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Especialistas em patrimônio histórico comentam mudanças no Mirante Ondina

Imóvel, tombado como patrimônio histórico de Sorocaba, passa por reformas e deve ser transformado em um centro comercial com lojas e estacionamento

Fernanda Ikedo (Portal Porque)

Prédio histórico, construído na década de 1930, foi moradia, até o início da década de 1980, do engenheiro Alfredo Santarini e de sua esposa Ondina Rolim. Foto: Fernanda Ikedo/Portal Porque

Quem passa pelo início da Rua Cesário Mota, Centro de Sorocaba, tem a atenção voltada aos tapumes e à movimentação ao redor do prédio histórico construído na década de 1930, onde morou, até o início dos anos 80, o engenheiro Alfredo Santarini e sua esposa Ondina Rolim: o Mirante Ondina. O imóvel passa por reformas. Por isso, as casas vizinhas foram derrubadas.

O Portal Porque aproveitou o tema para ouvir especialistas em patrimônio histórico e discutir a preservação e as novas formas de utilização e acesso ao bem tombado.

Para a arquiteta do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), Maíra Brançam Sfeir, por exemplo, “para que haja a preservação de um bem, é essencial que ele tenha um uso, não necessariamente o mesmo do destino original, mas que este uso respeite o edifício, independente se será comercial, cultural, residencial ou público. Um imóvel abandonado se deteriora muito rápido”.

Ela, que também é conselheira do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, lamenta a demolição das construções em torno do Mirante Ondina e comenta sobre a questão histórico-urbana. “No caso do Mirante Ondina, acredito que a maior questão não é o edifício em si, que terá um uso e será preservado, mas de como seu entorno está sendo modificado”, observa. “Existe uma discussão urbana envolvida, um contexto histórico remanescente que mereceria um olhar mais cuidadoso e que, se preservado, poderia ter potencializado ainda mais sua identidade histórica e cultural.”

Maíra destaca que a Rua Cesário Mota tinha e ainda tem vários casarões antigos dignos de preservação, alguns em estudo de tombamento. Infelizmente, os de entorno imediato do Mirante Ondina foram demolidos.

A advogada Grace Carreira, que é representante da OAB no Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), ressalta que o tombamento não pode representar um ônus excessivo ao proprietário. “Muitos bens tombados são de propriedade privada e o proprietário tem o direito de usar, fruir e dispor dentro dos parâmetros do tombamento”, pontua.

Ela diz ainda que a permissão do reaproveitamento ao redor pode ser bom para ajudar que o bem seja preservado, desde que se respeite os limites da Resolução do Tombamento.

Uma leitura histórica da cidade

De acordo com o jornalista Celso Ribeiro, conhecido por Marvadão, que gravou um vídeo no local para seu canal no Youtube, as características da arquitetura do prédio podem ser agora melhores observadas.

Por meio dos bens tombados é possível ler a história de Sorocaba por diferentes épocas. É o que declara Antonio Sarasá, especialista em restauro do patrimônio histórico, se referindo ao valor da preservação desses monumentos culturais e artísticos.

“Sorocaba tem vários exemplares bacanas como Casarão de Brigadeiro Tobias, Chácara do Quinzinho, Pátio Cianê, referências de várias épocas. Se isso for trabalhado numa educação patrimonial é muito legal porque consegue ver que foram escolhidos para representar determinadas épocas”, explica.

Essas mudanças como no entorno do Mirante Ondina, de acordo com Sarasá, com centros comerciais, ocorre na Europa e tem ocorrido em vários outros locais. Outro exemplo que cita é em Porto Madero, na Argentina.

De acordo com a lista de bens tombados em Sorocaba, elaborada pela Secretaria Municipal de Cultura, há 47 imóveis tombados no município.

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