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Enquanto apoia atos golpistas, Manga mantém cruzada contra a Marcha da Maconha

Fábio Jammal Makhoul (Portal Porque)

Apesar de todo o teatro que Manga vem fazendo há três semanas, a Marcha da Maconha deve mesmo ocorrer em Sorocaba no próximo sábado, dia 12, a partir das 14h, com início na praça do Fórum Velho. Foto: Instagram/Marcha da Maconha

O prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) não teve qualquer problema em apoiar os atos criminosos que bloquearam a rodovia Raposo Tavares em Sorocaba para exigir um golpe militar que impedisse a posse do presidente Lula (PT), eleito democraticamente pelas urnas. Manga também não fez nada, até agora, para impedir as manifestações igualmente golpistas e criminosas que ocorrem há uma semana em frente à base do Exército em Sorocaba, no bairro de Santa Rosália. Mas a cruzada populista do prefeito contra a Marcha da Maconha continua a todo vapor. Nesta terça, 8, Manga protocolou um projeto de lei “prioritário” na Câmara Municipal para impedir a realização do evento em Sorocaba, apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) já ter liberado a Marcha da Maconha em todo o Brasil (leia aqui).

O prefeito divulgou até mesmo um vídeo no início da noite de hoje para falar do projeto “prioritário” que enviou para a Câmara, com o pedido de realização de uma sessão extraordinária para votar a proposta. No entanto, seu projeto não vale nada na prática, porque o STF já decidiu sobre a questão. Desta forma, Manga está gastando dinheiro público e atrapalhando o andamento do Legislativo com um único objetivo: agradar sua base conservadora, em que boa parte dos eleitores é ligada à igreja evangélica.

Apesar da “guerra” declarada pelo prefeito e de todo o teatro que ele vem fazendo há três semanas, a Marcha da Maconha deve mesmo ocorrer em Sorocaba no próximo sábado, dia 12, a partir das 14h, com início na Praça Frei Baraúna, região central da cidade. Até a publicação desta reportagem, vinte dias após Manga entrar com ação contra o evento, a Justiça ainda não havia se manifestado sobre o pedido de liminar do prefeito para impedir a realização da Marcha. A ação tramita na Vara da Fazenda Pública e está nas mãos do juiz Alexandre de Mello Guerra.

Nas redes sociais, os organizadores da Marcha da Maconha confirmaram o evento para o próximo sábado, com concentração no início da tarde na praça do Fórum Velho. A passeata deve sair às 16h20, percorrendo as principais ruas do centro da cidade. “Bora mostrar que Sorocaba não tem só coxinha! Tem muita gente do bem, disposta a compartilhar conhecimento e bater de frente contra a opressão”, diz a postagem de hoje dos organizadores da Marcha, lembrando que faltam quatro dias para o evento.

Marcha da Maconha x atos golpistas

Na semana passada, os organizadores da Marcha publicaram uma nota falando sobre os ataques que sofrem do prefeito enquanto Sorocaba é palco de uma série de protestos antidemocráticos, que, primeiro, bloquearam o tráfego na rodovia Raposo Tavares e, agora, causam transtornos nos arredores da base do Exército em Sorocaba, no bairro de Santa Rosália.

“Não iremos nos calar diante de tal balbúrdia! Nosso Estado é uma DEMOCRACIA, todos precisam respeitar as decisões tomadas pelo POVO! Incitar atos que levem a golpe militar, como muitos vêm fazendo, é crime!”, diz a nota dos organizadores.

“Há uns dias sofremos ataques de nosso gestor e de parte dos cidadãos da cidade por exercermos nosso direito constitucional, garantido pelo artigo 5°, inciso XVI da CF, garantido também pela ADPF 187. Agora presenciamos atos totalmente criminosos, enquadrados nas leis 1802/1953 e 14.197/2021 como Crimes Contra o Estado Democrático de Direito, sem que nenhuma providência venha sendo tomada. Vale ressaltar que qualquer autoridade que incite, participe ou apoie tais atos podem incorrer em ato de improbidade administrativa!”

O ataque populista de Manga

No dia 18 de outubro, o prefeito Rodrigo Manga publicou um vídeo em suas redes sociais anunciando que recebera um ofício comunicando a realização da Marcha da Maconha. Populista, Manga despejou preconceitos e desinformações sobre o evento.

No dia seguinte, o prefeito reuniu a imprensa na Prefeitura para, junto com vereadores da direita, anunciar um “conjunto de medidas de guerra contra a realização da Marcha da Maconha”. O pacote de Manga inclui uma ação cautelar na Justiça com pedido de liminar contra a realização da Marcha da Maconha; a negativa da autorização municipal para o ato, o que contraria a decisão do STF; reuniões em Brasília com as presidências da Câmara e do Senado, para articular uma emenda constitucional que inviabilize a Marcha da Maconha, e visitas aos prefeitos de capitais e regiões metropolitanas para angariar apoio.

Em nota, os organizadores da Marcha da Maconha se defenderam dos ataques do prefeito e esclareceram os objetivos do evento. “A Marcha da Maconha se trata de um conceito de manifestação, que busca a discussão democrática sobre a alteração de leis que julgamos problemáticas. Ou seja, somos um coletivo social para disseminar conhecimento e buscar mudanças”, explica a nota.

“Não somos marginais, não estamos aqui para fazer apologia às drogas. Somos civis, como qualquer outro, buscando evolução no quadro social do país. Enquanto em muitos países desenvolvidos o estudo da maconha e sua aplicação medicinal, bem como a exploração monetária do uso recreativo avançam dia a dia, no Brasil ainda discutimos fatos comprovados cientificamente. Ainda discutimos o inegável poder terapêutico da maconha. Isso é absurdamente retrógrado!”, diz a nota.

Os organizadores da Marcha destacam ainda que trabalham para levantar a discussão sobre os danos sociais causados pela “Guerra às Drogas”, que oprime, encarcera e mata a população preta e periférica, enquanto os que realmente lucram com o tráfico seguem livres e seguros.

“Nossa manifestação é totalmente dentro da legalidade, temos esse direito garantido pelo artigo 5º, inciso XVI, da Constituição da República Federativa do Brasil e, além disso, o Supremo Tribunal Federal já decidiu, por unanimidade, a legalidade do nosso manifesto, não nos enquadrando no crime de apologia às drogas. Lutamos pela desmistificação da maconha, que não é porta de entrada para nada! Maconha é remédio e salva vidas! Enquanto o álcool, que é legalizado e socializado amplamente, mata diariamente”, ressalta a nota.

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