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Enquanto Bolsonaro abandona o país, golpistas permanecem em Santa Rosália à espera de um milagre

Alheios à despedida do presidente, os golpistas de Santa Rosália continuavam clamando, na tarde de hoje, por uma intervenção militar

Maíra Fernandes (Portal Porque)
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O PORQUE esteve no acampamento na tarde desta sexta-feira, 30, e contou cerca de uma centena de “patriotas” abandonados à própria sorte pelo ainda mandatário Jair Bolsonaro. Foto: Maíra Fernandes/Porque

Enquanto o ainda presidente Jair Bolsonaro (PL) abandonava o país em um avião da Força Aérea Brasileira rumo aos Estados Unidos, o grupo de golpistas acampados em frente à base do Exército de Sorocaba, em Santa Rosália, desde o início de novembro, permanecia no local à espera de um milagre. O PORQUE esteve no acampamento na tarde desta sexta-feira, 30, e contou cerca de uma centena de “patriotas” abandonados à própria sorte pelo ainda mandatário.

Um pouco antes, Bolsonaro havia feito uma live, a última como presidente, em que chorou, posou de vítima e condenou o ato terrorista frustrado que seus apoiadores estavam organizando em Brasília. Alheios à despedida do presidente e ao clima de “fim de feira” que tomou conta do Governo Bolsonaro desde a derrota nas urnas, há dois meses, os golpistas de Santa Rosália continuavam clamando, na tarde de hoje, por uma intervenção militar para mudar o que está posto: a posse do presidente eleito e diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), daqui a menos de 48 horas, no dia 1º. de janeiro, em Brasília.

Menos esfuziantes do que o de costume, sem foguetórios ou som alto entoando hinos militares ou orações, o grupo, formado em sua maioria por idosos, parecia desacreditar da promessa espalhada via fake news pelos grupos bolsonaristas, e jamais negada pelo próprio, de que haveria alteração no resultado das eleições gerais nas próximas 72h, que, passados quase dois meses, ainda não aconteceu.

Mesmo assim, acomodados em suas cadeiras, protegidos por barracas, alimentados por quilos de comida doadas e seguros pelos cones que interditam ilegalmente as ruas nos arredores, sem que tenha havido, até o momento, alguma ação das forças de segurança da cidade, os golpistas permaneceram em seu propósito de atravancar o trânsito e causar transtorno aos moradores das proximidades.

Uma parte dos golpistas sorocabanos, no entanto, foi até Brasília para tentar, do mesmo modo, tumultuar a posse de Lula no próximo domingo, de acordo com publicação desta sexta-feira do Cruzeiro do Sul, jornal que se transformou em porta-voz e assessor de imprensa do grupo golpista.

O fechamento das ruas, no entanto, surpreendeu a vereadora Iara Bernardi (PT), que havia ouvido do secretário de Segurança Urbana, Alexandre Caixeiro, na manhã desta sexta-feira, que os cones haviam sido retirados e as vias liberadas, mediante negociação. Ao ser informada pelo PORQUE de que, até a tarde desta sexta-feira, tanto a avenida Roberto Simonsen quanto seus acessos permaneciam fechados, a parlamentar afirmou que irá, mais uma vez, cobrar das autoridades responsáveis.

Ao PORQUE, o secretário de Segurança afirmou que conversou com os manifestantes e que houve um acordo para que o grupo tirasse os cones e desobstruísse as vias. Informado pela reportagem que os cones ainda estavam fechando as ruas na tarde de hoje, Caixeiro disse que iria verificar a situação e que iria entrar em contato com a Polícia Militar e a Urbes para que as vias sejam liberadas.

Desde o início do acampamento, o PORQUE vem noticiando reclamações e os problemas causados pelo ato antidemocráticos dos sorocabanos que, mimetizando outros grupos no país, acabaram por tomar a frente do prédio do Exército, a fim de pressionar um golpe militar, por não aceitarem a decisão das urnas.

Sem despedida

A balbúrdia dos “patriotas” ao longo desses dois meses, enfatizou ainda mais o silencio inédito e sepulcral de Bolsonaro que, na manhã desta sexta-feira, resolveu, enfim, falar para os seus, mas, em tom menos jocoso, e com direito à lágrimas. Na live, apesar de não pedir o fim dos acampamentos, assumiu, veladamente, o resultado das urnas, ao dizer que 1º de janeiro não é o “fim do mundo”, e que perde-se uma batalha, mas não a guerra; no entanto em nenhum momento, por mais que relatado pela mídia e exposto no Diário Oficial, assumiu sua partida, deixando os compatriotas antes mesmo do término do seu mandato.

A vida imita a arte

A fuga do presidente, dois dias antes da posse, traz à tona uma cena ainda presente no imaginário do brasileiro de pouco mais de quatro décadas, e a internet não perdoou. Muitos perfis republicaram o último capítulo da antológica da novela “Vale Tudo”, de Gilberto Braga, e datada do ano de 1989, trazendo a cena final em que o vilão, o empresário corrupto Marco Aurélio, interpretado por Reginaldo Faria, foge do país, cheio de dinheiro. Dentro do jatinho, o personagem Marco Aurélio manda uma banana para o país, ao som da música “Brasil”, de Cazuza e cantada por Gal Costa.

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