
Movimento de desagravo a Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (Psol) foi motivado pela constatação de desrespeito por parte dos colegas. Foto: Câmara de Sorocaba
Os vereadores de Sorocaba levaram um puxão de orelhas em plena sessão desta terça-feira, (04), ao serem cobrados, por um grupo de mulheres, para que tratem com mais respeito as duas únicas vereadoras mulheres na composição do legislativo: Fernanda Garcia (Psol) e Iara Bernardi (PT). Coube a Mazé Lima, presidente do Movimento de Mulheres Negras de Sorocaba (Momunes), criticar, em plenário, a postura dos vereadores e cobrar tratamento digno às vereadoras.
“Estamos preocupadas e chateadas com o tratamento que tem sido dado aqui as vereadoras. Viemos pedir respeito!”, falou Mazé, que tem mais de 40 anos de vida pública, acompanhada por outras mulheres representantes de entidades de classe.
Dirigindo-se ao presidente da Casa, Claudio Sorocaba (PL), Mazé reforçou que, ao acompanhar as sessões, esse grupo de mulheres vem notando que o comportamento dos vereadores homens é de desrespeito às colegas mulheres, seja virando as costas quando estão em seu momento de fala, ou mesmo intervindo ou cortando seus discursos.
Para elas, esse comportamento apaga as lutas de sorocabanas que, ao longo da história, vêm trabalhando por mais espaços e representação dessas mulheres em diversos locais na sociedade, principalmente na política. “Queríamos ter 50% de representatividade feminina aqui, mas nós notamos que essas mulheres estão desmotivadas, amedrontadas. Estou há 40 anos lutando para que haja mais mulheres aqui e estamos vendo todo nosso trabalho retrocedendo”, disse Mazé.
Ela lembrou que, por conta do trabalho dessas mulheres, Sorocaba sempre foi destaque. Citou lembrando conquistas como a primeira Delegacia de Defesa da Mulher 24h do interior, e mesmo a Casa Abrigo ou o pioneirismo do conselho. Cobrou que os vereadores tomem conhecimento da história.
“Viemos pedir respeito por essas duas vereadoras. Independentemente de partidos, elas tiveram votos e merecem respeito. Esse grupo de mulheres vem com o intuito de pedir que os senhores tomem providências a respeito, que a comissão tome providências e que essas mulheres não sejam desrespeitadas.”
Mazé prosseguiu argumentando que as mulheres estão tristes tanto pelo tratamento quanto pela inércia do próprio corpo de vereadores, que não as defendem. “Vocês, homens, são a maioria, então, por favor, pedimos respeito às vereadoras e às mulheres sorocabanas. Quando os senhores desrespeitam as vereadoras nos desrespeitam também.”
Para a advogada Manu Barros, também presente na sessão e participando do ato, o movimento das mulheres nesta terça-feira na Câmara foi um exemplo de sororidade [no feminismo, palavra usada para falar da aliança entre as mulheres], não partidário e necessário para reiterar que, se uma mulher é “machucada”, todas também são.
A fala de Mazé, para ela, foi como um “puxão de orelha” de mãe, importante para chamar a atenção dos vereadores sobre a história dessas mulheres que representam a comunidade.
Para a Manu, ver a vereadora Iara emocionada também a emocionou. “Iara é uma mulher que está há tanto tempo na luta, que até esquecemos o quanto ela é importante, necessária, e o quanto é importante as mulheres se apoiarem, independentemente de ideologia ou partido”.
Homenagem
As vereadoras ainda foram homenageadas pelo grupo de mulheres, que levaram rosas para as duas parlamentares, que ficaram surpresas e emocionadas com o gesto.
Para a vereadora Fernanda Garcia, o ato foi importante por reunir mulheres de vários segmentos políticos, e que levaram para a pauta o desrespeito e violência política que elas vivenciam no plenário e é televisionado diariamente.
“Essa ação de solidariedade e apoio às parlamentares eleitas, eu e Iara Bernardi, reflete o descontentamento da sociedade com as violências de gênero. O que acontece neste ambiente, muito pela questão do machismo, impede a disposição de novas mulheres de ocuparem os espaços políticos representativos e, com o que aconteceu hoje, tenho esperança que seja um alerta para as mulheres e assim entendam que política também é o lugar delas”, falou a vereadora.
A vereadora Iara Bernardi também agradeceu à solidariedade das mulheres de diversos segmentos e partidos, com o tratamento desviado às vereadoras pelos homens da Casa. “Muitos nos tratam de forma desrespeitosa e discriminatória”, reiterou a vereadora, emocionada pelo reconhecimento e força que essas mulheres passaram para que continuem o trabalho, mesmo diante dos obstáculos de preconceitos de gênero.