
São as irmãs de Paulo, que não é de falar muito, que correm atrás dos trâmites burocráticos que ainda impedem a operação. Foto: Fernanda Ikedo/Portal Porque
Há três anos, o auxiliar de serviços gerais Paulo da Silva sofre de hérnia inguinal. As fortes dores o levaram a ser internado algumas vezes. Só não realizou cirurgia ainda por causa de informações desencontradas que são fornecidas a ele e aos familiares que o acompanham toda a vez que vai ao hospital.
Em março do ano passado, Paulo passou por uma avaliação cirúrgica. Há documentos que comprovam isso no Hospital Regional Dr. Adib Domingos Jatene. No entanto, não há nenhuma outra informação sobre o cadastro do paciente na fila de cirurgia do município ou do Estado. Isso tem gerado angústia na família.
Aos 54 anos, mesmo com o problema, ele segue trabalhando de segunda a sexta-feira. Morador da zona norte de Sorocaba, Paulo sai de casa por volta das 6h e, de bicicleta, leva 20 minutos para chegar ao serviço. “Tem dia que ele não aguenta. Já chegou a desmaiar no trabalho de tanta dor”, revela a irmã Rute Emilia Correia. Ela mora no bairro vizinho ao auxiliar de serviços gerais e reveza com a outra irmã, de nome Marta, os cuidados e assistência a ele.
Rute conta ainda que Paulo não é de falar muito e que, por isso, cabe às irmãs correr atrás dos trâmites burocráticos que ainda impedem a realização da cirurgia, como documentos e relatórios de saúde, por exemplo. “Já entramos em contato até com deputado [o nome ela não revelou], mas parece que nada resolve”, desabafa.
Foi a unidade de saúde em que Paulo se consulta regularmente que o encaminhou ao hospital. Contudo, pouco se sabe da necessidade cirurgia. “Já perguntei se ele estava na fila de espera e me passaram um número, mas agora dizem que não está na fila para cirurgia. Na unidade de saúde também não consta nada. O funcionário, que foi super prestativo, me disse que teria de começar tudo de novo e passar ele por consulta”, acrescenta Rute.
Angustiada, ela e Marta apresentaram ao Portal Porque os vários papéis que comprovam as idas do auxiliar de serviços gerais à rede municipal de saúde. Durante a entrevista, Paulo ficava, na maior parte do tempo, em silêncio. “Ele é de poucas palavras, mas trabalhador”, afirma Marta.
Paulo, que mora na casa da mãe, já falecida, lembra que quando tinha 25 anos passou por uma cirurgia de hérnia. “Minha mãe estava viva e foi ela quem me socorreu”, complementa. “As dores que ele sente não são apenas físicas, mas também a da espera que atormenta a todos nós, sem falar da falta de transparência”, relatam as irmãs.
O que diz a DRS?
O Porque questionou a Secretaria Estadual de Saúde, via assessoria de imprensa, sobre o caso de Paulo. Está na fila? Quanto tempo falta para a cirurgia? A resposta foi curta e pouco esclarecedora: “o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Sorocaba informa que não constam pendências de caráter estadual em nome do paciente”. Marta contesta: “O pessoal do hospital fala que é para aguardarmos. Mas, aguardar o quê exatamente? Ele estar à beira da morte?”
Em março do ano passado, numa das vezes que desmaiou de dor e foi ao atendido no Hospital Regional, Marta e Paulo ouviram que precisavam agendar consulta com o anestesista para a tal da cirurgia, o que também não ocorreu ainda. “Vou até a Secretaria de Saúde, pessoalmente, para ver se resolvem o problema”, diz Rute. “No hospital chegaram a me dizer que me ligaram e eu não atendi. É muita informação desencontrada.”
Defensoria à disposição
Ao Porque, a defensora pública Valéria Corrêa Silva Ferreira explica que a Defensoria está aberta para orientar os cidadãos a respeito da longa fila de espera em demandas de cirurgia e avaliar as possibilidades de ingressar com ação judicial para as pessoas que não tenham condições de contratarem advogados particulares.
“Ao procurar a instituição, é importante que as pessoas levem o máximo de documentos referentes ao caso, bem como laudo médico que comprove a necessidade da cirurgia e, preferencialmente, a urgência”, explica Valéria.
Hérnia inguinal, o que é?
Conforme o site Hernia Clinic, a hérnia inguinal é uma alteração que resulta em um ponto fraco na musculatura da região inferior da parede abdominal. Esses músculos suportam pressões muito altas e, uma eventual fraqueza ou orifício desde a infância, podem fazer com que o conteúdo interno atravesse a região muscular em direção ao plano da pele, formando assim a protuberância.
A hérnia inguinal é mais comum em indivíduos do sexo masculino e pode se manifestar em qualquer fase da vida, embora seja mais frequente nos extremos da vida, ou seja, em recém-nascidos ou em idosos.
Pessoas que têm o hábito de fumar ou sofrem de constipação intestinal também apresentam maior tendência ao problema, já que essas situações aumentam a pressão abdominal.
Quando não diagnosticada e tratada corretamente, a hérnia inguinal pode comprometer o fluxo sanguíneo na região afetada e até mesmo o risco de necrose.
Leia também:
>>> Paciente aguarda há mais de um ano por cirurgia de hérnia