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Estudantes sorocabanos protestam contra a reforma no ensino médio

Para pedir a revogação do modelo considerado antidemocrático também por professores, uma manifestação foi agendada para as 16h desta quarta-feira (15), na Praça Coronel Fernando Prestes

Fernanda Ikedo (Portal Porque)


Estudantes, que já protestaram em 2016 contra uma série de medidas de Michel Temer, voltam a promover ato na região central. Foto: Divulgação/Imprensa SMetal

“O novo ensino médio, aprovado no Governo Temer, é um show de desigualdade social entre estudantes de escolas públicas e privadas.” É o que afirma Carlos Eduardo Servulo, aluno do segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Roque Conceição Martins, localizada no Jardim Guadalupe.

Por isso, para protestar e pedir a renovação do modelo considerado antidemocrático, inclusive por professores, ele estará na praça Coronel Fernando Prestes, Centro, às 16h desta quarta-feira (15). O ato será realizado também em outras cidades do país.

“Essa reforma não contou com debate dos estudantes, além de que os índices de evasão escolar aumentam bimestralmente. Com a carga horária das matérias de ciências humanas sendo diminuídas, cada vez mais o pensamento crítico do estudante é defasado”, acrescenta Carlos Eduardo.

Um dos pontos de maior debate e reclamação da reforma é que o ensino médio passou para período integral, impedindo que muitos estudantes possam ingressar no mercado de trabalho por meio do primeiro emprego.

Um aluno que quis ser identificado apenas pelo primeiro nome – Vicente – contou que pediu para sair 45 minutos antes do encerramento das aulas, em dois dias da semana, justamente por causa do trabalho e recebeu como resposta que “para trabalhar ele teria de sair da escola”.

Membro do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Professor Júlio Bierrenbach Lima, localizada no Jardim Santa Rosália, João Bertoletti defende a revogação do novo ensino médio, pois ele oferta uma falsa proposta de preparação para o mundo do trabalho. “É simplesmente um verdadeiro retrocesso implantado em diversos estados do Brasil, um deles, São Paulo, que não condiz com a realidade da juventude brasileira”, complementa.

Ainda na opinião de João Bertoletti, o projeto de Michel Temer acabou com o sonho dos estudantes e com a carreira dos educadores que sequer tiveram formação para isso. “Os estudantes sofrem com o novo ensino médio por aumentar a carga horária e impedir o trabalho e a permanência na escola. Entre ter o que comer e estudar, qual a opção o estudante escolhe? Sabemos bem que sem comer ninguém fica”, compara.

Ele também não vê nada de novo na reforma do ensino médio e sugere que entidades que representam os estudantes e os professores sejam convocadas para opinar e apresentar ideias que levem a um verdadeiro modelo de ensino médio.

Causa grandes prejuízos

Para a coordenadora da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) de Sorocaba, Paula Penha, “esse ensino médio tem sim causado grandes prejuízos para os estudantes das escolas públicas”.

Ela explica que o modelo “não prepara para o vestibular, não tem formação cidadã, nem prepara para o mercado de trabalho. Então, infelizmente, muitos estudantes não estão vendo sentido em continuar na escola.”

O novo ensino médio retira da grade curricular disciplinas básicas como português, matemática e história para colocar os chamados itinerários formativos que são matérias rasas, na visão de Paula. “Há um rebaixamento das matérias ensinadas”, ressalta.

Já em relação aos professores – que já sofrem com a sobrecarga de trabalho – também têm prejuízos, pois são obrigados a se preparar na correria. “Muitas vezes são disciplinas alheias ao conhecimento do profissional que sabe que aquele conteúdo não vai agregar nada ao estudante”, observa.

A coordenadora da Apeoesp Sorocaba lembra que a reforma no ensino médio foi aprovada às pressas e sem diálogo com a sociedade. “Tem uma intencionalidade do Governo do Estado nisso para que os filhos da classe trabalhadora sejam mão de obra barata no mercado de trabalho ou fiquem de fora mesmo”, acusa.

Os atos que serão realizados em todo o país fazem parte da jornada convocada pela Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas). Em Sorocaba há o apoio do Diretório Central dos Estudantes da UFSCar, de grêmios estudantis e ainda do Levante Popular da Juventude.

Histórico de luta

Em 2016, os estudantes secundaristas ocuparam escolas em todo o país contra as medidas do governo Michel Temer na educação. Na época, foram a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 241 que congelou os gastos públicos por 20 anos; a reforma do ensino médio por meio de medida provisória, bem como o projeto de lei batizado de “Escola sem Partido” ou “Lei da Mordaça”.

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