Busca

Escritor Camilo Vannuchi fala de livro que narra tortura e morte de seu primo na ditadura

Feira literária continua neste domingo no Sindicato dos Metaúrgicos de Sorocaba. Acompanhe a programação ao vivo e nas redes do Portal Porque

Mayara Medeiros Cruz

Jornalista e escritor, Camilo Vannuchi foi dos palestrantes da 1ª Feira Literária do SMetal (FLIS) neste sábado, dia 28. Foto: Mayara Medeiros Cruz

A 1ª Feira Literária do Sindicato dos Metalúrgicos (FLIS) iniciou neste sábado (28) com nomes de peso, como o jornalista e escritor Camilo Vannuchi. Além de falar de obras suas já publicadas como “Vala dos Perus: uma biografia” (2020), “Marisa Letícia Lula da Silva” (2020) e “Margarida, coragem e esperança – Os direitos humanos na trajetória de Margarida Genevois” (2020), divulgou sua mais recente obra, com previsão de lançamento para novembro de 2023: “Eu só disse meu nome”, biografia do sorocabano Alexandre Vannucchi Leme, sequestrado, torturado e assassinado pela ditadura militar em março de 1973.

Vannuchi, o estudante

Num auditório atento, Camilo falou dos sobressaltos que a biografia de Alexandre, seu primo, trouxe no processo criativo e nas percepções sobre a ditadura no Brasil e suas cicatrizes. “Escrever esse livro me colocou em outro lugar, pois eu também estou nesse livro, em diversos momentos”, explicou.

“Ouvi muitas histórias sobre o Alexandre quando eu era menino, mas minha percepção mudou mais tarde, com uns 16 anos. Antes disso, com 13, as pessoas perguntavam o que eu era do ‘Vannuchi estudante’ ”.

Dessa forma, o passado que permeava a história familiar de Camilo foi tomando espaço cada vez mais significativo em sua vida e se alastrou ao território profissional. Jornalista, doutor e professor universitário, ele diz fazer questão de manter acesa a luz do conhecimento da verdade sobre o passado obscuro e – ainda – arquivado, sucateado e destruído, quanto às atrocidades cometidas pelos militares ditadores.

“Não tem como eu contar a história do Alexandre Vannucchi Leme sem falar do que ele sofreu, aos 22 anos, em 48 horas preso e morto”. O biógrafo alertou ao público presente que muitos relatos das torturas sofridas por Alexandre, em apenas dois dias, são extremamente violentas, mas que precisam ser contadas para que a verdade prevaleça.

Os porões da ditadura

O jornalista lembrou que o pai, Paulo Vannuchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos (2005-2011) e primo em primeiro grau de Alexandre Vannucchi, ficou preso pela ditadura dos 20 aos 25 anos de idade. “Isso, de fato, gerou enormes impactos nas vidas daqueles jovens presos. Impacto social, emocional, profissional, sexual e tantos outros fatores”, refletiu.

Camilo salientou que tanto nas dependências do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) como nos Destacamentos de Operações de Informação – Centros de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI) não havia porões, as torturas e assassinatos eram feitos em salas de livre acesso. A expressão “porões” corrobora com a sensação indigna em que os presos eram expostos e sobre a crueldade que alimentava o regime militar da época.

Nessa nada moderada, impopular, porém necessária reflexão, Camilo Vannuchi defendeu todas as formas de memória, debates, manifestos e eventos que tragam à tona esse cinza e recente passado que o Brasil. “A Comissão da Verdade tem como objetivo a pesquisa, levantamento de dados e documentos. Cabe agora ao Ministério Público e às famílias de assassinados e desaparecidos processar e ‘ficar no pé’ para que os culpados sejam punidos”, concluiu.

Podcast

Em primeira mão, Camilo anunciou que, após a publicação de seu livro, será criado podcast que dará continuidade aos conteúdos oriundos da repressão. “Essa é uma maneira de chegar aos mais jovens, que são mais digitais, mas também a todos que queiram entender o que foi esse período”, salientou Vannuchi.

Dia 29, segundo dia de FLIS

11h – Apresentação do músico Rolando Beltran
Palestra Big Techs e IA: uma nova colonização, de Sérgio Amadeu (auditório 4º andar);

11h – Lançamento do selo infantil Baderninha com contação da história O riso de Luiza de Bruna Burkert. (auditório térreo)

14h – Roda de conversa do Flamas (Fórum de Luta Antimanicomial), será exibido curta-documentário sobre saúde mental (auditório do 4º andar);

15h – Show de Rolando Beltran, no auditório térreo;

15h – Lançamento do livro “Histórias pra quem dormir: Expondo os contos de fadas para o despertar”, das escritoras do Movimento Atrava-se, Nicole Aun e Alessandra Rodrigues. (Sala 7 do prédio espelhado).

16h – A escritora Débora Brenga oferecerá oficina de escrita criativa “De Hai Kai a Hai Kai se chega a Shangai” (sala 6 do prédio espelhado);

17h30 –  Tiago Giovanni apresenta o show “Toog”, com quarteto de jazz; Palestra de Fernando Morais “Como criar um best-seller” (auditório do 4º andar);

20h – Abertura do sarau, no auditório térreo, com a performance de Rosa Paiva “Em Pele de Folha, Rio me Criou”, com a participação especial de Lauren Archilla, na flauta, e Yolanda Oliva, baixo.

mais
sobre
1ª Feira Literária Camilo Vannuchi cultura Feira Literária do SMetal FLIS sorocaba
LEIA
+