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Ato público pede justiça por bebê morto na maternidade de Salto de Pirapora

Família relata procedimentos que teriam causado morte de bebê logo após o parto; protesto será neste sábado, na Praça Matriz de Salto de Pirapora

João Maurício Rosa (Portal Porque)

Suposto erro cometido na maternidade está no centro de uma polêmica em Salto de Pirapora; Prefeitura prometeu posicionamento, mas não se manifestou. Foto: reprodução/Facebook

A técnica de enfermagem Daniele Cachalli está convocando pelas redes sociais uma manifestação neste sábado, 20, às 10h30, na Praça Matriz de Salto de Pirapora, para denunciar negligência ou imperícia da equipe médica da maternidade municipal no parto de seu neto, Miguel. “Justiça por nosso branquelo. Nenhuma família merece estar passando pelo que estamos passando. Uma dor imensa e um luto eterno”, diz a chamada de um vídeo publicado no Facebook.

Daniele acusa a equipe médica da maternidade de ser responsável pela morte de Miguel, três horas após uma cesariana de emergência em sua nora, Gabrielle, em 25 de fevereiro passado. Ela espera, com a manifestação, que a Prefeitura substitua a empresa terceirizada e os médicos que atenderam a sua nora, bem como melhorias na estrutura da maternidade.

Nesta quinta-feira, 18, Danielli publicou um vídeo nas redes sociais detalhando todos os procedimentos da equipe médica desde a internação de Gabrielle, por infecção urinária, no dia 20 de fevereiro passado, uma segunda-feira. Ao lado da nora, Daniele relata que na quarta-feira, dia 22, a gestante passou por uma ultrassonografia revelando que o bebê estava bem, com aproximadamente 3,3 quilos.

“Na quinta-feira, a médica queria dar alta, mas um exame de toque constatou que ela já tinha cinco dedos de dilatação e precisaria prosseguir internada pela infecção e para a realização do parto”, conta Daniele. Segundo ela, a equipe chegou a cogitar em induzir o parto, mas preferiu protelar por conta da infecção e pelo fato de o bebê ainda ser considerado prematuro, com 36 semanas e cinco dias.

Ainda na quinta-feira, de acordo com a avó, Gabrielle estava sentindo muita dor, mas não recebeu atendimento médico no leito. “Apenas trocaram a medicação porque a infecção aumentou e ela não recebeu a visita do médico”, ressaltou.

Orientada por um advogado, Daniele prefere não divulgar o nome dos médicos e auxiliares que participaram da equipe responsável.

Cardiotocografia

Na sexta feira, prossegue o relato, a equipe começou a realizar os exames de cardiotocografia, técnica que avalia a saúde cardíaca e os movimentos do bebê, bem como a presença e a duração de contrações do útero. Os resultados destes exames, que são feitos de 20 em 20 minutos, não foram repassados para a gestante ou para Danieli.

“Só fomos ter informações mais tarde, quando vimos o prontuário. O exame já não estava legal, deu estável, mas com estímulo. Durante todo este tempo não foi realizado nenhum monitoramento. Depois das quatro horas da tarde o médico passou para ver a Gabrielle, fez outro exame de toque e deu seis dedos de dilatação”, relata Daniele.

A avó lembra que nesta fase toda a equipe médica, sem exceção, começou a unificar um discurso de que o bebê não teria condições de sobreviver por ter problemas cardíacos, no fígado e até renal. “Foi feita nova cardiotoco às 22h40 e já deu muito ruim. E disseram que teriam que fazer a cesariana de emergência, sem recurso nenhum, porque tinham pedido uma vaga na UTI desde cedo e esta tinha sido negada”, afirma.

É neste ponto que Daniele vê a negligência ou imperícia, pois, como afirma, a solicitação de vaga na UTI, ao contrário do que dizia a equipe médica, só foi solicitada às 20h57, segundo registro da Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde), sistema que gerencia a transferência de pacientes e troca de serviços entre unidades de saúde públicas.

