à administração pública, em seis mandatos consecutivos e sempre muito bem votado, afastei-me das políticas eleitoral e partidária, mas mantenho atenção e estudos sobre a política institucional, como advogado militante e presidente do ICPP – Instituto de Cidadania e Políticas Públicas. Esse livro, agora lançado, entusiasmou-me pela literatura e pretendo escrever outras obras, sendo que já comecei um segundo livro, cujo título será: “O Custo-Benefício da Coisa Pública”.

mais
sobre
cassação Crespo José Crespo livro prefeito
LEIA
+