
Douglas Garcia repetiu a ofensa de Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães e entrou na mira do MP e do Conselho de Ética da Alesp. (Foto: Reprodução/Twitter)
O Ministério Público de São Paulo instaurou procedimento criminal contra o deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) devido ao ataque realizado por ele contra a jornalista Vera Magalhães, durante o debate promovido pela TV Cultura, UOL e jornal Folha de S. Paulo, na noite de terça-feira, 13 (saiba mais aqui). A decisão de instaurar o procedimento foi do procurador-geral de Justiça Mario Sarubbo. Enquanto isso, na Assembleia Legislativa, cresce o movimento pela cassação do parlamentar.
Nesta quarta-feira, 14, a Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) informou em nota que o conselho de ética vai apurar as denúncias em relação a Garcia, na esteira de ao menos cinco representações já oficializadas contra ele. “A Alesp não compactua e repudia condutas ofensivas e desrespeitosas, sempre prezando pelo respeito, diálogo e tolerância entre todos”, diz a presidência da Alesp, em nota. O presidente da Casa, Carlão Pignatari, manifestou solidariedade a Vera e repudiou a atitude do colega.
Candidato a deputado federal nestas eleições, Douglas fez parte da comitiva do ex-ministro e candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) no debate para o governo do Estado de São Paulo. Ele se sentou ao lado da jornalista e, gravando com um celular, perguntou se ela recebeu dinheiro para falar mal do governo Jair Bolsonaro (PL).
Repetindo um ataque feito pelo presidente durante debate entre candidatos ao Planalto no mês passado, disse que Vera Magalhães é “uma vergonha para o jornalismo”. Vera ficou abalada, foi escoltada por seguranças na saída e disse que registraria boletim de ocorrência. “Terei de sair escoltada do Memorial da América Latina por seguranças porque fui agredida pelo deputado Douglas Garcia”, escreveu ela em rede social.
Representações na Assembleia
Os deputados petistas Emídio de Souza e Paulo Fiorilo cobraram a cassação de Garcia. Em ofício enviado ao presidente da Casa, ambos afirmaram que se trata de quebra de decoro parlamentar. O ofício de ambos afirma que a atitude do parlamentar aviltou o respeito às mulheres.
Outra representação foi apresentada pela deputada estadual Patrícia Bezerra (PSDB), que vê motivos para cassação. A deputada estadual Monica Seixas (PSOL) também entrou no Conselho de Ética com um pedido de cassação do bolsonarista. No documento, a psolista afirmou que Garcia é reincidente em episódios de violência de gênero, sendo “conhecido por atacar mulheres, sejam elas cisgênero ou transgênero”.
Há ainda uma representação contra o parlamentar assinada pela candidatura coletiva Bancada Feminista do PSOL, formada por cinco mulheres e que concorre a um mandato na Assembleia Legislativa. As autoras afirmam no pedido que a Casa precisa dar um basta à quebra de decoro e dizem que Garcia já deveria ter perdido o mandato em razão de denúncias anteriores.
Já existe um processo no conselho de ética contra Garcia, que se arrasta desde 2020, que foi movido por Monica. O relator do caso era o Delegado Olim (PP), mas, em maio, ele foi redistribuído para Wellington Moura, colega de partido de Garcia.
Abandonado pelos pares
Diante da preocupação de impacto eleitoral, aliados de Tarcísio e de Bolsonaro se mobilizaram para tentaram desvincular Douglas do candidato ao governo paulista e, contrariando alas radicais bolsonaristas, buscaram condenar a conduta do deputado.
O próprio deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente da República e que endossou outros ataques semelhantes anteriores do próprio pai, criticou publicamente a conduta de Douglas.
“Não há justificativa para provocar uma jornalista e tentar constrangê-la gratuitamente no seu local de trabalho, sem que ela tenha dado qualquer motivo para isso”, escreveu Eduardo.
“Eu telefonei e pedi desculpas por esse cara [Douglas] estar lá com uma credencial cedida pela minha campanha. Eu mal conheço, nem tenho contato com esse idiota”, afirmou Tarcísio à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
O episódio acabou reforçando a crítica de que Bolsonaro não respeita as mulheres, já que o próprio presidente atacou a mesma jornalista no debate da TV Bandeirantes, em 28 de agosto. Na ocasião, Tarcísio não saiu em defesa de Vera.
Justiça Eleitoral analisará o caso
O ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), determinou que a Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo apure o episódio em que o deputado estadual Douglas Garcia (Republicano) hostilizou a jornalista Vera Magalhães após o debate de candidatos ao governo de São Paulo.
Em um despacho assinado nesta quarta-feira (14), Moraes destacou a gravidade do incidente e enviou à vice-procuradoria-geral eleitoral um registro do episódio feito pela imprensa.
“Considerada a gravidade do ocorrido, determino o encaminhamento do referido link da matéria ao Excelentíssimo Senhor Vice-Procurador-Geral Eleitoral para que possa dar o devido encaminhamento ao Procurador Regional Eleitoral de São Paulo, com o objetivo de ser analisada eventuais providências que entender necessárias”, escreveu Moraes.
Na noite de terça (13), Douglas Garcia foi contido por seguranças ao fim do debate após partir para cima de Vera Magalhães com agressões verbais.