Desta forma, a cesárea foi realizada no improviso à 0h34. “Miguel nasceu parado, foi feita reanimação e ele foi intubado. Quando saiu a vaga na UTI, às 3 horas, ele já sofria uma segunda parada cardíaca e veio a falecer”, relata Daniele.

Demora

Daniele conta que a causa da indignação de sua família é por conta da falta de agilidade para providenciar a transferência da gestante, pois os primeiros exames de cardiotocografia já haviam detectado problemas graves. “Desde o primeiro cardiotoco não estava dando legal e a gente não sabia o que estava acontecendo. E a vaga na UTI não tinha sido pedida”, analisa.

Mais tarde, segundo Daniele, um laudo emitido pelo SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) do Conjunto Hospitalar de Sorocaba constatou que o menino tinha a saúde perfeita, nenhum problema cardíaco, hepático ou renal conforme a equipe médica alardeava antes do parto de Gabrielle.

A causa da morte de Miguel foi insuficiência respiratória crônica e anoxia intrauterina. Segundo a Wikipedia, “as principais causas de anoxia são os partos complicados, demorados e não assistidos, que interrompem o fluxo sanguíneo placentário para o feto; a obstrução das vias aéreas do recém-nascido por secreções, sangue, líquido amniótico ou mecônio (evacuação fetal) e a apnéia do recém-nascido”.

“Por isso nossa luta, é por isso que hoje a gente pede justiça. Para que ninguém mais venha a passar pelo que a gente tá passando, pra que não aconteça novamente. Não dá pra deixar ficar impune e não dá pra deixar ficar de qualquer jeito”, desabafa Daniele no vídeo que circula nas redes sociais.

Recursos

Entre os comentários ao post, uma mulher identificada como Della Chaves conta que também perdeu um bebê por negligência médica que teria começado na Maternidade de Salto de Pirapora. “Começou aqui na maternidade por falta de recursos e depois meu sonho acabou no Hospital Regional de Sorocaba. Precisamos de uma maternidade com recursos, temos enfermeira neonatal, tem profissional, mas não tem recursos e equipamentos. Justiça seja feita”, comenta Della Chaves.

A avó Daniele chegou a ser recebida pelo prefeito de Salto de Pirapora, Matheus Marun, mas a reunião não reduziu seu ânimo pela manifestação. “A gente até recebeu alguns contatos de que vai ter mudança. A gente espera muito do fundo do coração que isso realmente aconteça. É o que a gente mais deseja… Que estas mudanças venham e que ninguém mais passe pelo que a gente tá passando… Eu peço só que quem puder se juntar à gente esteja lá sábado às 10h30, na (igreja) matriz que a gente vai ficar lá tentando lutar pelo melhor”, finalizou Daniele.

Outro lado

O Portal Porque vem acompanhando a luta de Danielli há uma semana. Por se tratar de uma denúncia gravíssima, a Redação decidiu que a reportagem não seria publicada antes que todas as partes pudessem ser ouvidas.

Mas a Prefeitura de Salto de Pirapora, responsável pela gestão da maternidade, vem protelando qualquer explicação e não emitiu sequer uma nota oficial sobre o tema, segundo promessa do secretário de Governo, Alfredo Silva.

O secretário garantiu que enviaria uma resposta na quinta-feira, 18, quase uma semana depois do primeiro contato da reportagem com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura, dia 12 passado.

“Sem problemas, de qualquer forma amanhã (18/06) já tenho uma posição oficial. O caso é bem grave e realmente o Prefeito pediu providências urgentes. No entanto, o Secretário de Saúde está fora”, argumentou Alfredo Silva em contato por WhatsApp na quarta-feira, 17.

Promotoria

Daniele Cachalli afirma que também procurou o Ministério Público para denunciar os fatos e pedir uma apuração, mas não sabe até que ponto o caso teve atenção dos promotores, pois não foi chamada para formalizar um depoimento ou para quaisquer outros procedimentos.

Em contato nesta sexta-feira, 19, com a Promotoria de Justiça do Ministério Público em Salto de Pirapora, a oficial de promotoria Cláudia Cristina, disse que poderia responder após às 16 horas, mas não mais retornou às ligações.

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