Um casal de sorocabanos, que estava em Israel durante os ataques do Hamas, pediu ajuda da comissão humanitária criada pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), mas não conseguiu. Embora a Prefeitura não tenha auxiliado em nada, Priscila e Luiz Donzelli foram surpreendidos com uma ligação da Secretaria de Comunicação do Paço, com um pedido de entrevista para elogiar Manga e sua iniciativa de criar a comissão.
“Vamos ser honestos. Quem está nos ajudando é o consulado e o Itamaraty. Não a Prefeitura”, respondeu Priscila, que se recusou a dar entrevista para a imprensa da Prefeitura. “A Embaixada, sim, ajudou. Até ofereceu abrigo para nós, caso não conseguíssemos sair do país”, contou a sorocabana ao Portal Porque, nesta segunda-feira (9). O casal está seguro, em Veneza, na Itália, de onde deve retornar ao Brasil nesta quarta (11).
Priscila e Luiz Donzelli foram para Israel no final de setembro, para fazer turismo. Acabaram enfrentando bombardeios nos últimos dias e não conseguiam sair do país. Ao saberem da comissão de ajuda humanitária criada e propagandeada por Manga, entraram em contato pelo telefone que o próprio prefeito divulgou, prometendo auxílio para sorocabanos que estivessem nos países em guerra, Israel e Palestina.
O casal, no entanto, apenas recebeu como respostas informações que já tinha. Sem conseguir ajuda, os sorocabanos tentavam fugir dos bombardeios, quando receberam o telefonema da Secretaria de Comunicação da Prefeitura, com pedido de entrevista exclusiva para elogiar o prefeito.
Além de Priscila e o marido, também estavam na viagem de férias uma irmã, um irmão, uma tia e a madrasta. Após dois dias entre corredores de hotéis, bunkers e aeroportos, somente no domingo (8) Priscila e os familiares conseguiram voos para sair de Israel. Quatro dessas seis pessoas conseguiram voo para Dubai e outras duas foram para Roma. De Dubai, Priscila e outros três voaram para Istambul, na Turquia, e agora estão em Veneza.
Relatos do desespero
“Foi uma loucura. Quando os ataques começaram estávamos em Tel Aviv. Era sirene de alarme para todo lado. Em um único dia, estouraram 5 mil mísseis sobre nossas cabeças. No hotel, pediam para a gente sair dos quartos e ficar nas escadas ou no saguão”, conta Priscila.
“Nosso voo foi cancelado duas vezes e tivemos que voltar para o hotel. Em uma dessas vezes, pegamos um taxi e o motorista parou o carro e pediu para que todos deitássemos no chão para se proteger melhor dos ataques”, lembra a sorocabana.
Priscila conta que, após ver um bispo elogiar o resgate municipal de sorocabanos da guerra, ela não aguentou e comentou na postagem do prefeito que ele não estava fazendo nada de concreto a respeito. Automaticamente, uma assistente de Manga disse que era “inadmissível” ela desqualificar o trabalho de “ajuda humanitária” de Sorocaba.
15 que são 3
A representante do prefeito Manga afirmou que a Prefeitura estaria colocando 15 sorocabanos no primeiro voo da FAB (Força Aérea Brasileira) que iria sair em breve de Israel. Uma nota à imprensa do próprio governo municipal desmente essa informação prestada à Priscila.
Na nota, a Prefeitura afirma que está “em contato” com 15 pessoas em Israel para que elas embarquem no voo da FAB. Mas, no texto, consta que apenas três sorocabanos estarão nesse grupo, a maioria pastores. Outros quatro ainda aguardam definição, segundo o próprio governo municipal.
Priscila afirma que a assessora de Manga insinuou ainda que ela e seus familiares não estariam nessa lista “dos 15 do Manga” porque não precisam, “porque têm recursos”.
“Fiquei frustrada. Não sei se a representante do Manga estava de mau humor ou se viram que minha preferência política é pela esquerda. Mas gastamos muito para sair do meio do conflito. Só a passagem para Dubai custou R$ 14 mil para mim e meu marido. Depois, mais milhares de reais até Istambul e Veneza”, relata.
Antes dos bombardeios começarem, a família de Priscila visitou Jerusalém, Belém, Mar Morto. “Estávamos na Jordânia, a 10 quilômetros da Faixa de Gaza quando o conflito começou, mas seguimos até Tel Aviv, onde sirenes, bombas e mísseis também viraram rotina no final de semana”.