
‘Com grande esperança, declaro o fim da covid-19 como emergência sanitária global’, anuncia o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Foto: Fabrice Coffrini/Pool via Reuters
Sorocaba assiste a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar o fim da covid-19 como uma Emergência Pública de Importância Internacional (ESPII) com mais de três mil mortos na conta. Na prática, a OMS não decreta o fim da pandemia. A organização, segundo seu regulamento, pode apenas determinar o início ou o fim de uma emergência global.
Ao todo, a pandemia da covid-19 durou três anos, desde a declaração de ESPII, o título mais alto de alerta da OMS. Foram cerca de 20 milhões de mortes em todo o mundo e aproximadamente 80 milhões de pessoas infectadas.
“O comitê de emergência contra a covid-19 se reuniu pela 15ª vez e recomendou a mim que declarasse o fim da emergência em saúde pública de importância internacional. Aceitei a recomendação. Com grande esperança, declaro o fim da covid-19 como emergência sanitária global”, anuncia o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“Entretanto, isso não significa que a covid-19 chegou ao fim enquanto ameaça global de saúde. Na semana passada, a covid-19 clamava uma vida a cada três minutos – e essas são apenas as mortes das quais nós temos conhecimento”, completa.
Negacionismo nacional e local
No Brasil, os dados apontam que mais de 700 mil pessoas perderam a vida durante a crise sanitária, em meio ao negacionismo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sob seu governo, enquanto negava a gravidade da doença e debochava das mortes, o país afundava com hospitais lotados e a fome voltando a fazer parte da vida da sociedade brasileira.
Em Sorocaba, no auge da doença, o então vereador, hoje prefeito, Rodrigo Manga (Republicanos), repetia o nefasto negacionismo em diversas ocasiões. Em março de 2020, o então parlamentar visitou o hospital de campanha, instalado na cidade pelo Governo do Estado, para alegar a falta de necessidade do mesmo.
Em abril do mesmo ano, Manga tentou emplacar o isolamento vertical, destinado para as pessoas de alto risco, o que era refutado pela comunidade médica internacional.
No mesmo mês, ele criticou o isolamento imposto pelo então governador João Dória e fez uma live colocando em xeque a gravidade da covid-19. Ainda enquanto vereador, protocolou requerimento na prefeitura para flexibilização da quarentena.
Já em maio, voltou ao hospital de campanha para dizer que o investimento era desnecessário e postou outro vídeo no qual questionava o número de casos de pessoas infectadas na cidade.
Num dos episódios mais graves, Manga tentou invadir a Santa Casa. Segundo ele, não havia número suficiente de internados com a covid-19 que justificasse a quarentena e os investimentos.
Em junho, ao lado do futuro secretário de Saúde, também negacionista, Vinícius Rodrigues, fez uma live para dizer que a pandemia acabaria em junho de 2020. Em agosto, infectado pelo vírus, Manga fez outra live na qual defendeu o tratamento com cloroquina, método comprovadamente ineficaz.
Já prefeito de Sorocaba, a cidade viu as mortes por covid-19 aumentarem significativamente. Manga continuou negando a gravidade da situação e chegou a determinar o tratamento com cloroquina na rede pública de saúde.
Com Manga prefeito, o número de mortes subiu assustadoramente. Nos cinco primeiros meses de 2021, a cidade registrou 1.364 óbitos contra 563 ocorridos no ano anterior. Das cerca de 3,2 mil mortes por covid, 82,41% delas aconteceram no governo Manga.
Em 2021, pressionado pelo número de óbitos e com os hospitais lotados, o prefeito antecipou diversos feriados na cidade como forma de conter a disseminação da doença. Os dias parados aconteceram entre 31 de março e 6 de abril, mas ficaram de fora diversas áreas.
A indústria foi uma delas, fazendo com que mais de 50 mil trabalhadores ficassem desprotegidos. Além disso, como era considerado feriado, o número de ônibus em circulação era menor e os diversos casos de aglomeração foram registrados.
Diante da situação, o SMetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região) ingressou com uma ação civil pública contra o prefeito. Em 30 de abril de 2021, a juíza Karina Jemengovac Perez foi favorável à ação.
Na decisão, a juíza afirmava que a Prefeitura de Sorocaba, ao deixar de fora os trabalhadores do setor, “destoa dos preceitos de combate à pandemia, já que estabelece uma discriminação descabida de proteção aos trabalhadores, em desprestígio à máxima efetividade das medidas preventivas em prol de determinada categoria”. O caso ainda segue na Justiça.
***Com informações da Agência Brasil