
Erika e Mônica: histórias paralelas de lutas e de superação, que começaram na região de Sorocaba. Fotos: Divulgação
Duas mulheres pretas, periféricas e de esquerda saíram da conservadora região de Sorocaba para entrar para a história, neste domingo, dia 2. Com carreiras políticas iniciadas em Itu, Erika Hilton é a primeira pessoa trans eleita por São Paulo para a Câmara dos Deputados, enquanto Mônica Seixas foi eleita para liderar a primeira bancada de mulheres pretas da Assembleia Legislativa do Estado. Erika e Monica, ambas do Psol, têm uma história de militância que vai multo além da região de Sorocaba. Mas foi em Itu que elas iniciaram esta história.
Nascida em Franco da Rocha, Erika Hilton se mudou com a família para Itu, aos 14 anos de idade. A família, evangélica fervorosa, não aceitava a identidade de gênero da filha e a obrigou a frequentar a igreja, para que os pastores pudessem “curá-la”, como ela mesma conta. Aos 15 anos, foi expulsa de casa e passou a morar nas ruas e a viver da prostituição. Seis anos depois, se reconciliou com a mãe e voltou a morar com a família e a estudar.
No colégio, iniciou a militância política no movimento estudantil, mas foi a transfobia, praticada por uma empresa de ônibus de Itu, que a alçou à condição de uma das lideranças nacionais do movimento LGBTQIA+. O fato ocorreu em 2015, quando a empresa em questão se recusou a imprimir o nome social feminino de Erika na passagem, conforme manda a lei.
Erika buscou seu direito e conseguiu. Passou a dar palestras e foi convidada pelo Psol para sair como candidata a vereadora em Itu em 2016. Não conseguiu se eleger, mas dois anos depois já estava na Assembleia Legislativa de São Paulo, integrando a Bancada Ativista eleita em 2018.
Em 2020, ela deixou o grupo para se candidatar a vereadora por São Paulo e foi eleita, com 50.508 votos, tornando-se a vereadora mais votada do Brasil e a primeira pessoa trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo. Agora, Erika faz história conseguindo o mesmo feito na Câmara Federal, aos 29 anos.
Mônica Seixas tem história parecida de luta e resistência. Jornalista, feminista negra e ecossocialista, ela é cofundadora do coletivo “Itu Vai Parar” e foi candidata a prefeita pelo Psol na cidade. Em 2018, foi eleita deputada estadual com uma candidatura coletiva composta por nove militantes das mais diversas áreas. Foi a primeira vez que uma candidatura coletiva foi eleita no Estado de São Paulo.
Agora, Mônica foi reeleita por uma outra candidatura coletiva, composta por sete mulheres pretas periféricas, que querem ampliar a presença na política deste grupo que mais sofre com a desigualdade do Brasil.
Derrota da direita
Além de contribuir com a história do movimento progressista no Brasil, a região de Sorocaba derrotou dois políticos conservadores nessas eleições. O deputado federal Guiga Peixoto (PSC), de Tatuí, não conseguiu se reeleger e deixará a Câmara no final do ano. Ele obteve 54.849 votos.
Outro que deixará a Câmara é o deputado federal Herculano Passos (Republicanos), ex-prefeito de Itu. Ele não se candidatou, mas apoiou sua esposa, Rita Passos (Republicanos), que obteve 57.800 de votos e não conseguiu uma vaga no Congresso Nacional. Apesar da derrota, a ex-deputada estadual foi a candidata mais votada para federal em Itu, com 16.446 votos na cidade.
Veja abaixo os deputados eleitos com base ou história na região de Sorocaba e os nomes conhecidos que foram derrotados.
DEPUTADOS ESTADUAIS ELEITOS
Monica do Movimento Pretas (Psol) – Itu
106.781 votos
Rodrigo Moraes (PL) – Itu
75.094
Edson Giriboni (União) – Itapetininga
59.087
DEPUTADOS FEDERAIS ELEITOS
Kim Kataguiri (União) – Salto
295.460
Erika Hilton (Psol) – Itu
256.903 votos
Simone Marquetto (MDB) – Itapetininga
97.730
CANDIDATOS CONHECIDOS E DERROTADOS
Guiga Peixoto (PSC), atual deputado federal por Tatuí
54.849
Rita Passos (Republicanos), ex-deputada estadual e ex-primeira-dama de Itu
57.800
Efaneu Nolasco Godinho (PSD), ex-prefeito de São Roque
22.300