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Ambientalista pioneiro, morre aos 89 Francisco Moreira de Campos, o Chico do Rio

Foi ele quem iniciou, ainda nos anos 80, uma cruzada solitária pela despoluição do rio Sorocaba -- causa abraçada pela cidade e concretizada a partir dos anos 2000

José Carlos Fineis (Portal Porque)

Chico do Rio aprendeu desde criança a respeitar o rio que, mais tarde, lhe emprestaria o nome: “Tudo na vida depende da água.” Foto: acervo de família/Facebook

Ativista pioneiro que se tornou referência nas lutas ambientais de Sorocaba, a ponto de ficar conhecido pelo nome do rio que ajudou a salvar da poluição, Francisco Moreira de Campos, o Chico do Rio Sorocaba, morreu na noite desta sexta-feira, 18, aos 89 anos.

O anúncio do falecimento foi feito nas redes sociais pela filha Gilmara Campos. “Aqui o coração está partido, mas o sentimento é de gratidão! Gratidão por sua vida! Gratidão por sua bondade e integridade! Gratidão pelo vovô maravilhoso que você foi e sempre será nas lembranças”, escreveu Gilmara no Facebook.

A última batalha de Seu Chico, como era chamado, foi tema de reportagem do PORQUE no dia 4 de outubro último (leia aqui). Acamado, ele lutava contra um câncer, enquanto seus familiares reivindicavam tratamento hospitalar à Funserv – a fundação de seguridade dos servidores públicos municipais da qual ele foi um dos fundadores.

Uma vida de lutas

As palavras vida e luta se confundem na biografia deste sorocabano nascido em 17 de janeiro de 1933, numa pequena vila da rua Moreira César, filho de Maria Alves de Campos e José Moreira de Campos, comerciante do Mercado Municipal.

A admiração pelo rio surgiu ainda na infância, estimulada pelas palavras de sua mãe. Ela lhe dizia que “a água é madrinha e o fogo é padrinho”. Com dona Maria, o menino aprendeu a respeitar o manancial.

Desde cedo, preocupava-se com a poluição crescente do rio em que pescava e em cujas margens fazia passeios, porque, segundo dizia, “tudo na vida depende da água”.

Mas o ativismo ambiental ainda estava em maturação. Adulto, Francisco canalizou sua combatividade para o sindicalismo. Funcionário público municipal e militante do Sindicato dos Servidores, chegou a ser preso pela ditadura militar e enquadrado no Ato Institucional número 2 (AI-2) por protestar contra atrasos de salários do funcionalismo.

Na década de 80, reabilitado politicamente, foi um dos fundadores do Partido Democrático Trabalhista (PDT) em Sorocaba e chegou a concorrer a vereador pelo recém-fundado Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB). Também atuou no Gabinete de Leitura Sorocabano e Associação Sorocabana de Imprensa.

Ativista ambiental

Foi a partir da Constituição de 1988 que Francisco se tornou Chico do Rio. Estimulado por um dispositivo constitucional que permitia à população propor projetos de lei, ele iniciou uma cruzada solitária para que a Lei Orgânica do Município incluísse um artigo prevendo a criação de um fundo para a despoluição do rio Sorocaba.

Com ajuda da filha Graça (já falecida), que era artista plástica, pintou um Fusca com motivos relacionados à água e passou a percorrer empresas, escritórios, residências e repartições de Sorocaba, em busca de assinaturas favoráveis a sua proposta e, também, depoimentos de personalidades sobre a importância do rio.

Numa época em que poucas pessoas se preocupavam com a qualidade da água e o rio, vez por outra, amanhecia coberto de peixes mortos pela poluição industrial, Chico do Rio conseguiu sensibilizar dezenas de pessoas influentes para a causa ambiental, que nem estava na moda ainda.

Alguns desses depoimentos foram, mais tarde, reunidos no livro “O Rio do Chico – A luta de um ambientalista pela despoluição do rio Sorocaba” (Crearte Editora, 2013).

No começo dos anos 2000, a luta de Chico do Rio era uma causa de muitos sorocabanos. Debaixo da pressão crescente da sociedade e do Ministério Público, a administração municipal buscou recursos no governo federal e iniciou o programa de despoluição que retiraria boa parte dos esgotos domésticos do rio, com a construção de emissários de esgoto e estações de tratamento.

Chico do Rio, porém, não considerava que sua missão estava cumprida. Em entrevista à jornalista sorocabana Sandra Nascimento, em novembro de 2013, declarou que não estava satisfeito, porque o rio jamais ficaria – como os políticos de então prometiam – 100% despoluído.

Jamais vai ficar 100% despoluído. O atrito do pneu com o asfalto, por exemplo, já é uma poluição.”

Seu Chico, porém, confessava-se feliz por ter comido ameixas na beira do rio e observado, durante um passeio, como quando era criança, peixes e aves que voltaram a povoar sua água e suas margens, depois da despoluição. “Isso é uma satisfação enorme”, celebrava.

Francisco Moreira de Campos era viúvo (de d. Anésia) e deixa a filha Gilmara, genros, netos e bisnetos. O corpo está sendo velado na sala ametista da Ofebas (rua Braz Cubas, 61, Santa Rosália), devendo o sepultamento ocorrer às 15h30. (Colaborou Sandra Nascimento)

Leia a íntegra da entrevista com Chico do Rio clicando aqui.

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