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Corte de árvores na General Carneiro e Armando Pannunzio levanta polêmica

Depois de pôr abaixo diversas árvores adultas, Prefeitura muda o corredor do BRT que não passará mais pelo canteiro central da General Carneiro e Armando Pannunzio. A pergunta que fica é: com um pouco mais de diálogo e planejamento, as árvores poderiam ter sido poupadas?

Maíra Fernandes

Cerca de 18 árvores adultas e copadas foram postas abaixo no canteiro central das avenidas General Carneiro e Armando Pannunzio, em outubro de 2021, como parte do projeto de implantação do Corredor Oeste do BRT – sistema de ônibus rápido – que passaria pelo local. No entanto, depois de receber abaixo-assinado dos comerciantes daquela região, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) voltou atrás e, agora, trabalha para mudar o corredor para a pista direita da avenida, dependendo apenas de um estudo para oficializar o novo corredor. O abate de tantas árvores adultas, vários meses antes do início das obras e sem que os comerciantes tivessem sido ouvidos previamente, levantou uma polêmica: as árvores, afinal, não poderiam ter sido poupadas?

O PORQUE entrou em contato com a Prefeitura por meio da Secretaria de Comunicação (Secom), questionando o total de árvores suprimidas para a obra, mas, em nota enviada, não foi especificado esse número. Anteriormente, no dia 14 de março, o PORQUE já havia enviado questões similares à Secom, que continuam sem resposta até o momento. As perguntas que a Prefeitura, por sua Secretaria de Comunicação, recusa-se a responder são estas: “Quantas árvores foram cortadas no canteiro central das avenidas General Carneiro e Armando Pannunzio, para implantação do corredor do BRT? Com a decisão de mudar o corredor para uma das laterais dessas avenidas, existe o compromisso de replantio das árvores cortadas? Se não, por quê? Existe prazo para a recomposição paisagística e reposição das árvores cortadas? A Prefeitura considera que foi precipitado o corte das árvores, uma vez que havia ainda conversas com comerciantes para mudar o traçado do corredor?”

O PORQUE também questionou, via e-mail, o consórcio que administra o BRT Sorocaba para solicitar esclarecimentos mas, até a publicação desta reportagem, não obteve respostas.

O abate de tantas árvores adultas, vários meses antes do início das obras e sem que os comerciantes tivessem sido ouvidos previamente, levantou uma polêmica: as árvores, afinal, não poderiam ter sido poupadas? (Foto: Cortesia/ Luiz Antonio Feitosa)

PERDA IRREPARÁVEL

“Não eram apenas árvores, eram também lares dos pássaros. É uma perda irreparável”, denunciou Luiz Antonio Feitosa, um dos munícipes que acompanharam com o coração apertado o corte das árvores, fotografando o antes e o depois das avenidas. Feitosa contou mais de 15 árvores derrubadas ao longo do corredor que compreende a avenida Armando Pannunzio, na altura da entrada para a Humberto de Campos, até a avenida Armando Pannunzio, em frente ao supermercado Confiança. No entanto, em 25 de outubro, a Prefeitura já havia confirmado o corte de 14 árvores em reportagem do jornal Cruzeiro do Sul e o próprio Feitosa registrou o corte de pelo menos quatro árvores adultas na General Carneiro – uma delas, um bonito flamboyant.

“Assassinato de árvore agora virou supressão”, indignou-se Feitosa, lembrando que placas foram espalhadas ao longo do percurso, informando que a “supressão” das árvores estava de acordo com a legislação vigente. No entanto, com a mudança do projeto, nada foi falado sobre o possível replantio de novas árvores para repor as que foram abatidas.

COMPENSAÇÃO AMBIENTAL

Para as obras do Corredor Oeste, ainda conforme o primeiro projeto vigente, estava previsto o corte de até 261 árvores entre as avenidas General Carneiro e Armando Pannunzio, conforme autorização ambiental nº 055/2019, emitida pela secretaria do Meio Ambiente (Sema), de modo a permitir a implantação do corredor de BRT. A lei municipal também prevê a compensação ambiental, exigindo o plantio de mudas nativas para compensar o corte de árvores.

Em nota, a Prefeitura afirmou que a compensação ambiental ocorrerá por meio do plantio de mudas de 2.397 árvores em áreas públicas. No entanto, não especificou quais espécimes serão plantadas, quando e onde. Uma das reclamações dos munícipes é, justamente, para que esse plantio ocorra nos mesmos locais em que as árvores cortadas existiram durante vários anos, proporcionando sombra, abrigando pássaros e contribuindo para tornar mais agradável o ar, a temperatura e o visual naquelas duas avenidas.

Conforme Vidal Mota Jr., professor pós-doc em Ciências Ambientais pela Unesp, o processo de compensação tem regras: dependendo do espécime e da idade da árvore, a secretaria de Meio Ambiente (Sema) estabelece a quantia e o local onde as mudas devem ser plantas, ou mesmo a doação das mesmas. “Mas, de qualquer maneira, é um absurdo terem cortado as árvores; e também é um absurdo descaracterizarem o projeto original do BRT, que era para ter agilidade no trânsito, e agora transferirem o corredor para a pista direita, perdendo toda a função desse investimento”, criticou o professor, que esteve, de 2009 a 2015, na direção de Gestão Ambiental e Zoobotânica da Sema.

ENTENDA O CASO

O Corredor Oeste é o último trecho exclusivo do sistema BRT no município, com prazo de conclusão previsto para 2023. No projeto inicial, a proposta era de que o ônibus rápido trafegasse na pista esquerda das avenidas General Osório e Armando Pannunzio, com as estações do BRT no canteiro central dessas avenidas – gerando a necessidade do corte das árvores -, a fim de dar agilidade ao trânsito nesse trecho.

Porém, comerciantes daquelas avenidas entenderam que essa configuração do projeto inviabilizaria a mobilidade de pessoas entre um lado e outro na pista, refletindo nos negócios, e elaboraram um abaixo-assinado, apresentado ao prefeito e encabeçado por nomes influentes no setor empresarial sorocabano, como Sérgio Reze. A proposta dos comerciantes provocou uma reviravolta nos planos e a ida de uma comitiva de representantes do governo municipal, tendo o prefeito Manga à frente, para Brasília, a fim de solicitar a mudança do projeto.

A principal mudança é justamente a alteração de lado da faixa do corredor, fazendo com que os ônibus BRT trafeguem à direita no trecho Oeste, do mesmo modo adotado nas avenidas São Paulo (Corredor Leste) e Antônio Carlos Comitre (Corredor Sul).

No começo de março, a Prefeitura de Sorocaba recebeu a confirmação que Rogério Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional (MDR), autorizando a realização de estudos sobre mudanças na execução das obras do Corredor Oeste do BRT. De acordo com a Secom, no momento, são realizadas adequações de correção de interferências na via por onde trafegará o Corredor Oeste do BRT, até que o novo projeto seja definido. Mas o tema da arborização de duas das principais avenidas da cidade continua sendo tratado como algo que não merece atenção. (Colaborou o leitor Luiz Antonio Feitosa)

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