
Dylan Dantas (PSC) e o ex-chefe, deputado Douglas Garcia (Republicanos), que também tem pedido de cassação por quebra de decoro (Foto: Divulgação/Redes Sociais)
Passados mais de dois meses desde que a Comissão de Ética da Câmara de Sorocaba recebeu a primeira das três representações contra o vereador conservador Dylan Dantas (PSC), solicitando a cassação de mandato do parlamentar por quebra de decoro no caso no caso da invasão à Escola Estadual Prof. Joaquim Izidoro Marins, as denúncias sequer chegaram a ser analisadas e não há prazo para o desfecho do caso, afirma a Câmara em nota.
Há exatos dois meses e 12 dias, no dia 4 de julho, foram protocoladas as duas primeiras representações contra Dantas, pedindo cassação do mandato por quebra de decoro, no episódio em que o vereador e seus assessores invadiram a Escola Estadual Prof. Joaquim Izidoro Marins e, segundo relatos dos presentes, intimidaram os funcionários ao contestar uma atividade artística, alegando que se tratava de “um beijo lésbico”, no dia 28 de junho.
Depois, no dia 7 de julho, outra terceira representação também foi protocolada para a apreciação do Comitê de Ética Parlamentar e Decoro. Duas dessas vieram da sociedade civil e uma da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Sorocaba.
Apesar de duas das representações conterem nos anexos relatos assinados por dezenas de funcionários da escola, reiterando as atitudes de coerção, intimidação e homofobia por parte do parlamentar, até o momento não há um retorno da comissão avaliadora das representações. Em nota enviada ao PORQUE na noite de quinta-feira, 15, a comissão afirmou que nem chegou, ainda, a analisar as denúncias. “A Comissão de Ética da Câmara pretende se reunir, até o fim de setembro, para analisar as denúncias contra os vereadores Dylan Dantas, Iara Bernardi e Fernanda Garcia. Os casos têm como relatores os vereadores Rodrigo do Treviso e Salatiel Hergesel. Não há prazo para a conclusão dos trabalhos”, informa.
Além das representações contra Dantas, a comissão também avaliará a representação que o vereador protocolou contra as parlamentares do PT e Psol, porque elas denunciaram e tornaram públicos os atos de Dantas no estabelecimento de ensino estadual.
A morosidade local vai na contramão da atitude tomada, nesta semana, pelo Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que deu cerca de 20 dias para o recebimento de defesa do deputado Douglas Garcia (Republicanos) e conclusão do processo dos pedidos de cassação do parlamentar amigo e ex-chefe de Dylan, após ofensas e tentativa de intimidação praticadas por ele contra a jornalista Vera Magalhães, durante debate no dia 13.
Relembre o caso
Na data em que se celebrava o Dia do Orgulho LGBTQIA+, 28 de junho, o vereador conservador Dylan Dantas (PSC) protagonizou uma cena de intolerância e abuso de poder, em resposta a uma ação artística ocorrida na Escola Estadual Joaquim Izidoro Marins, e deixou o local praticamente expulso pelos alunos e debaixo de xingamentos. Dantas foi chamado de “homofóbico” por estudantes, que, em determinado momento, gritaram em coro: “Lixo! Lixo!”.
O vereador, que em sua página no Facebook afirmou ter sido “agredido”, esteve no local, de acordo com sua versão, para atender ao chamado de alguns pais, que participavam de uma ação aberta na escola, e teriam denunciado um “selinho” ocorrido no final da encenação de um espetáculo teatral. O beijo, segundo o PORQUE apurou, à época, não constava do roteiro da apresentação, tendo sido incorporado pelas próprias alunas-atrizes. Também foi esclarecido que o evento foi idealizado para destacar a produção cultural dos alunos, e não em alusão à data.
Conforme o relato dos presentes no local na hora da intervenção, Dantas chegou acompanhado de assessores, sem solicitar autorização, filmando tudo e, de maneira descrita como hostil, perguntando quem eram a diretora e a professora responsáveis pela encenação. “Eles entraram na sala da diretora inquirindo, querendo saber o responsável pelo espetáculo, e a professora saiu de lá chorando”, conta uma das fontes, que preferiu não se identificar.
De acordo com essa testemunha, ao perceberem a truculência da intimidação do vereador e o estado em que a professora saiu da conversa, os alunos se indignaram, se organizaram no corredor de acesso e receberam Dantas com palavras de ordem, xingamentos, pedidos para que se retirasse e acusações de homofobia.