
A jornalista Daniela Arbex transpôs para a literatura a história do maior manicômio do Brasil, o Colônia, de Barbacena (MG). Foto: divulgação
A jornalista e escritora Daniela Arbex apresentará a palestra “Manicômios nunca mais” nesta quinta-feira, 24, às 19h, no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), com entrada gratuita.
A palestra abre a programação do evento do Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba (Flamas): “TAC Sorocaba e os desafios da saúde mental: 10 anos de uma luta permanente”, que discutirá o fechamento dos hospitais psiquiátricos na cidade, que já foi considerada o maior polo de manicômios da América Latina.
O TAC em questão é o Termo de Ajustamento de Conduta firmado em 2012 perante o Ministério Público do Estado de São Paulo, no bojo da ação civil pública que reuniu inúmeras denúncias de maus-tratos aos pacientes, culminando no encerramento das atividades dos hospitais psiquiátricos de Sorocaba.
Os maus tratos deram lugar, então, à implementação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no município, com a criação das Residências Terapêuticas, que funcionam como moradia aos sobreviventes dos manicômios da região, e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que contam com equipe multidisciplinar para atendimento de pessoas em sofrimento psíquico nos territórios e em liberdade.
O TAC assinado na região de Sorocaba é considerado modelo nacional de transição dos manicômios para a implementação da RAPS.
Daniela pesquisou sobre hospícios no Brasil, que ao longo dos anos não abrigaram apenas “loucos”, mas também os mais diversos tipos de marginalizados. Em seu livro, “Holocausto brasileiro” (2013), Daniela discorre sobre o maior manicômio do Brasil, o Colônia, em Barbacena, no sul de Minas Gerais, onde ocorreram 60 mil mortes ao longo de sua existência.
A obra inspirou a série “Colônia”, dirigida por André Ristum, disponibilizada pelo streaming Globo e GloboPlay.
“Holocausto brasileiro”, editado pela Geração Editorial, já havia sido reconhecido, em 2013, como o melhor livro-reportagem do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e agraciado, no ano seguinte, com o 2º lugar no 56º Prêmio Jabuti, na mesma categoria. Em 2019, o livro foi reeditado pela editora Intrínseca.
De acordo com as militantes do Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba, Tamiris Mazetto e Thaís Lopes, o Flamas foi ator importante na construção de um novo modelo de cuidado em saúde mental em Sorocaba, não apenas denunciando o funcionamento higienista dos manicômios da região, mas acompanhando o processo de desinstitucionalização na cidade até hoje. Para elas, a luta antimanicomial é permanente, contra um cotidiano de dor e de privação de direitos dos usuários da saúde mental.
Performance e documentário
A abertura da palestra contará com a performance artística “Loucas ou enlouquecidas? Diálogos entre Estamira, Stella do Patrocínio e Carolina Maria de Jesus” com Clarice Santos, Nia Kuji e Flor Maria.
O evento também contará com o lançamento do documentário “A liberdade é minha casa: a luta antimanicomial na região de Sorocaba”, com duração de 30 minutos, realizado pelas estudantes de jornalismo Erica Vaz, Monique Nunes, Murilo Oliveira, Saulo Sadraque e Vanessa Godinho, como trabalho de conclusão de curso.
Mesa de debate
A programação sobre a luta que resultou no fechamento dos manicômios em Sorocaba e região , “10 anos de uma luta permanente” terá continuidade no sábado, dia 26, a partir das 9h, com “Convivências plurais e economia solidária criativa” sob coordenação de Soraya Diniz, com apresentações culturais e artísticas de frequentadores dos serviços de saúde mental.
A mesa de debate ocorrerá às 14h: “Memórias do TAC: o fechamento do maior polo manicomial da América Latina”, com atores de entidades e de movimentos sociais envolvidos na luta pelo fechamento dos hospitais psiquiátricos da região de Sorocaba. Presenças confirmadas: Marco Pereira, Carolina Duarte, Marcos Garcia, Lúcio Costa, Ermínia Ciliberti, Ione Xavier, Izídio de Brito.
Na ocasião, será lançado também o livro “Residentes: história e cotidiano de ex-pacientes de manicômios em Sorocaba”, da jornalista Carol Fernandes. O livro-reportagem estará disponível para compra na Amazon, no formato e-book, no valor de R$ 20. A versão física de “Residentes” chegará à plataforma digital no mês de dezembro. Todo o lucro obtido com a venda será revertido ao Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba (Flamas).
Serviço
A entrada é gratuita tanto para a palestra da Daniela, na quinta, 24, quanto para a mesa no sábado, 26. O SMetal fica na rua Julio Hanser, 140, próximo da rodoviária.