
Mutirão começou em fevereiro, na Policlínica, e desde então a fila de espera por consultas, exames e cirurgias só cresceu (Foto: Rafael Baddini/Secom PMS)
A reportagem exclusiva do PORQUE, que revelou um aumento de 53% no número de consultas, exames e cirurgias atrasadas após o início do mutirão da saúde, repercutiu na Câmara de Sorocaba e entre os membros da Comissão Municipal de Saúde. Na Câmara, a vereadora Fernanda Garcia (Psol) aprovou um requerimento na sessão desta quinta, 29, questionando a Prefeitura sobre os motivos do aumento na fila de espera da saúde e sobre a eficácia do mutirão. Já a Comissão Municipal de Saúde aproveitou uma reunião realizada esta semana com a Prefeitura para confrontar números do mutirão.
A reportagem do PORQUE, publicada nesta terça, 27 (leia aqui), revelou que, sete meses depois do início do mutirão da saúde, a fila de espera por consultas, exames e cirurgias na rede pública de Sorocaba aumentou em 52,8%. Em fevereiro deste ano, quando a Prefeitura deu início ao mutirão, o número de procedimentos atrasados era de 87.498. Agora, são 133.707. O número atual de procedimentos atrasados foi levantado com exclusividade pelo PORQUE por meio da Lei de Acesso à Informação.
Para a vereadora Fernanda Garcia, a Prefeitura precisa explicar o que está ocorrendo com o mutirão da saúde. “Não podemos aceitar que, mais uma vez, a população seja enganada. O mutirão foi iniciado com a promessa de zerar a fila de espera de consultas, exames e cirurgias, mas, ao contrário do prometido, esta fila aumentou em mais de 50%. Queremos saber quanto a Prefeitura já gastou com o mutirão, o que foi feito até agora, por que a fila aumentou e quando ela será, de fato, zerada”, questiona a vereadora, que enviou todas essas perguntas para a Prefeitura em seu requerimento.
Já a vereadora Iara Bernardi (PT) se revoltou ao ler a reportagem do PORQUE e na postagem do Facebook do Portal comentou: “[Manga] Prometeu mutirão, zerar as filas, concurso, tudo fake.”
‘Não é mutirão’
O PORQUE ouviu um médico, especialista em saúde pública, sobre o mutirão da saúde. Ele prefere não se identificar, mas disse para a reportagem que o mutirão realizado pela Prefeitura não é um mutirão. O médico teve acesso à apresentação de dados do mutirão feita pela Prefeitura esta semana para os conselheiros municipais da Saúde. “A Prefeitura diz que trata-se de um mutirão contínuo, mas isso é o contrário do que é um mutirão, caracterizado por uma ação pontual”, explica.
O médico também avalia que o número de pessoas que aguardam por um médico especialista em cirurgia vascular, por exemplo, é enorme em quase todas as unidades, com pacientes esperando mais de dois anos na fila.
“A Secretaria da Saúde da Prefeitura culpa os munícipes que faltam (o absenteísmo) pelos problemas com o mutirão. Mas muitos pacientes acabaram procurando outra forma de solucionar seus problemas, recorrendo a consultas particulares, por exemplo. A Prefeitura não reconhece que existe um absenteísmo de cerca de 30%, que é esperado em quase todos os serviços, inclusive em convênios. Enfim, a política de mutirão é falha e não resolve o problema da população”, analisa.
A opinião do médico é compartilhada pelo diretor do SindSaúde-SP (Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo), André Fonseca Diniz, conhecido como André Pudim. Para ele, diante dos dados revelados pelo PORQUE, é preciso esclarecer dois pontos com a Prefeitura: “Primeiro, precisamos saber se houve erro da Secretaria Municipal da Saúde, no início do mutirão, ao anunciar um número de consultas, exames e cirurgias parados menor do que o de fato era, ou seja, se foi um erro administrativo”, conjectura André Pudim, que também é membro do Conselho Municipal da Saúde.
Uma segunda questão, de acordo com o sindicalista, é financeira. “O orçamento do mutirão previa um número x de procedimentos para zerar a fila. Agora, a gente está vendo a realidade dos números atuais e eles mostram que Sorocaba não está nem perto de zerar as filas da saúde. De onde vamos tirar dinheiro para diminuir, de fato, a fila? A Prefeitura precisa responder”, diz.
O ex-vereador Izídio de Brito, também integrante do Conselho Municipal de Saúde, destaca que a Prefeitura informou na reunião desta semana que o mutirão está sendo realizado apenas com recursos oriundos de emendas parlamentares.
“Não há transparência alguma, ficamos espantados com os números de procedimentos atrasados revelados pela matéria do PORQUE. O Conselho precisa discutir os problemas do mutirão e entender o que está acontecendo. Já estou em contato com um técnico da área da saúde, que vai nos ajudar a entender o processo do mutirão para que a gente possa cobrar uma solução da Prefeitura”, explica Izídio.
Segundo o levantamento feito pelo PORQUE via Lei de Acesso à Informação, a situação mais crítica atualmente é com o número de consultas atrasadas, que cresceu em 117,1% desde o início do mutirão, há sete meses. Antes, eram 30.499 consultas atrasadas; agora são 66.215. Já o número de exames atrasados aumentou em mais de 11 mil com o mutirão da saúde: de 48.205 em janeiro para os atuais 59.328 (24% a mais). As cirurgias atrasadas são o único procedimento que teve recuo com o mutirão, com queda que pode ser considerada modesta, equivalente a 7,15%: eram 8.794 cirurgias atrasadas; agora são 8.164 (630 cirurgias a menos).