Desde o início do período de estiagem, o nível da represa de Itupararanga tem caído mês a mês, e a expectativa é que chegue próximo aos 30% até o encerramento do período de seca, previsto para durar até o fim deste ano. O alerta é de André Cordeiro, diretor-presidente da Fundação Agência da Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê. A represa, que atingiu o 50% em abril, agora está em torno de 48%, e Cordeiro não descarta a necessidade de um novo racionamento na cidade. “Do meu ponto de vista, as cidades já deveriam estar fazendo racionamento ou medidas mais fortes para reduzir o consumo”, recomenda.
A situação de 48% pode parecer confortável. No entanto, Cordeiro explica que esse montante só está nesse nível por conta da medida de reduzir a vazão da saída do reservatório, o que deve manter a situação um pouco melhor, se comparada ao ano passado. Ele lembra, porém, que como essa redução prejudica a qualidade do rio Sorocaba, pode não ser mantida por muito tempo. “Temos reunião a cada 15 dias do GT-Crise do Comitê para avaliar as condições e propor (se for o caso) alterações. O problema da vazão reduzida é que prejudica a qualidade do rio Sorocaba a jusante do reservatório, e pode dificultar as captações de Votorantim e Sorocaba. Por isso, pode ser necessário aumentar a vazão de saída antes do final da estiagem”, adianta Cordeiro.
Para se ter uma ideia do impacto, o rio Sorocaba hoje está com vazão de 2,5 metros cúbicos por segundo, montante que causa prejuízo à qualidade do rio. No ano passado, para conter os efeitos da seca histórica que impactou diretamente o volume do reservatório, a redução da vazão chegou em 1,75 metro cúbico por segundo.
Responsável pelo abastecimento de água de 85% de Sorocaba e mais sete cidades da região, a represa de Itupararanga atingiu seu volume mais baixo dos últimos 96 anos no fim de 2021, quando o reservatório chegou aos 18%. Para recuperar o nível e se preparar para o período estiagem entre os meses de outono e inverno, Sorocaba implantou esquema de rodízio do dia 17 de janeiro a 3 de abril, cuja meta era atingir 50% do volume. De acordo com os dados do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), o volume total, economizado no período, foi de 1.200.000 m³.
POLÍTICAS DE REDUÇÃO
Sobre o racionamento realizado no início do ano em Sorocaba, Cordeiro fala que o modelo até surtiu efeito, principalmente com o apoio da população, porém, o efeito na captação foi mínimo. “As políticas de redução de consumo e de perdas devem ser contínuas, com o incentivo de uso de água de chuva, e políticas de aumento de áreas de recarga e revitalização dos corpos de água urbanos. Não dá para deixar para tomar alguma atitude somente quando a corda está no pescoço.
Racionamento geralmente prejudica mais as populações que já são mais vulneráveis, seja porque estão na maioria das vezes distante das fontes (como é o caso de áreas da zona norte que são as primeiras a ficar sem e as últimas a retornar o fornecimento de água), seja porque tem menos capacidade de guardar água (muitas casas não têm caixa d’água ou têm caixas pequenas que não dão suporte para períodos maiores de desabastecimento)”, defende Cordeiro. Para ele, considerando essas questões, o racionamento como única ferramenta não é ideal para mudanças efetivas, mas sim uma política municipal de proteção e conservação de água, “que não existe”, reitera.
MEDIDAS POSSÍVEIS
Medidas possíveis para a redução são mais simples do que se pensa, e partem de mudanças de atitudes cotidianas, como redução no consumo excessivo do bem na hora do banho, de escovar os dentes e mesmo de lavar louças. Evitar lavar carros e calçadas com mangueiras, bem como reutilizar água da chuva ou da máquina de lavar, são algumas das atitudes que fazem a diferença.
Aline Carmona Prestes é dona de casa e viu o dinheiro minguar quando o marido perdeu o trabalho no início da pandemia. Para pagar as contas fixas da casa, como água e luz, determinou novas regras em sua casa, para economizar. “Á água da máquina já lava o quintal e aproveitamos a água da chuva. Mas o mais importante é que conversei com as crianças e eles hoje são as fiscais aqui de casa das torneiras e das luzes. Os banhos são mais rápidos e luz acesa só quando precisa”, conta.
Aline explica que também estão pensando em um sistema para reúso da água da chuva dentro da casa, principalmente para a privada, que gasta muita água que não precisa ser tratada.
Para a professora Letícia Santos, é importante essa conversa com as crianças, pois elas entendem, replicam e fiscalizam os pais. “Por isso a educação ambiental na escola é fundamental”, fala ela sobre a filha, de 13 anos, e que também tem a missão de ser a “fiscal” dos adultos da casa. “Nós, culturalmente, crescemos sem entender o desperdício, pois sempre aprendemos que éramos um país abundante em recursos naturais. A geração deles paga essa nossa conta, então eles precisaram se conscientizar cedo.”
Além de ser quem fecha as torneiras e cobra dos banhos longos, a filha é quem separa os materiais recicláveis. “Outra coisa é a informação: em casa sempre comentamos sobre as notícias que falam de desmatamento, de falta de água, de quantidade de lixo produzido. Tem que saber os impactos de tudo isso na nossa vida. Não é terrorismo, é criar para a vida real!”