
População lotou o plenário da Câmara para protestar contra a cassação do Título de Cidadão do ator Paulo Betti. Foto: Foguinho/Imprensa SMetal
A cassação do Título de Cidadão Sorocabano do ator Paulo Betti dominou as discussões na sessão da Câmara desta terça-feira (23) e impediu a votação de projetos de lei importantes, como o que prevê atendimento preferencial no PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador) para mulheres vítimas de violência.
Ao longo da sessão, vereadores de extrema-direita ligados ao bolsonarismo se revezavam na tribuna para atacar o ator, que, meses atrás, gravou um vídeo com críticas aos parlamentares por aprovarem a proibição da Marcha da Maconha em Sorocaba – projeto ilegal apresentado pelo prefeito e também bolsonarista, Rodrigo Manga (Republicanos), para mobilizar sua base mais conservadora (leia mais).
Depois de muita discussão inócua e perda de tempo no plenário, o projeto que pedia a revogação do Título de Cidadão de Paulo Betti foi retirado da pauta pelo autor, o vereador Vinícius Aith (PRTB), condenado em março deste ano por espalhar fake news sobre a atriz Patrícia Pillar (leia mais).
A falsa polêmica criada por Aith e encampada pelos colegas da extrema-direita também serviu como cortina de fumaça para mascarar, na sessão, a repercussão da decisão da Justiça que decretou, nesta segunda-feira (23), o bloqueio dos bens do prefeito Manga por suspeita de compra superfaturada dos kits de robótica pela Secretaria Municipal da Educação (leia mais).
O projeto de decreto legislativo foi protocolado em abril e pede a cassação do título concedido ao ator em 1997. Na justificativa, o parlamentar argumenta que Paulo Betti agiu com desrespeito aos vereadores da Casa, por conta da publicação de um vídeo em que demonstra sua indignação à decisão dos parlamentares que votaram contra a Marcha da Maconha em Sorocaba. No vídeo, publicado em suas redes sociais, o ator atira um coco verde no chão e chama os contrários ao projeto de “babacas”.
Em nota enviada ao Portal Porque, Aith afirmou que acatou o pedido dos colegas e retirou temporariamente o projeto da pauta, mas aguarda uma retratação por parte do ator. Paulo Betti, por sua vez, foi enfático em defender seu direito de crítica e opinião e afirmou que não acatará a condição imposta pelo vereador.
“Não tenho do que me retratar, tenho direito de fazer as críticas e ter a opinião que quiser sobre o comportamento dos vereadores. O que me preocupa é a Igreja do Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha [Capela de João de Camargo] que apresenta rachaduras. Esse vereador foi processado e perdeu para minha colega Patrícia Pillar. Os vereadores deveriam debater sobre a situação do prefeito, acusado de diversas irregularidades”, falou Betti.
Indignação da classe artística
Em um grupo de WhatsApp formado por cerca de 200 artistas de Sorocaba e região, a repercussão da cassação e do desenrolar da sessão desta terça-feira foi acompanhado com críticas. Os artistas também ressaltaram a importância de Paulo Betti como um divulgador da cultura e do nome de Sorocaba para todo o Brasil.
Além de refutarem o pedido do vereador direitista, os artistas condenaram os argumentos de parlamentares que endossaram a cassação, lembrando que nenhum deles se debruçou sobre o assunto local que interessava: o bloqueio dos bens do prefeito Manga.
“Para desviar o foco sobre a decisão judicial que bloqueou os bens do prefeito Rodrigo Manga por superfaturamento, o tal vereador propõe tosca e infantilmente a cassação do Título de Cidadão Sorocabano do Paulo Betti”, avaliou a advogada e gestora cultural, Grace Carrera.
A cantora e ativista Márcia Mah também se posicionou e classificou a sessão desta terça-feira como “um show de horror”.
Perda de tempo
Com sete projetos na pauta da sessão legislativa desta terça, os vereadores perderam tempo discutindo a cassação do Título de Cidadão de Paulo Betti e deixaram de lado as questões importantes. O projeto que garante o atendimento preferencial no PAT para mulheres vítimas de violência; a criação do Programa Rede Pet Solidário para promover o bem-estar animal e a proposta que obriga a implantação de galerias subterrâneas para fornecimento de energia elétrica e telecomunicações em condomínios sequer foram discutidos e ficaram para a próxima sessão.
Dos sete projetos, a Câmara acabou votando e aprovando apenas dois, justamente os menos importantes: mudanças na forma de arquivar o relatório do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar e a permissão para a entrega da Medalha Rui Barbosa fora da Câmara Municipal.